quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Receita para um ano bom.


Apesar da formação, exerço o hábito da receita com muita parcimônia. Por opção, falta de clientela ou, mesmo porque, como não há certeza da obediência, nem em tempo, quantidade ou duração, contento-me com o exercício do conselho. Pelo menos este aceita o disfarce de desejo ou esperança.

Esperança que domina o final de cada ano. Esperanças altruístas que incluem, quase sempre, condições nas quais temos influência limitada. Para além dos votos holísticos e grandiosos de saúde, amor, felicidade e paz a minha receita inclui situação mais mundana, nem por isso menos apreciável ou prazerosa. Uma mistura de simplicidade com satisfação. Não é uma fórmula mágica. Muito menos uma solução. Se não for seguida não acarretará revides, retaliações ou represálias. Para alguns, o ano pode ser imensamente satisfatório na sua ausência. Por isso não é condição necessária. É até dispensável.

Mas quem assumir este compromisso terá a sensação de que o ano será bom por merecimento, não apenas por circunstância. Semelhante a um pacto nupcial, a promessa em seguir a receita garante que ninguém acabará 2009 com as mãos abanando. Garantia de satisfação ou o seu ano de volta.

A receita é muito singela: compartilhe bom-humor. Não guarde apenas para si. Distribua, doe, partilhe, alugue, venda, faça leasing, aplique, plante e colha bom-humor. Não no sentido de galhofar o ano inteiro. Humor compatível com a conjuntura de todos os momentos. Bom-humor na alegria e na tristeza. Na saúde e na doença. Isso mesmo, case com o bom-humor. Todos os dias. O ano inteiro.

E quem não se achar capaz de ou interpretar que não tem bom-humor para oferecer, que busque um compartilhamento invertido – aproxime-se, envolva-se, apodere-se, usufrua do bom-humor daqueles conhecidos bem-humorados. Sem a preocupação de extinguir as reservas do alheio. Este componente é inesgotável. O bom-humor é um poço sem fundo. Sempre há mais de onde brota o tesouro. Como uma reação em cadeia, bom-humor gera bom-humor. E assim por diante.

Alguma dúvida que dará certo?
Experimente e me mande a conta.
Em bom-humor.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Homem do povo.


Algumas pessoas, mormente as que não me conhecem bem, têm a impressão que eu seja um pouco esnobe. O fato de trabalhar sempre de terno e gravata, mesmo no ambulatório do SUS, não me exaltar no trânsito, manter um tom de voz baixo em discussões, tratar todas as pessoas com igualdade – sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição (ta certo, talvez eu tenha copiado uma parte da Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas não considero plágio) podem contribuir para esta percepção. Os doze anos de escolaridade na Suíça, também.

Com a familiaridade esta impressão desaparece. Eu sou uma pessoa do povo. Até tenho gostos comuns. Como prova sincera desta questão alguns amigos procuram me incluir em programas populares. Ilustro este post com a foto da sobre-toalha, usada pelo local que o Otávio escolheu, para o almoço de sábado. Talvez um pouco brega, mas muito singelos o patinho e a caçarola. Ou como dirão os peritos de plantão – naïve ao extremo. O local era simples, mas bem limpinho.

PS: se a pretensão de entrar para a política vingar, vou programar atividades como esta com mais assiduidade. Em pouco tempo ficarei craque em comer pastel de boteco, buchada de bode ou qualquer refeição oferecida pelos eleitores e correligionários. Espero contar com a ajuda dos amigos para reforçar esta imagem positiva.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Vida comprada.

foto by dismorfic, aqui

Compra-se uma vida.

Este o anúncio que poria, se a mídia adequada existisse. Compro uma vida, e pago à vista. Os fornecedores devem se apresentar, munidos de um currículo da vida. Um pouco diferente daquele vitae, exigido para obtenção de emprego. É dispensável, neste currículo, descrever o que já foi feito. Afinal, vida passada, já a tenho. Quero currículos de vidas para o futuro. Este me preocupa. O meu já feito e o meu em feitura não permitem o vislumbre do horizonte desejado. Por isso, compro uma vida. A mais bela vida de futuro. A mais poética, a mais libertária, a mais aproveitável, a mais deliberadamentefuturista. Sem necessidade de vínculo com o que passou. Compro uma vida nova. Mesmo que o proprietário não seja novo. Compro uma vida com vista para o por vir. Nada de vidas de porão, sem luz e com dívidas, das passadas, para saldar. Quero uma vida inteiramente com face leste. Para o nascer do sol. Que lembre, a cada dia, o compromisso de ser um novo. Um novo dia, um novo ser. Dispenso vidas completamente mobiliadas ou com telefone. Dou preferência por vida de cobertura, não pela posição de superioridade, mas pela proximidade do céu. Seja lá o significado que ele tenha estou disposto a visitá-lo, num futuro. Os fornecedores não precisam preocupar-se com a entrega e o vazio da própria vida. Aceito uma vida compartilhada. Até prefiro. Não tiro nada, de ninguém. A escolhida poderá permanecer com o fornecedor. A modernidade permite apenas o fornecimento de uma senha de acesso.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Amizades, afinidades e seleção natural.


Amigo é coisa para se guardar, do lado esquerdo do peito. Assim fala a canção que se ouve na América e em outros lugares. Uma exaltação merecida à amizade. A continuidade da letra refere que tempo e distância não interferem nesta relação. Pelo menos quando ela é verdadeira. Sem crítica a qualidade da música, questiono a mensagem. A amizade descrita como uma forma de sentimento único.

Independentemente de definição ou conceito, encontráveis em dicionários, este sentimento é interpretado e vivenciado de formas diferentes pelas pessoas. Algumas até criam critérios de qualificação e estratificação para amizade, reforçando o princípio da diversidade. Amigo é aquele com quem nos preocupamos, no sentido de estar ou ficar bem. E despendemos energia para isto. Este dispêndio energético pode envolver pensamentos positivos, preces, lágrimas, presença física, transferências bancárias, viagens intergalácticas ou apenas cuidar. Não se mensura uma amizade pelo indicador de “coisas feitas para”. Assim uns são amigos de um jeito e outros de outros. Cada macaco no seu galho. Apenas o compromisso de um se importar com o outro.

Mas será que a amizade deve, sempre, ser acompanhada de reciprocidade de afeto. Com exigências de intensidade, tempo e disponibilidade eqüitativas. Será, mesmo que a amizade deve escorregar para perto da possessão? Não seria possível haver percepções distintas entre os envolvidos, sem a obrigatoriedade de uma correspondência biunívoca, válida para a teoria de conjuntos, mas distanciada das relações humanas? Fulano é amigo de beltrano se, e apenas se beltrano é amigo de fulano. Invoco a existência de uma amizade egoística. Que se basta. Sem cobranças ou reciprocidades. Sou amigo. E o outro? Não sei? Ele que reflita.

Desta forma, também acredito que o processo de amizade sofra influência da seleção natural. Existem amigos que sempre participam da vida de outros e, portanto, permanecem pela eternidade. Outros vêm com o vento e ficam enquanto dure uma afinidade. São amizades transitórias. Nem por isso menos verdadeira ou intensa - apenas com timing diferenciado. Assim são os amores, os ódios e muitos outros sentimentos humanos - uns criam raízes outros passam.

PS: se o Ian tem razão (vide comentário no blog da Lele) e filosofar é um sinal de desejo de vodka, quero a minha na veia.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Os passos do anjo.


Os passos, ninguém lhe escutava. Por isso, aquele anjo andava. Por entre os sonhos. Silencioso. Quase divino. A missão, que lhe haviam dado, era muito importante. Pelo menos foi o que lhe dissera Gabriel naquela conversa derradeira. Daquela hora em diante, e até o fim dos tempos, ele seria um guardião de sonhos. Por isso e para isso percorreria milhões de vezes o mundo. A pé. E as asas? - perguntariam os sonhadores. Essas estavam penhoradas, na agência da Caixa Econômica, numa cidade ao sul do fim do mundo. Junto com os sonhos de quando ainda era humano. O que importava mesmo era andar. Léguas, atrás dos sonhos dos outros. A misturá-los todos ou a evitar que eles deixassem de ser sonhos, movido pelo ciúme ou pelo medo de não cumprir a missão e perder a serventia. Afinal, era apenas um anjo guardador de sonhos.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Animais de estimação.

Lendo as confidências de uma amiga blogueira fiquei intrigado com a declaração de número 30 – eu tive uma galinha chamada Suzana. Não que eu ache impróprio uma galinha ter nome, ainda mais num país onde determinada música decanta as habilidades de uma galinha chamada Sara Lee, que tinha cara de babaca e botava ovo pela cloaca. A minha surpresa não se prende a questão do nome e sim ao vínculo que determinou o batismo do animal. Como na nossa cultura apenas os animais de estimação ganham nome – geralmente próprios - ou apelidos carinhosos, a Suzana deve ter sido mais que uma mera galinha.

