segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Balanço de fim de ano.

Em todas as atividades humanas os períodos de encerramento de ciclos são acompanhados de um exercício de avaliação dos acontecimentos. Os balanços, financeiros ou pessoais, têm um sentido de prestação de contas – aonde se chegou e se o prometido foi cumprido. Outros consideram uma mera forma de olhar para trás e verificar o que evoluiu. Lembrar as coisas boas, as não tão boas e mesmo as ruins.

Este vai ser um balanço curtinho e egocêntrico. Vai tratar dos meus fatos e não um balanço do ano para o mundo todo. Os acontecimentos ruins ou menos bons não merecem um destaque. Por isso fico com os eventos bons. E, de todos eles, sim foram vários, saliento um – a criação do blog. Por diversas razões, algumas elaboradas outras apenas emocionais este fato foi marcante. Principalmente porque permitiu um relacionamento com diversos amigos novos e estreitar os laços com os antigos. Mais do que um evento tornou-se um símbolo.

Resumindo, o ano de 2007 foi muito bom.

E o desejo é que 2008 seja ainda melhor.
O ANO como escreveu a amiga Adriana.

Para todos nós.

sábado, 29 de dezembro de 2007

Receita para ressaca.

A tolerância social com a bebida não tem limites. Neste período de festas natalinas e novoaninas (será que existe esta palavra?) pululam reportagens sobre como evitar os males decorrentes do excesso de ingestão de álcool, a popular ressaca. Como se a beberagem fosse quase uma obrigação associada à época.

Uma delas aparecia em destaque, hoje, no UOL. E, pasmem, na seção intitulada Ciência e Saúde. Um pouco irônico incluir ressaca sob a égide do tema saúde. Elegantemente a reportagem, intitulada Bebeu demais? Saiba como combater a ressaca, descreve dez perguntas, com as respectivas respostas, orientando como conviver bem com este estado. Informava sobre a conceituação correta de ressaca, seus efeitos indesejados, os papéis do fígado e do estômago, a potencialização pelo fumo, a utilidade do azeite e da cervejinha, a diferença de ressaca entre tipos de bebidas e outras peculiaridades.

Numa determinada questão, especificamente relacionada com as possibilidades de evitar a ressaca, aparece apenas a seguinte dica: respeite seus limites. Aumente a tolerância fazendo o álcool entrar mais lentamente na corrente sangüínea. A melhor forma de fazer isso é comer bem, antes e enquanto estiver bebendo. Extraordinário.

As reportagens sobre ressaca esquecem de que existe uma maneira mais salutar de evitar este mal. A melhor forma e, também, a mais adequada para o combate à ressaca é cortar o mal pela raiz – NÃO BEBER. Não há como ter ressaca sem ingerir álcool. E como brinde, desaparecem as preocupações com o tipo de bebida ingerida, com a quantidade, com a alimentação concomitante ou com a mistura de destilados e fermentados.

A mensagem é muito simples, quase uma regra de ouro - sem bebida, sem ressaca.

Experimente!

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Machismo letrado.

Nestes tempos de politicamente correto ainda persistem alguns baluartes do machismo. Um deles é o dicionário. Sim, amigos, dicionários da língua portuguesa são machistas. Não sei se todos, pois não tive a paciência de procurar, um por um, na internet. Com certeza, em relação aos Dicionários Houaiss, Aurélio e Michaelis (português) posso afirmar categoricamente.

Procurem um adjetivo que não seja comum aos dois gêneros. Por exemplo, bonita. O que todas as mulheres são, independentemente da aparência física. O retorno da busca indica que a palavra não existe ou não foi encontrada. Agora escreva bonito. Feito, o adjetivo aparece em todo o seu esplendor e significado. Com direito a sinônimos machistas também – generoso, bom. Nenhuma indicação da variante feminina.

Tente outros adjetivos – comportada, bondosa, grandiosa. Nenhum existe. Só os seus congêneres masculinos. Até os adjetivos comuns de dois gêneros, como fútil, aparecem com acepções eminentemente machistas - tolo, frívolo e leviano. E os significados de amoroso e amorosa, então? Enquanto amoroso aparece como adjetivo referente a propenso ou inclinado ao amor, amorosa é um substantivo associado com lombeira, preguiça, falta de disposição para o trabalho.

E, finalmente, se você já esta completamente irritada (palavra que também não existe nos dicionários) procure pelas cores. Veja se encontra amarela, branca, vermelha, preta...

Depois ainda querem fazer a gente engolir que a percepção do mundo machista esta em baixa. Não no mundo das palavras.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Para o ano que entra.

O brasileiro é um povo supersticioso. Não posso afirmar se mais ou menos do que outros, mas somos supersticiosos, sim! Desta maneira as datas ou situações especiais são acompanhadas de atividades que permitem incrementar as chances de sucesso. Para o Ano Novo não seria diferente. Inúmeras são as simpatias para garantir vibrações positivas e sucesso em algum quesito, seja ele amor, sorte, dinheiro, felicidade, filhos... A escolha é do freguês. Realizada a tarefa, a satisfação é garantida, sem incluir o dinheiro de volta em caso de insucesso.