Na minha infância tínhamos galinheiro. Na verdade, ter galinheiro era um fato comum naqueles anos. Existiam até meliantes especializados neste ramo – roubo de galinhas. Bons tempos aqueles em que os ladrões roubavam galinhas. A finalidade de termos um galinheiro nunca foi bem clara para mim, pois não me recordo de comer galinhas do nosso próprio galinheiro. Acho até que meu pai, sim ele era o mentor da criação, desenvolvia experimentos secretos com as galinhas, já que elas desapareciam ser serem enviadas para a caçarola (um termo bem apropriado para combinar com a época dos fatos). Ou então, ele as criava para ter um produto rápido de furto para os velhacos não se preocuparem com bens mais valiosos da casa. Quase como um boi de piranha. Ou quem sabe, por causa dos ovos?

Pronto, já perdi o fio. Não era de roubo, nem da inteligência paterna e nem de ovos que eu queria falar. Do que era, mesmo? Ah, das galinhas como animais de estimação. Naqueles tempos também era comum estima por galinhas. E, em casa, não éramos exceção. Cada um dos filhos (somos três) tinha um casal de galiformes. Por motivos que não vêm ao caso os casais não eram de galinhas comuns de quintal. Eram raças especiais, ou pelo menos assim eram vendidas pelo mentor intelectual da criação - Leghorne branca, Rhode Island red e Plymouth Rock barrada.

Só agora me dou conta que apesar da grande estima dedicada aos nossos galiformes eles passaram pela vida inominados. Apenas chamados de galo e galinha. Por isso a minha surpresa pelo fato da galinha da Nanda ter o nome de Suzana. Acho que eu gostaria de voltar no tempo e dar nome para o meu casal – que era o Plymouth Rock barrada, mas como o tempo não volta faço uma penitência pública e, de onde eles estiverem espero pelo perdão.

sábado, 22 de novembro de 2008

Ser mãe é....


Como a língua portuguesa é muito rica, às vezes existe uma dificuldade em conceituar adequadamente as atividades desenvolvidas em território nacional. Desta forma não compreendi bem se o curso de hoje foi para gestantes, de gestantes, por gestantes, com gestantes ou apesar de gestantes.

E sim, fiquei interessado em saber se a amiga grávida aprendeu a ser gestante. Afinal para que serve um curso, no final da gestação, senão para ensinar o que não fazer na próxima.... Não creio que o casal vá parar na Gabriela. E como a única forma conhecida de novamente gerar um serzinho é ficar gestante, espero que tenha servido para alguma coisa.

A futura parturiente sabe que no meu conceito todas as mulheres, independente da intenção, desejo ou necessidade de passarem por este período deveriam fazer não um, mas vários cursos destes. Começando logo depois da menarca – ou um pouco antes quem sabe. O próximo ao primeiro sinal de compromisso sério com qualquer moço apresentável que lembre de longe a figura de um bom pai. Em seqüência, na época de noivado (que termo mais antigo), ou melhor, ao invés do noivado. Sugiro uma grande reunião familiar, para falar sobre gestação and beyond it... Afinal este deve ser um assunto de família.

Imaginem todos os membros interessados: os noivos, os pais, o irmão mais jovem que, por enquanto, só pensa naquilo com a nova namorada, a avó meio surda que não entende porque uma reunião para discutir sobre “gastação” se nem começaram os preparativos para as festas, até aquela tia solteirona do interior que adora perguntar quando os pombinhos vão casar e ter bebês. O mais interessante do curso serão as dramatizações e performances, não obrigatoriamente realizadas somente pelos noivos. Proponho que a tia treine a respiração cachorrinho da hora do parto e o irmãozinho de o primeiro banho no nenê – com certeza ele vai ter motivos mais palpáveis para se preocupar com a situação de lidar com uma coisa molinha.

Finalmente os cursos de reciclagem pré-nupcial e a cada dois anos depois do casamento. Com direito a diploma e reconhecimento pelo Ministério da Educação. Afinal estamos na Era do Conhecimento. Nada como uma boa overdose de informações para conscientizar casais sobre a missão, visão e valores da gestação. Mesmo que ela ocorra no oitavo mês da dita cuja.


PS: e sem imaginar que a ocorrência de uma gestação elimine a necessidade da continuidade dos cursos de reciclagem. Afinal gravidez não é vacina. Não fornece proteção para a próxima gestação. E tome curso.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Detalhes são detalhes?


Uma das minhas grandes diversões em viagens é tirar fotos. Antes que alguém imagine um Cartier-Bresson, Sebastião Salgado ou Richard Avedon tenho de confessar que sou um mero lambe-lambe. Tiro fotos apenas por prazer. Com certeza acerto algumas. Sou um fotógrafo impressionista. Mais do que para um objeto em especial, a minha preocupação e foco pictórico estão voltados para luminosidades dos momentos. E como é difícil captar apenas jogos de luz, permito a inserção de coisas materiais para composição do cenário. Agora temos luminosidade em alguma coisa. Coisa esta que, do meu ponto de vista, ganhará destaque pela luz.

Bem, mas não é bem sobre as fotos que eu desejo escrever hoje. É de outro prazer relacionado com elas. Nomeá-las. Melhor seria afirmar que a atividade é – descrevê-las. Sim ao invés de simplesmente por o nome tenho - ou tinha – o hábito de escrever quase uma história lembrando detalhes e momentos da foto. Assim é que uma foto do coro da Notre Dame (ilustração deste post), numa chama criativa, se transforma em - “Detalhe do entalhe do retábulo do coro da Igreja de Notre Dame de Paris – Jesus de manto azul”.

Bastante criativo, não é mesmo? Pena que algumas forças ocultas contribuam para uma simplificação dos temas. Ou como gostam de afirmar para uma nomenclatura mais cool, intimista, clean... ou qualquer deste nomes modernos para aridez.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Poucas palavras.

França 2008
L'Indre

Ausência. Bons motivos. Saudade. Viagem. Muita felicidade.

Com poucas palavras se encerra uma pausa.
Espero estar de volta.
Vou me atualizar com as novidades de todos os amigos que tiveram uma constância maior que a minha.
E me redimir da falta que fizeram.

domingo, 31 de agosto de 2008

Sucesso tribal.

Inspirado pela lembrança afetuosa de uma amiga e, aguçado pela sensação de ter convivido toda a vida com este hit, agora muito bem adaptado às crianças, fiz uma revisão superficial sobre o tema, nada comparável às maravilhas produzidas pelo Musikal. Para não ser chato e histórico, em excesso, apresento apenas algumas pérolas obtidas neste mergulho. Maripa, este post é dedicado a você, mesmo sem ser partilhável com os netos.

A canção, originalmente intitulada Mbube (leão em dialeto zulu), foi composta e gravada em 1939, por Solomon Linda, um compositor sul-africano. Todo o sucesso musical, na época e nos anos vindouros, não impediu que ele morresse na pobreza e que sua família vivesse, até bem pouco tempo, sem nenhum direito autoral.



No início da década de 50, em plena política de boa vizinhança americana, a canção que já fazia parte do folclore africano, foi apresentada a Pete Seeger, líder do grupo americano The Weavers, que se encantou com o refrão que soava para ele como “awimbooee” ou “awimoweh”. Rebatizada e adaptada pelo grupo, alcançou enorme sucesso, nos anos seguintes, apesar de ser eminentemente instrumental com repetições exaustivas de “wimoweh” em diversos floreios vocalísticos.



Em 1961, o grupo The Tonkens, gravou uma nova versão da música, agora adaptada por Hugo Perretti e Luigi Creatore, do time de produção da RCA, que incluíram a letra conhecida nos dias atuais e passaram a chamá-la de - The Lion sleeps tonight. Como curiosidade encontra-se a indicação de que o grupo apostava no sucesso da canção folclórica portuguesa Tina, que estava no outro lado do disco (pasmem alguns leitores, mas neste tempo os discos tinham dois lados e era necessário virá-los para escutar todas as músicas).



A adaptação e americanização da canção não impediu que figuras de destaque da música africana permanecessem gravando as versões mais tradicionais da música. Como esta esplêndida gravação das Mahotella Queens.



Finalmente, fica como lembrança que esta música, numa apresentação especial de Miriam Makeba, precedeu a memorável homenagem sussurrante de Marilyn Monroe, no último aniversário do presidente John Kennedy.



Como a inspiração está transbordante, neste domingo, vejam as atualizações daqui e daqui (capítulo novo da saga).

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Enfim, já era tempo.

Caros leitores,

enfim o primeiro capítulo da saga.
O tão esperado Diário de uma Gestação está no ar.

Não aqui.
Siga direto para lá.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Hoje eu queria ver o mar.


Moro longe do mar. Em distância e em altitude. De nenhum lugar da minha cidade avista-se o mar. Mas hoje, eu queria ver o mar. Não me perguntem o motivo, pois não sei. Apenas queria ver o mar. Não pelo desconhecido e nem pelos mistérios e descobertas que ele evoca. Nem por desejar que ele me quisesse, porque sei não merecê-lo.

Queria me sentar numa pedra solitária e deixar a vista percorrer a sua imensidão azul. Ouvir o lamento das ondas e me perder no seu vai-e-vém incansável. Na verdade, hoje eu queria ser o mar. Fazer parte dele e assim estar em todos os lugares sem necessitar sair do meu lugar. Sim, eu queria me apossar do mar.

Tê-lo meu, egoistamente. Hoje eu queria.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Diário de uma gestação.

O comentarista volta à carga. Preciso urgentemente discutir com o analista uma forma de impedir que este sujeito tome conta da minha vida e me faça cometer indiscrições. Mas, enquanto não resolvo esta parada, vou aproveitando as oportunidades de uma segunda personalidade.

Considero-me uma pessoa educada, por isso evito comentar assuntos para os quais os envolvidos não deram sinais indiretos de concordância ou anuência explícita. Posso me remoer inteiro, porém a educação e o cavalheirismo, um pouco fora de moda, falam mais alto.

Nem sempre uma anuência explícita é fácil de ser obtida, então apelo para os tais sinais indiretos. Afinal, como eles são sutis e subjetivos, posso puxar a sardinha para minha brasa e interpretar um leve movimento de sobrancelhas, um espirro, um espasmo carpal, um nistagmo ou mesmo um som inferior do trato intestinal como um consentimento. Pronto, o caminho para a revelação de inconfidências está aberto.

Faz quatro longos meses que eu venho respeitando a gravidez de uma amiga. Sem nenhum comentário condizente com a minha fina ironia. E olha que situações não faltaram para sorrisos marotos ou grandes gargalhadas - começando pela situação inusitada da notícia da gravidez e culminando com as agruras conseqüentes ao embotamento cerebral gravídico. Vocês vão ver como eu tenho me comportado como um gentleman.

Agora é chegado o momento de encerrar este período de abstinência. Resolvi escrever o Diário de uma gestação. Como nem ela e nem o marido se inspiram para contar fatos interessantes sobre este momento ímpar, e já liberado por um sinal indireto, vou deitar e rolar. Aguardem e acompanhem esta mini-série (talvez não tão mini assim) no espaço ideal para versões unilaterais. Cliquem aqui.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

As tias do meu amigo e outros que tais.

Desde o princípio a promessa, de que a internet fosse o caminho para um mundo infinito de novos amigos, parecia tentadora. Leitor ávido de textos técnicos e literários, bulas, cartazes em locais públicos, anúncios fúnebres, rótulos de maionese, embalagens de outros produtos e qualquer objeto letrado, intui que a infinidade de blogs disponíveis seria o prenúncio do paraíso. Gente, quanta oportunidade para criar novos laços.

Devo confessar, no entanto, que não passo de um mísero cosmopolita com alma de caipira. Criado um círculo, me encerro em relações, no máximo, quarternárias (amigo de amigo, de amigo de amigo, com direito a mudança de gênero no meio do caminho ou a princípio) e busco constantemente por sinais de relacionamento nesta esfera limitada. Neste caso a escolha de limites é uma ação deliberada. Sem desmerecimento para todo o vasto mundão disponível na blogosfera.

Pelo menos por enquanto, as viagens restringem-se a outras épocas, lugares e pessoas com as histórias do Chili Verde, ultimamente escassas ou restritas às tias. A diversão e seriedade, disponíveis no espaço da Adriana, me encantam. Além disso, me contento em vibrar com o crescimento da Isabela, da mesma forma que me preocupo com a cirurgia da mãe da Lele. Fico emocionado com a gestação da Chris e, apesar das controvérsias internacionais em relação aos termos, me embalo na maternidade dela e na paternidade do Guilherme. Os textos e o otimismo da Nanda me fazem acreditar nas pessoas. É na alegria ou melancolia das poesias publicadas pela Ana, Andorinha, Maripa e Fátima que eu sonho com a possibilidade de um mundo melhor. Nas mensagens da Pitanga Doce, Miss Slim e Querubina eu busco o equilíbrio interior para continuar dividindo com vocês este espaço, embalado pela trilha sonora do amigão Roberto.

E me realizo neste mundinho. Depois vou buscar os mares nunca dantes navegados, além da Taprobana. Por ora fico em Passargada. Aqui sou amigo do rei.

Olhem só onde eu estou também.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Amor de rendição.

Os que me conhecem de longa data sabem que comecei a carreira literária como comentarista. Sem idéias próprias para escrever, buscava na inspiração alheia um fio condutor para os textos. Sim, amigos, eu já tive os meus momentos bíblicos – o blog era sem forma e vazio e havia trevas sobre a face do abismo... Assim como o Criador tive de construir meus céus e terra. Com o passar do tempo veio o sucesso e a imaginação fértil jamais me abandonou.

Entretanto, o fato de ter uma imaginação mais prodigiosa que o próprio ego não impede que, periodicamente, eu retorne às minhas origens. Com a grande vantagem de que agora são diversas as fontes para o plágio bem construído. Já vai longe a temporada restrita à poeira do Caminho de Santiago.

Inspirado no belo texto da amiga Adriana, que incita ao amor incondicional, eu reflito sobre o fato de amar o inimigo. Sugere a escrevente que o ato esteja associado a um grau mais elevado – aqueles que conseguem superar a inimizade e amar os que lhe causam danos situam-se numa escala espiritual superior.

A inimizade, independentemente das atitudes e conseqüências, é uma forma de relacionamento. Demonstra que os envolvidos se preocupam um com o outro. Existe vínculo entre inimigos. A existência de motivos, conscientes ou inconscientes, para perpetuar uma malquerença implica que eles podem ser trabalhados e ajudarem na reversão da situação. Nestes casos a mudança de sinal do sentimento é plausível porque já existe um sentimento. Basta que algum dos contundentes deseje e saiba conduzir o processo. Desta forma, amar o inimigo não chega a ser uma demonstração de altruísmo e sim uma manifestação de desejo. O que em nada tira o mérito da questão. Apenas demonstra que mesmo o amor incondicional pode ter motivos egoístas, com conseqüências altruístas.

Entretanto, a mensagem de que existe enorme vantagem em amar as pessoas, indistintamente, ao invés de demonstrar indiferença ou detestá-las permanece como uma meta a ser alcançada. A humanidade agradece.

Aguardo a visita de vocês aqui também.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

É pique, é pique, é pique....

A mensagem de hoje é para lembrar o aniversário de um grande amigo.

Como este não tem o hábito de se retrair com comemorações, eu acredito que devam estar planejadas, pelo menos, catorze festas ao redor do mundo, para marcar a data. Um dado curioso é que se eu acertei na quantidade de festas e, se durante todos os anos houve um número semelhante de comemorações teremos perto dos quatro dígitos de solenidades em homenagem ao garotão.

Mesmo que vocês insistam muito, não vou revelar a idade do aniversariante. Posso, no máximo, dar algumas pistas. O ano do seu nascimento foi excepcional, até hoje é considerada uma das melhores safras do Chateau Margaux. No Vaticano, o trono de São Pedro era ocupado por Pio XII. Automóveis à gasogênio ainda circulavam pelo país. O general Chiang Kai-shek não era presidente da República da China e o Brasil inteiro não havia chorado pelo gol de Gighia. Ou, como se refere um outro amigo em comum, ele nasceu antes da metade do século passado. Pelas dicas vocês podem deduzir que ele não é muito moço. Digamos que o conjunto das velas, acesso em homenagem à data de hoje, poderia caracterizar um incêndio, de pequenas proporções.

Mas mesmo velhinho ele é um cara muito legal. Bom papo, ótimo garfo, cozinheiro razoável e um ser humano incrível. Mas a grande qualidade dele é ser um grande conhecedor de música. Agora vocês já sabem de quem se trata.

Roberto, parabéns por mais esta primavera!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Com que roupa eu vou, ao samba que você me convidou.

Quem dera o problema fosse apenas escolher uma roupa, para ir ao samba. Como na música de Noel Rosa algumas dúvidas se resumem às escolhas para combinar com um evento. Quando as combinações são simples como roupa e samba, só mesmo um autor do naipe de Noel para conseguir imortalizar a dúvida.

Mas, e se a combinação for nome e uma vida inteira? Daí o bicho pega. Ainda mais quando a escolha depende de quem não vai aproveitar nem o nome e muito menos a vida inteira. Fazer escolhas pelos outros é sempre uma tarefa difícil. Por isso a escolha do nome para uma filha, ou filho, é tão complicada para os pais.

Alguns nomes agradam em cheio à mãe. Mas o pai torce o nariz. Nestes casos, os motivos, as suas fontes ou agentes não têm muita importância, a discordância é suficiente para afastar definitivamente uma combinação nome-vida inteira do seu destino. Um novo nome selará um outro destino. E, como diz a piada, agora é tarde Inês é Marta.

Uma solução para este impasse poderia ser a formulada por um grande amigo que sugere a manutenção das crianças sem antropônimo ou com uma marca fantasia, até atingirem a plena capacidade de escolha do seu próprio nome. Talvez um pouco radical, porém salomônica. Nem os pais perpetuam o dilema da escolha acertada e nem as crianças carregam um fardo pela vida inteira.

Um recurso menos radical seria um período de rodízio entre os principais nomes escolhidos, na tentativa de atingir a sensação de acerto. Em cada fase Pedro, Rodrigo, Gabriel, Leonardo, Matheus seriam testados até a escolha definitiva por Pancrácio. Sim, um nome perfeito para aquele que, se não vencer tudo, pelo mesmo conseguirá chegar ao batismo.

Se estes recursos parecem pouco originais pode-se optar pela familiar e simplória solução da sugestão de amigos e parentes. Nem sempre bem aceita pelos pais, mas com uma assertividade fenomenal. Num instante os pais decidem-se por um nome para não escutar mais as aberrações sugeridas.

Acho que vou tentar esta última saída com um casal amigo. Aguardem.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Nasce uma estrela.

Melhor seria surge uma estrela, pois ela ainda não nasceu. Influenciado pela emocionante queda das fichas, do casal do momento, vou me permitir um arroubo poético. Não, na verdade será um roubo poético mesmo.

A vantagem da poesia, diga-se da boa poesia, é que ela serve para muitas situações. Independente das reais motivações, expressas pelo poeta, as palavras assumem um sentido pessoal e, muitas vezes, adaptável às condições ou necessidades do leitor. Usa-se a poesia em proveito próprio. Desta forma apelo a um amigo português e, numa licença literária, adapto sua poesia para a conjuntura do surgimento da estrela, neste que é o primeiro texto totalmente dedicado a ela e não aos pais.

Começo a conhecer-me. Não existo.

Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida ...
Sou isso, enfim ...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato.

Álvaro de Campos

PS: a adaptação, não feita no texto, modifica a palavra quarto por “ventre”. Cai como uma luva. Esta é só para você pequena estrela.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Boas notícias.

Algumas boas notícias demoram, mas aparecem. Uma das boas mesmo, com direito a comemoração e tudo mais, foi a gravidez da amiga Chrises. Ou melhor a gravidez da amiga e do marido Guilherme, pois parece que ele já andou tendo os seus mal-estares gravídicos.

Como diz a promessa nupcial – na alegria e na tristeza, na azia, no enjôo e na náusea, também. Vamos aguardar e observar quem aumenta mais de peso e desenvolve barriga. O que nós, os amigos, esperamos é que seja uma temporada muito feliz, propícia a reflexões, animadora e, porque não, um pouco temperamental. OK, mulheres grávidas e homens grávidos têm direito a um pouco de reinação. Um pouco, eu disse.

De momento vou poupar a jovem mãe das minhas observações acerca da gestação e suas conseqüências e desejar apenas muita saúde e felicidade (para os três) e que o rebento seja mesmo um temporal do verbo amar, como diz a belíssima música em homenagem a eles.


sexta-feira, 11 de julho de 2008

Treze badaladas.

Existem relíquias que não tem preço. Quer pelo valor intrínseco do bem, quer pelo valor sentimental que elas criam. Outras têm o seu valor determinado pela raridade. De uma forma geral quanto menor o número de itens de um mesmo produto, disponíveis na natureza, maior o valor alcançado. Desta forma acredito que na casa de minha mãe tenhamos uma verdadeira fortuna na parede.

Trata-se de um relógio. A valorização presumida não se deve à antiguidade do bem em questão e nem ao fato de ter sido construído por um artesão famoso. A raridade da peça repousa nas badaladas emitidas. Todos os relógios que conheço batem as horas de acordo com a seqüência de tempo. Assim é que soam duas badaladas às duas horas, cinco badaladas às cinco horas, dez badaladas às dez horas, numa correspondência singular. Ao meio dia, doze badaladas.

Depois das doze, alguns relógios repetem novamente - uma badalada para a uma da tarde, duas para as duas horas... Outros seguem a seqüência e batem treze vezes para uma da tarde, catorze para as duas e toca o barco. Até hoje não encontrei peça que misture estes dois padrões. Exceto a relíquia da velha senhora. Este relógio segue o padrão de badaladas das horas repetidas – as duas da manhã e as duas da tarde ele bate duas vezes, as seis da manhã e as seis da tarde repete seis badaladas.

Nada de estranho, exceto pelas badaladas das treze horas, correspondente a uma hora da tarde. Neste horário e somente neste horário ele bate treze vezes. Depois bate duas vezes, três vezes e a tarde segue mansamente. A uma da manhã ele bate apenas uma vez. Todos os relojoeiros consultados não souberam informar o porquê. Já foram feitos três workshops internacionais, dois deles na Suíça e não foi encontrada explicação para o fenômeno. Talvez seja um traço de personalidade do relógio. Temperamental, não é mesmo?

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Dietas esquisitas.

Alguns amigos, que sabem da minha atividade profissional, e ainda gostam de me ver praticando a bela arte de Hipócrates solicitam que eu publique, de vez em quando, alguns temas médicos. Provavelmente para inflar o meu ego, referem que a capacidade didática de explicar alguns pormenores médicos é inigualável – ou alguma coisa parecida com isto. Posso ter exagerado um pouco na descrição, mas a mensagem é esta.

Por isso resolvi comentar sobre dietas. Obviamente para perda de peso, já que elas se revestem de uma das questões mais complicadas na endocrinologia. Não esperem dicas mágicas. Não conheço nenhuma. Por mais angustiante que possa parecer, em pleno século XXI, as regras para perder peso ainda dependem, efetivamente, de um balanço energético negativo - calorias ingeridas menor que calorias perdidas. Se o sinal se inverte, corre-se o sério risco de perpetuar o indesejável.

Com isto, continuam valendo as três regras de ouro, para emagrecer: (1) coma menos, (2) reduza a quantidade de comida e (3) retire metade da comida do prato, depois de se servir. E sem fazer escolhas. De nada adianta se livrar de um pretenso excesso de alface ou brócolis. As massas, batatas, pizzas, mandiocas, arroz e assemelhados é que devem abandonar o barco.

Como estas regrinhas nem sempre são palatáveis apela-se para promessas de dietas mágicas e fantasiosas. Algumas não permitem a mistura de sal com açúcar, outras criam um sistema rebuscado de pontos e contrapontos que, se não soluciona o problema, pelo menos transforma o vivente num expert em aritmética. Isto sem falar naquelas regidas por astros ou nas que permitem apenas a ingestão de quantidades ilimitadas de ingredientes insossos.

O rosário de dietas esquisitas não tem fim. Sempre existe um espertalhão para abusar das fragilidades daqueles que realmente necessitam reduzir o peso e lançar a mais nova esperança infundada para milhares de pessoas. Sempre com um preçinho camarada.

PS: não esqueçam de me visitar lá.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Memórias e lembranças.


Longas conversas com a velha senhora proporcionam uma infinidade de sensações agradáveis. As próprias estórias, a forma divertida de narrá-las, algumas interpretações extremamente datadas e compatíveis com o tempo de vivência e a alegria em vê-la dividir os fatos. Existem momentos em que a memória é traída e, nitidamente, resgatada pela lembrança.

A memória é uma função cognitiva complexa determinante da capacidade de armazenar e evocar informações disponíveis. Um sistema de transmissões químicas e elétricas que proporciona a retenção de dados e o resgate na hora desejada. Já a lembrança é uma forma especial de evocar fatos e recordações, modulada por sentimentos, emoções e estados de ânimo.

Devido a estas sutis diferenças, e na dependência de condições de personalidade e voluntariedade, existem pessoas com memória fabulosa e lembranças limitadas, da mesma forma que outras manifestam lembranças estupendas mesmo em condições desfavoráveis de memorização.

Independente da forma priorizada pelas pessoas, nas suas relações ao longo da vida, as duas têm um grande inimigo – o esquecimento. O aparecimento deste inimigo feroz produz estragos devastadores, com impacto semelhante, impedindo as funcionalidades da memória e a recuperação das lembranças. Cria um vazio insuportável.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

A visita da velha senhora.

Não, caros leitores, eu não pretendo concorrer com o suíço Dürrenmatt. E nem vou fazer uma versão tropical deste grande sucesso da dramaturgia mundial. A estória, que começa amanhã, e se prolonga por oito dias não terá lances de retorno à cidade decadente ou sede de vingança. Está planejada para ser uma visita alegre e descontraída. Um encontro, nada solene, entre mãe e filho. Com direito a queixas dos irmãos e tudo mais. Uma visita completa. Nos moldes tradicionais.

Aquele brotinho resolveu sair da sua toca e me visitar. O motivo é a grande comemoração natalícia do domingo. O meu aniversário. Uma das datas mais importantes no calendário nacional, quem sabe até universal. Diferente de alguns outros, eu gosto da data. Independente de comemorações e visitas senhoriais. Sem receios de ver o tempo passar, me alegro com o evento - estar contando mais um ano.

Os amigos que quiserem podem deixar os parabéns, desde hoje. Serão muito bem-vindos. Ou aguardem o texto específico do dia com direito a elogios rasgados da minha parte e espero que da de vocês, também.

Mas vamos deixar as solenidades para o dia. Por enquanto vou curtir a visita da velha senhora.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Perdição.


Na alma que não sente,
o sentimento transforma a dor.
No peito de quem não sofre,
inunda a mente o amor.

Transponho a memória,
e me perco na lembrança.
Clamo, sem esperança,
por mero rastro de glória.

Afasta-te perdição.
Deixa-me ser eu.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

O santinho querido.

Hoje é dia de Santo Antônio. Aquele que arranja marido, dirão em coro as moças solteiras. E uma boa parte das não solteiras também. Sinal dos tempos. Mesmo sem o consentimento da Igreja Católica, as legalmente separadas, as simplesmente abandonadas e as que buscam um outro companheiro, aderiram ao apelo para o santinho. Como não tenho evidências favoráveis ou contrárias de que o fato (conseguir par) seja conseqüência do ato (apelar ao santo), evito discorrer sobre a eficácia das ações do Antônio.

Independente dos motivos que levaram as pessoas a considerar este personagem como protetor das casadoiras, eu devo afirmar que algumas das formas de apelo ao santo, descritas ou passadas oralmente de geração em geração, são extremamente contraditórias, politicamente incorretas ou simplesmente hilárias. Nada mais contrário à preservação ambiental do que o estímulo ao esfaqueamento de bananeiras, na calada da noite.

A indicação de abrir a porta da frente da casa para que Santo Antônio permita a entrada de alguém especial em sua vida, dizendo - “Santo Antônio, protetor dos enamorados, faça chegar até mim àquele que anda sozinho e que em minha companhia será feliz” – possibilita o aparecimento de oportunistas e compromete a segurança das solicitantes. Impensável nos dias de hoje, mesmo em condomínios fechados.

Vejam o primor desta simpatia para ser pedida em casamento - pegue uma fita vermelha e use no sutiã, entre os seios, por sete dias. Após este prazo, coloque dentro de um envelope, lacre e deixe no altar de Santo Antônio. Reze ao santo pedindo que realize seu desejo. Depois, acenda uma vela de sete dias. Diferente de outras simpatias que determinam a escolha do nome dos prováveis candidatos, esta é anônima e permite uma variada gama de possibilidades. Portanto, não estranhe se um desconhecido lhe oferecer flores, mesmo sem usar aquele desodorante da propaganda.

Finalmente uma divertida receita de banho de atração, para ser aplicado em qualquer horário do dia. Apesar de estar descrita em um site com simpatias de Santo Antônio não há referência ao santo, em nenhum momento. Inclui a fervura de um litro de água com sete pétalas de rosas vermelhas (símbolo da paixão), sete gotas de óleo essencial de sândalo (afrodisíaco), sete cravos da Índia (afrodisíaco) e sete pitadas de coentro (afrodisíaco). Coar e jogar do pescoço para baixo após o banho.

Com tanto afrodisíaco eu fico com pena do primeiro ser de calças compridas que aparecer na frente da vivente. Sacramentado o estrago, a própria vai ser obrigada a casar com o coitadinho. Mais um ponto para a fama de casamenteiro do santo, mesmo por vias tortas.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

A triste sina dos super-heróis.

Na infância não me recordo de querer ser um super-herói. Lógico que gostava das histórias e vibrava com o Capitão Marvel, Super-Homem, Homem-Submarino, Flash Gordon e tantos outros. Ao que me refiro é imaginar ou brincar de ser super-herói – estar na pele dos disponíveis ou dar asas a imaginação e se passar por um novo super-herói.

Agora que já não sou mais uma criança, fico pensando nas conseqüências que o tempo traria para estas criaturas. Não sei se faz parte da constituição dos super-heróis a longevidade e juventude eternas. Se não fizer, deve ser deprimente a manutenção de super-poderes em seres envelhecidos ou com saúde deteriorada.

Imaginem o Flash Gordon, ainda com a capacidade de tele-transporte e com Alzheimer. Se controlar o desaparecimento de idosos sem lembrança, nas vizinhanças, já é difícil o que se dirá de um desaparecimento no espaço. Procurar em milhares de asteróides, planetas e sóis sem nem ao menos desconfiar em qual deles o vovô Gordon, agora já não tão Flash, resolveu passear.

Isso sem falar nas dificuldades ecológicas decorrente das poderosas mudanças de ambiente. Nestes dias de superaquecimento o coitado do Iceman não duraria muito. Se nem os glaciares estão resistindo, imaginem uma pequena geleira ambulante. Logo, logo ele estaria derretido, escorrendo pelo bueiro. Ou quem sabe, dependendo do local onde o fato ocorresse e devido a escassez de água, ele seria sorvido de um gole só pelas crianças da Somália. Pelo menos seria um fim utilitarista e nobre.

E o pobre do Homem-Submarino passar pelo vexame de contaminar o mar, devido à incontinência urinária pós-cirurgia de próstata. E a Mulher-Maravilha peregrinando de consultório em consultório suplicando por uma dose extra de botox ou por um peeling adicional, na tentativa de manter a formosura de outros tempos.

É se para nós, reles mortais e humanos, o tempo é implacável imaginem o que ele não faria com as qualidades e habilidades dos Superes. Nesta hora é que vejo como é bom sem uma pessoa normal.

Foto: retirada de
www.humorbabaca.com.br

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Instantâneos paulistanos (4).

Ainda sobre engarrafamentos. A observação das atividades das pessoas durante os engarrafamentos, em São Paulo, renderia uma série de trabalhos sociológicos de qualidade. Hoje pela manhã tive a oportunidade de presenciar uma cena cuja ocorrência seria impensável há dez ou mais anos atrás.

Num momento de lentidão maior do trânsito observei que o rapaz, no carro ao lado, realizava procedimentos de toucador, explicitamente. Com o auxílio do espelho do carro e uma escova ele fazia um penteado. Não uma simples escovação de cabelo, com o intuito de ajeitá-lo. No lugar deste ato prosaico, tive a oportunidade de assistir a uma refinada montagem do topete, com direito a elaborados floreios da escova, quase como os movimentos da raquete de tênis para desferir golpes certeiros na bola. Numa lenta e descarada demonstração de vaidade o topete foi feito e refeito diversas vezes até completar a obra-prima, sob os olhares atentos da multidão no trânsito.

Sem ferir a virilidade do moço, que a meu ver não ficou comprometida em nada, imaginei a cena seguinte com direito a retirada de sobrancelha e uso de protetor labial. Sem o menor constrangimento. Depois de pronto, à luta. Com certeza o dia seria mais feliz com os retoques na aparência.

Sinal dos tempos.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Cadê o post daqui?

Cadê o post daqui?

O gato comeu. Cadê o gato?

Fugiu para o Uma parte da coisa.


terça-feira, 3 de junho de 2008

Ausência.

Por motivos alheios à vontade, o amigo Otavio andava sumido. Havia abandonado até a nobre tarefa de comentarista. Hoje ele resolveu voltar à atividade, timidamente, comentando os posts dos amigos. Apesar de já ser um alento, tenho certeza que os seus escritos estão fazendo falta.

De alguma maneira me sinto na obrigação de estimular o retorno pleno. Mas de que modo atingir este intento. Resgatar a campanha do PI, agora na versão PO? Dar asas a criatividade e misturar paisagens européias com cantinhos regionais? Qual a melhor maneira de trazer de volta o escrevente?

Quem sabe um estímulo caseiro não desperta a veia criativa do moço. Libertar a imaginação e se perder pelas ruas do Marais, resgatar o gosto dos cafés em Saint Germain, as caminhadas a gauche e a droit do Sena, o por do sol nas Tuileries... Nada como doces lembranças para dar novas forças.

Agora, vamos aguardar. Nem que seja sentado.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Licenças literárias.

Escrever não é fácil. É muito bom, mas fácil não posso dizer que seja. Ás vezes - em alguns casos, muitas vezes - o pensamento não segue um caminho linear e contínuo em direção ao texto. Ele teima em dar voltas, move-se para um lado, para o outro, recolhe-se, envergonhado, para algum canto do cérebro e, finalmente, aparece travestido como uma figura de linguagem.

Figura de linguagem - pelo menos este era o nome atribuído àquelas confusões da escrita que detinham o poder de mudar todo o sentido das palavras e frases com a função de tornar um texto mais erudito, agradável ou brilhante. Isto quando o escrevente tinha o domínio da figura, do estilo e das suas combinações. Senão ficava parecendo conversa de doidos.

Com o passar do tempo, sob a denominação genérica de licenças literárias, houve uma misturança generalizada das figuras formais de linguagem e aportamos num vale tudo de dar dó. Imaginem uma hipálage eufêmica sarcástica com aparência de hipérbato mesclada com epizêuxis.

Recentemente, em textos disponíveis na internet, tive a oportunidade de apreciar duas pérolas, frutos desta licença literária. A primeira em um site culinário, que descreve uma receita, poéticamente denominada de Reine de Sabá. Sem pressa caros leitores, a licença não está ligada ao nome do prato. Depois da descrição formal dos ingredientes e do modo de fazer, o autor culmina com a descrição da apresentação do prato, Deste modo - deixe secar o glacê e cubra com violetas cristalizadas, amêndoas, nozes, damasco cortado em lascas, para ficar como um chão de um bosque no outono. É brincadeira.

A segunda foi num site jornalístico, de uma conhecida senhora gaúcha, a qual dissertava sobre a delicada simbologia das flores até sair com esta frase lapidar - Afrodite, a deusa do amor, zela pelas flores, entre as quais a rosa é o símbolo absoluto do amor, reproduzindo em suas pétalas a maciez da carne de uma mulher jovem. Neste momento caiu a ficha do porque as rosas colombianas são tão volumosas, deve ser para transmitir a maciez da pele das jovens rechonchudas.

Ora vejam, licenças literárias ou exageros descabidos?

Que cada um crie o seu juízo ou escolha a sua posição.

sábado, 31 de maio de 2008

Títulos e sensações.

Wanderer above the Sea of Fog, 1818
Caspar David Friedrich
Não sei o motivo, mas hoje acordei com o nome de um romancista gaúcho na cabeça. Josué Guimarães. Não foi nenhum fato real que me aguçou a memória, visto que já faz mais de vinte anos que ele não está entre nós. O que é uma pena. Tenho boa lembrança dos seus escritos. Mesmo depois do desastre da transposição para o cinema do seu épico A Ferro e Fogo. A coitada da Jacobina Mentz deve estar até agora se revirando na cova.

Acho que foi a nostalgia dos nomes dos seus romances que me fizeram lembrar do autor. Independente da qualidade da obra, as escolhas dos títulos foram muito felizes. Transmitem, até hoje, mesmo sem lembrar de detalhes as sensações do enredo, das personagens e da ambientação.

É tarde para saber, romance político quase um clichê entre seres de mundos diferentes que não dispõe de todo o tempo para aproveitar os acontecimentos – se alguma coisa poderia ser diferente, é tarde para saber. Enquanto a noite não chega apresenta a longa espera do casal de velhos pelo filho que se perdeu na guerra. Os momentos passam recordando o que já foi e esperando pelo que virá. A falta de alento e futuro é algo tão palpável e certo como a noite que chega. Depois do último trem narra as desventuras do retorno de Eduardo para a sua terra condenada – entre destroços humanos e casas abandonadas ele espera pelo último trem, que há muito já partiu.

Nesta melancólica tarde vou viajar com estas sensações... para um tempo que passou, para um lugar que não tem futuro e para a saudade dos que já se foram. Doces memórias me embalem...

PS: procurando uma bela poesia? clique aqui

domingo, 25 de maio de 2008

Estou ficando preocupado.

Uma boa parte dos spams que chegam a minha caixa de mensagens contém textos com indicações para aumento de pênis, técnicas contra ejaculação precoce ou medicamentos para impotência a preço de custo.

Será que só eu não me dei conta que sou um pobre impotente, apressado e diminuto?

Mas, segundo eles, tudo tem solução.

Tomara!

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Grandes alegrias.

O homem foi feito para ter grandes alegrias. No processo criador, a escolha foi determinante - a criatura estava predestinada a ter alegrias. Na sua fase inicial, os representantes enfastiaram-se com as facilidades disponíveis e, num ato desvairado, determinaram que, nas futuras gerações, as alegrias deveriam ser conquistadas.

E, assim foi. As alegrias deixaram de ser naturais. Nem sempre preparados, os descendentes tiveram de criar um sistema de associação de situações boas com alegrias. Da mesma forma, em outras circunstâncias, a não ocorrência de infelicidades passou a determinar júbilo e regozijo. Com o passar do tempo, a humanidade estabeleceu os seus parâmetros para o ato de alegrar-se. Obviamente com adaptações individuais.

Indevidamente, a evolução criou uma relação diretamente proporcional entre fatos e alegria. Fatos corriqueiros ou básicos = pequenas alegrias e fatos complexos e inusitados = grandes alegrias. O egoísmo também se apoderou desta condição e determinou que quanto mais próxima e relacionada à fonte, maior a alegria. Por isso desaprendemos de nos alegrar com as pequenas situações alheias. O que é uma pena. Algo deve ser feito para resgatar a predestinação às grandes alegrias, recuperando a independência da grandeza dos fatos ou da participação própria.

Boas notícias determinam uma enorme alegria. Mesmo quando não dizem respeito diretamente à gente. Uma boa nova, para as pessoas que a gente gosta, é fonte indiscutível de alegria. Gera um sorriso persistente e, aguça a sensibilidade para as outras alegrias. Uma verdadeira roda-viva de alegrias - pelo dia ensolarado, pela preguiça do feriado, pelas crianças correndo no parque... e, pelos pais abobalhados correndo atrás, como se só isto importasse naquele momento.

Quanta alegria...

terça-feira, 20 de maio de 2008

O encontro das vírgulas.

Na dependência da gramática elas nunca se encontram. As regras são bem claras. Neste caso não há exceção. Sem permissão para as vírgulas estarem juntas. Elas não entendem porque só para elas a proibição. Ao ponto e a vírgula é permitida a convivência. Porque elas não podem? Não deve ser uma questão homofóbica ou puritanismo. Visto que as aspas vivem juntas. Os dois pontos também. Isto sem contar as reticências, que têm liberdade para viverem em grupo, mais de duas e bem juntinhas. Diferentes dos parênteses que, apesar da duplicidade implícita, vivem separados pelas regras sociais, ou melhor, ortográficas.

O motivo dever ser operacional. Algo relacionado à função da vírgula. Responsável pela pausa breve na leitura, o encontro de vírgulas proporcionaria uma pausa mais do que breve. Algo parecido com uma pausa longa. E causaria ciúmes no ponto ou no ponto-e-vírgula. Sem contar a sensação estranha que duas vírgulas provocariam nos leitores – uma espécie de aspas decaídas.

Não definitivamente elas não foram feitas para viverem juntas. Uma pena, mas a combinação impossível.

domingo, 18 de maio de 2008

Figurinha carimbada.

A Chris lembrou, hoje, das figurinhas do chiclete de bola Ping-Pong ou Ploc, que apresentavam combinações de animais, formando uma nova espécie. Na maioria das vezes as novas criaturas eram apenas divertidas. Em outras, eram muito interessantes.

Na mesma linha ela evoca que o comentário de uma amiga levou-a a formar a imagem de uma figura, carinhosamente apelidada de ODILELÊ, composta, essencialmente, da junção de duas figuras interessantíssimas (ok, esta última parte foi um acréscimo de autor). À parte a bela homenagem, ficou faltando mostrar a representação desta figurinha carimbada.

Por isso resolvi satisfazer a curiosidade do mundo. Por favor, senhoras e senhores, retirem da sala as crianças menores e os idosos, pois a revelação pode ser chocante. Não nos responsabilizamos por transtornos causados às pessoas psicologicamente despreparadas.

Distinto público, da imaginação da Chris, diretamente para a blogosfera – o verdadeiro e único ODILELÊ.


PS: este ângulo ficou particularmente bonito, evidenciando que os materiais individuais são estupendos. Substancialmente melhores que a composição.

sábado, 17 de maio de 2008

Eu, sogra.

Como escrevi no post do Dia das Mães, a maternidade também pode ser privilégio de homens. Nada de especial ou diferente das mães verdadeiras. Apenas em outra roupagem. Com méritos iguais e .... defeitos iguais. Pelas condições involuntárias e por escolha pessoal sou um destes homens-mãe. Com muito orgulho. Quanto as desvantagens deste fato, perguntem aos amados rebentos. Nada a declarar.

Só que, agora , me dei conta que esta condição pode ter um agravante. Ao assumir o status de mãe será que ganharei também o ônus de ser sogra? E, se assim for – será que é muito ruim ser sogra. Fico imaginando que tipo de sogra eu seria. Mas este papo é para outra hora. Tenho de elaborar esta questão. No momento estou apenas chocado.

Eu, sogra?

terça-feira, 13 de maio de 2008

Voltar para o ninho.

Dubonnet 1938 Hispano-Suiza

Além das vantagens emocionais de estar filho, o retorno aos pagos tem outros benefícios incalculáveis. A busca da fonte de sapiência materna é uma delas. Com isso volto engrandecido por questões culturais, nem sempre novas mas com uma aplicabilidade inquestionável. Onde mais eu escutaria pérolas como estas:

- o restaurante Calamares ficava vis-avis com a casa da Sofia (a relação vis-avis é muito mais específica do que estar próximo, perto, ao lado. A transposição para relacionamento humano cria um patamar intermediário entre o ficar e a paixão – estar vis-a-vis denota necessidade de proximidade sem intromissão melosa),

- a faca que tu estas usando foi do avô da minha mãe (ensinando que os objetos cortantes para o pão já faziam parte da rotina na era paleozóica inferior. Somando o tempo de todos os envolvidos chegamos a períodos AC);

- o máximo que um cachorro pode fazer é morder o dono, o que caracteriza um dano físico, muito menos importante do que a dor na alma de alguém que convive com um filho drogado (referindo-se ä relação das pessoas entre si e com os animais de estimação, com vantagem nítida para os pets);

- o negócio deles estava muito próspero, até para o estrangeiro eles estavam vendendo (quem mais se refere às exportações, tão admiradas pelo nosso mandatário, como vendas ao estrangeiro, impagável).

Sem contar as inumeras estórias com escroques internacionais que dirigiam Hispano-Suiza e compareciam às festas do Porfírio Rubirosa. Uma viagem incrível.

domingo, 11 de maio de 2008

Dia das mães.


Hoje é um dia especial, para muitas pessoas. Independente de ser alegre ou não. É o dia das Mães. Como a homenagem não é apenas para aquelas que pariram – senão seria o dia das parideiras, as festividades são mais amplas.

Ser ou estar mãe é um estado de espírito e não uma situação meramente conceitual. Para ser mãe basta querer e se sentir mãe. Nada a ver com questões de procriação. Há mães que nunca ficaram grávidas. Outras que, apesar da manifestação biológica, não desenvolveram esta capacidade. Ficaram em outro patamar. Ser mãe é mais do que posse ou dedicação. É a satisfação de participar do processo criativo, desinteressadamente.

Há homens que são mães. E. com desempenho muito satisfatório. Nada mais saudável do que acrescentar ao perfil masculino uma pitada de maternidade. Engrandece, enobrece e estimula. O mistério dos 3 Es não deve ser um privilégio feminino. A humanidade deveria fomentar o sentimento maternal. Estaríamos bem melhor.

Parabéns a todos pelo Dia das Mães.

sábado, 10 de maio de 2008

Alento para as gulosas?

Apesar da presença de gordura subcutânea, logo abaixo da pele das nádegas, reduzir o risco de diabetes tipo 2, segundo estudo recentemente publicado por especialistas da Harvard Medical School, tenho certeza que a parte meramente estética falará mais alto. E, milhares de beneficiadas procurarão os cirurgiões plásticos para eliminar esta fonte de proteção.

Até agora o sucesso das experiências, em ratos, mostra que a gordura subcutânea tem um efeito protetor nos níveis de açúcar e melhora a resposta à insulina. O que, francamente, não quer dizer muita coisa para uma jovem senhora que se encontre com visual semelhante ao de uma musa do Botero. O que vale mais – uma coisa boa contra o diabetes ou um corpinho de modelo?

Não se pode esquecer que o estudo não demonstrou qualquer prejuízo com a ausência de gordura. Deste modo, gulosas de plantão acautelai-vos! O Ministério da Saúde adverte – a gordura subcutânea nas nádegas pode causar danos. Psicológicos ou no bolso. Não se deve esquecer que tudo na vida tem o seu lado negativo, promessa de pessimista.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Antiguidades.

Qual o tempo que um objeto precisa para se tornar uma antiguidade? E aumentar o seu valor? Saibam os maldosos de plantão que não tenho nenhum interesse pessoal na questão. Mesmo porque é sabido que os objetos sexuais perdem o seu valor com o passar do tempo. Então, pessoalmente, me lixo para o tempo. Ele que passe como quiser.

Voltando ao problema inicial. Assim como os seres vivos, os objetos também têm o seu ciclo de vida. Exceto aqueles consumidos integralmente em um determinado momento ou com durabilidade limitada. A data de validade é determinante. Bem, os outros cacarecos sofrem de uma transformação estupenda quando chegam ao limite da passagem de idade – de velharia a antiguidade.

Tenho uma travessa Goyana azul cobalto que me acompanha deste Porto Alegre. Do ponto de vista estético ela é muito feia. Vale pela sua utilidade – saladeira, guarda-sobras, tigela de mantimentos e várias outras funções. Apesar da funcionalidade e do vínculo afetivo o seu valor não passa de míseros reais. A não ser que o tempo decorrido a classifique como antiguidade.

Acho que vou procurar um antiquário e fazer uma avaliação da travessa. Posso ter uma surpresa e custear a minha próxima temporada parisiense com o fruto da transação. Isso se tiver coragem de me desfazer desta verdadeira relíquia. Só de pensar me vem água aos olhos. Pensando bem acho que a casa merece uma antiguidade a mais. Afinal, já tem algumas velharias permanentes, mesmo. Mais uma menos uma, que mal faz.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Pessoas e laços.


Eu gosto das pessoas. Assim sem compromisso ou relacionamento afetivo. Em caráter plural e singular. Com isto gosto da humanidade do mesmo modo com que gosto da vendedora de flores da esquina ou do motorista de táxi ou da velha que atravessa a rua. Dos que são amigos e dos que ainda não se tornaram.

Alegra-me encontrar pessoas, sorrir para elas. Cumprimentá-las e olhar dentro dos seus olhos. Sem tentar me apoderar das suas mentes ou com interesses secundários nos seus corpos. Gosto de apreciar o que elas têm de bonito e descobrir as partes feias. O encantamento é semelhante, visto que desinteressado o feio traz euforia tanto como o belo.

Gosto da vida das pessoas. Do passado, do presente e do futuro delas. E, principalmente gosto de saber sobre estes tempos. Poderia passar horas a escutá-las, em silêncio. Ou quase isso. Quem me conhece sabe que eu adoro um comentário, aparte, adendo ou retruque. Sem falar nas simples perguntas de estímulo, que ao final são estimulantes para mim.

Gosto até das pessoas que não gostam delas mesmas. Com maior relutância, mas com interesse semelhante. Vale a pena gostar das pessoas. Com equilíbrio e com gosto espontâneo e verdadeiro. E, assim vamos criando laços.

sábado, 3 de maio de 2008

Bem-aventuranças (2).


Bem-aventuradas aquelas que conseguem fazer um crumble de maçã, sem ligar para Laila, pois elas alcançarão a misericórdia.

Bem-aventuranças (1).


Bem-aventurados os que têm apenas lata de arenque ao molho de páprica picante na despensa, porque eles serão saciados.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

O que diz o vento.

A vida inteira quisera saber o que o vento dizia. A natureza lhe havia privado deste dom. O som era completamente vazio, para ela. Do vento, apenas uma brisa era sentida. E a manutenção da sensação tátil não lhe servia de consolo. Na verdade era uma forma ingrata de lhe mostrar a outra limitação. Imaginava, sonhava, mas não ouvia.

O amor trouxe a remissão na pessoa do outro. Acaso não era só isso o amor. A realização da pessoa, no outro. Os desejos transferidos e, por isso, realizados. O gosto e o desgosto compartilhados. Por ele soube como eram os sussurros, os cantos, as reticências e os poemas que só o vento sabe trazer. De onde, ninguém nunca soube. Mesmo assim não era real. Não era o seu vento.

Agora, já no apagar das luzes, ela escrevia as últimas vontades. Na verdade a última. Uma única só. Que as suas cinzas fossem jogadas ao vento, num dia de tormenta. Talvez, assim, liberta das limitações naturais, possa, finalmente, ouvir o vento. E esperar, ardentemente, que o seu vento não seja mudo.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Eu não engoli a dica.

A modernidade é uma das coisas mais fascinantes dos dias atuais. Hoje é possível reservar ingressos para os principais acontecimentos mundiais com apenas alguns cliques. Com boa vontade e interesse se descobre fatos da vida de qualquer pessoa, desde que ela seja famosa. Às vezes, mesmo sem buscas intensivas, depara-se com terapias alternativas para solidão, aplicáveis, em princípio, à jogadores de futebol. Enfim, o mundo está ao alcance dos nossos dedos.

Como sou um curioso por natureza, sempre fico atento às dicas dos amigos. Com este espírito e com uma ansiedade quase infantil busquei refúgio num site indicado pela Chrises – o cookthink.com. A promessa era de que bastava inserir nomes de ingredientes ou alguma inspiração de cozinha ou mesmo um estado de humor e as sugestões apareceriam como num passe de mágica. Enfeitadas por fotos deslumbrantes. Acho que exagerei um pouco, as fotos seriam lindas.

Nesta amanhã cinzenta do feriado trabalhista, com a geladeira abarrotada de víveres a serem aproveitados, resgatei a indicação e lá fui. Quanta desilusão. Não sei se foi por incompetência, mas não consegui absolutamente nada. E olha que segui às instruções, direitinho. O site é bem amigável. Na aparência. No fundo é um anglólatra, desmedidamente egocêntrico.

Primeiro tentei com os ingredientes. Digitei carne de sol + macaxeira + pupunha. Ele me retornou flourless chocolate cake. Confesso que não consegui encontrar nenhum dos meus ingredientes na receita apresentada. Imediatamente pensei – sua besta estes ingredientes são de cozinha regional. Tente algo mais internacional. Mesmo sem ter uma Madonna na geladeira. Recordando da receita compartilhada com o catalão inclui cajá + tartaruga. Apesar do retorno de uma receita indicada como do Brasil, não obtive o que desejava.

Será que estava fazendo algo errado? Passei para os dishes. Tentei coisas simples, como frigideira de pitu, e sofisticadas como taiollete de paca rubra. Sem resultados. Já um pouco desestimulado procurei apelar para os estados de humor. Tentei sucessivamente ciclotimia, dispareunia, transtornos dissociativos, hiperfagia, bulimia. Nada. Confesso que nem pesquisei transtornos comportamentais devidos ao uso de solventes voláteis.

Depois de várias tentativas fui me dar conta – será que o desempenho dele seria melhor com o uso de termos na língua inglesa? Porém o encanto já havia desaparecido. Talvez em outro feriado.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Novidades interessantes.

Passeando hoje pela internet deparei com diversas situações interessantes. Desde baixarias ronaldianas, indicação do Brasil no grau de investimentos e, principalmente os blogs de amigos. Um local, em especial, me chamou atenção pela qualidade do texto. Se você quiser conferir, clique aqui.

Desafio dos sonhos.

Ao contrário de alguns seres que não sonham ou não se recordam deles eu sou onírico por natureza. Movido a sonhos, mesmo. Por isso o prazer de responder ao desafio da Querubina.

1. Sonho com um corpinho... só se virasse dois, daí sim dois corpinhos;

2. Sonho com uma viagem... que dure para sempre;

3. Sonho com um príncipe... verdadeiro que tenha uma irmã, muito rica, de meia idade e interessada em médico sul-americano para fim de matrimônio, tô feito;

4. Sonho com uma família... ou a continuidade, agora netos e bisnetos;

5. Sonho com uma festa... um garden-party bem chique com seleção de mesas e arranjos by Chrises;

6. Sonho com uma grana... pode ser pouca coisa, só para bancar os meus luxos;

7. Sonho em fazer amor... sonho cada vez mais;

8. Sonho com um Portugal... só com pessoas agradáveis como as que conheci na blogosfera;

9. Sonho em ajudar... o Alckmin a se tornar prefeito, sem mim ela não vai conseguir;

10. O sonho mais maluco que já tive... sonhei com um mundo sem guerras.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Trava-línguas.

Tarde de aula. Quase duas horas de fala ininterrupta. Apesar da fluência e treino da dicção, ao final, algumas palavras saem com certa dificuldade. Nesta hora vale apelar para algum trava-língua conhecido e, se conseguir findar a tarefa, seguir adiante.

Vocês lembram de trava-línguas?

O trava-línguas é um conjunto de palavras, formando uma sentença com dificuldade de articulação devido à presença de sons que exijam movimentos seguidos da língua. São uma boa forma de diversão e disputa entre amigos. Quando pronunciados de forma rápida e repetida (pelo menso três vezes) casusam situações embaraçosas, provocando risos.

Podem ser formados por diversas repetições fonéticas, mas as mais características e freqüentes incluem as combinações tre, ti, pre, pe e outras. Para diversão dos amigos indico alguns trava-línguas folclóricos. Tentem o exercício completo – rapidez e repetição.


o mameluco melancólico meditava e a megera megalocéfala, macabra e maquiavélica mastigava mostarda na maloca miasmática.

atrás da pia tem um prato, um pinto e um gato. Pinga a pia, apara o prato, pia o pinto e mia o gato.

o peito do pé de Pedro é preto. Quem disser que não é preto o peito do pé de Pedro, tem o peito do pé mais preto do que o peito do pé de Pedro.

Quico quer caqui. Que caqui que o Quico quer? O Quico quer qualquer caqui.

o rato roer roía e, a Rosa Rita Ramalho, do rato a roer se ria!

esta burra torta trota. Trota, trota, a burra torta. Trinca a murta, a murta brota. Brota a murta ao pé da porta.

a aglomeração na gleba glacial glosava a inglesa glamourosa que glissava com o gladiador glutão.

a hidra, a driáde, e o dragão, ladrões do dromedário do druida foram apedrejados.


Se estes não trouxeram a diversão desejada, utilizem os meus preferidos:

cozinheiro cochichou que havia cozido chuchu chocho num tacho sujo.

chega de cheiro de cera suja.

sábado, 26 de abril de 2008

Reclame + ação = Reclamação.




Já sem armas para convencer um amigo desaparecido a, pelo menos, participar como comentarista – função muito nobre que me apresentou à blogosfera – tento a sedução profissional. Talvez raízes propagandísticas falem mais alto e despertem o moço.

Fora este motivo prosaico, a postagem da peça acima se deve ao seu primor ou, parodiando a cara-metade do ausente... à sua delicadeza. Algumas passagens são encantadoras:

a informação de que a margarina está agora também em pote plástico - os moderninhos têm a mínima noção de qual era a outra apresentação?

a entonação da narrativa da escola técnica lembra o padrão radiofônico da época que igualava desde partidas de futebol até concursos de miss, a imagem era um mero detalhe;

a paixão pelos polímeros sintéticos era tanta nesta época que até o Rei do Futebol foi abduzido a fazer reclame de uma bola plástica, alguém se recorda do slogan da ATMA ou do que era a empresa?

você ficaria seduzido por um automóvel com suspensão aero-estável e vedação completa do motor, ainda mais fabricado pela Willys Overland do Brasil? Este era o Renault Dauphine, com design moderníssimo e onde as pessoas elegantes passeavam em roupas sociais;

atentem para a instrução de como dissolver o sabão Andy e o salto do calçado que a senhora está usando para limpar o banheiro. Dois outros detalhes: as crianças devem ter sujado muito o banheiro pela diferença de cor entre as partes suja e limpa ao final do comercial e que torneira elegante para um banheiro social;

agora o anúncio do talco Gessy é o mais característico – a apresentação da dona de casa após a manhã trabalhosa e cheia de afazeres com o coque rosca impecável, o salto do calçado próprio para tarefas domésticas, o avental, a mesa auxiliar (um pouco em desuso nos dias de hoje) e, finalmente, a satisfação íntima proporcionada pelo envolvimento do corpo com a refrescância do delicado talco em questão.

Ideal para ser apreciado no final de uma tarde envolvente, como a de hoje.

Aproveitem bem!