Para ter saúde durante todo o ano existem simpatias simples como colocar três rosas californianas brancas em um vaso imaculadamente branco ou de cristal com transparência 16 na escala de Andersen, juntamente com seis moedas (duas nacionais e quatro estrangeiras, sendo que o valor delas não deve ultrapassar a metade da sua idade no ano anterior ao passado) e uma cebolinha, todas as sextas-feiras do ano. Nem tente escrever um comentário perguntando o porque da cebolinha. Caso você não confie, tente esta: deixe de fumar, beber ou qualquer vício que você tenha, pratique esportes cinco vezes na semana por, no mínimo, 45 minutos, faça exames periódicos a cada semestre, visite regularmente seu médico, mude para uma alimentação saudável sem substâncias tóxicas e diminua as carnes vermelhas, evite o estresse e trabalhe apenas nas tarefas que você gosta. É tiro e queda, pelo menos esta última.

Para amealhar riqueza existe a simpatia da fantasia de ovo-humano – todo de branco, por fora, com roupas íntimas cor de gema. A recíproca não é verdadeira – o exterior amarelo com o íntimo branco trará apenas riqueza interior, o que não enche barriga de ninguém. Outras possibilidades são as simpatias alimentares com quantidades variáveis de uvas (três, cinco, sete ou cento e vinte e nove) as quais devem ser comidas sem o caroço. Guardá-los durante um ano na carteira em papel amarelo. Comer lentilhas também ajuda, caso você goste de lentilhas, senão já vai começar o ano com cara amarrada.

Para a conquista do ser amado ou manutenção daquilo já adquirido escreva, sete vezes, na sola do sapato esquerdo o nome da pessoa. Ao badalar da meia-noite bata o pé, lógico que o esquerdo, sete vezes no chão repetindo a cada vez o nome da pessoa. Logo depois do brinde, abrace uma pessoa do sexo oposto, se a relação for heterossexual ou do mesmo sexo para relações homossexuais. Apesar de não ser comprovada cientificamente, a atitude de bater o pé direito o mesmo número de vezes, na mesma hora, faz com que se livre de algum traste que pegou no seu pé. Não esqueça de inverter também os gêneros dos abraçados, depois do brinde.

Para afastar o mau-olhado, nada com um bom banho de descarrego. Deve ser feito no primeiro banho do primeiro dia do ano. Não é necessário passar a meia-noite tomando banho. Ferva um litro de água da chuva de um dia ímpar cuja soma seja menor do que sete Coloque sete colheres de sal grosso, algumas folhas de arruda e flores de plantas monocotiledôneas obrigatórias. Banhe as partes do corpo onde você não quer ter mau-olhado, evitando partes que você deseja que sejam olhadas de forma menos, digamos assim, familiares. Evite água muito quente para não deixar um cheiro de churrasco e atrair seres carnívoros para o banheiro, exceto quando houver interesse na potencialização da simpatia anterior. Neste caso não esqueça de deixar a porta do banheiro entreaberta.

Mas se, ao invés de ficar revirando velhos livros de bruxas amigas, blogs bregas ou revistas juvenis, você quiser um bom conselho, lá vai: confie no seu taco e acredite que você é uma pessoa especial e que o ano que vai nascer tem reservado uma série de fatos extraordinários para você. Aproveite bem os próximos trezentos e sessenta e seis dias.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Em outro local, longe dali....

O que estou fazendo aqui? - pergunta-se a moça bonita vestida com sobretudo claro e botas marrons, desafrouxando um pouco a echarpe magenta que lhe apertava o pescoço. Parecia estar pisando em nuvens, como num cenário do Mágico de Oz.

Parecia, não, estava realmente pisando em nuvens.

Uma luz brilhante lhe impedia a visão clara do caminho e seguiu levada pela multidão até uma construção que lembrava um guichê de repartição pública. Na verdade, o guichê parecia saído do palco de um programa infantil. O auxiliar observou-a atentamente e, como se pudesse ler pensamentos preencheu o formulário de admissão – causas não naturais. Depois lhe indicou para seguir adiante até encontrar uma fila e a orientação – Juízo Final. Uns poucos metros adiante encontrou uma fila enorme, parecendo de posto de atendimento médico de países do terceiro mundo. A fila caminhava vagarosamente.

Neste momento percebeu que estava se encaminhando diretamente para o juízo final sem nenhuma possibilidade de apelação. A ficha caiu, estava morta e ia prestar contas ao Senhor. Não era justo. Como em todo o sistema judiciário deveria haver diversas instâncias e a possibilidade de apelar para um Tribunal Supremo. E assim, retardar em anos uma decisão final.

Neste momento um anjo passou voando e lhe assoprou – caso não tenha notado, este já é o Tribunal Superior. Impressionada com a informação do anjo, olhou para o lado e notou que as pessoas se apresentavam de uma forma humilde. Quase todas usavam uma espécie de bata branca, muito alva e brilhante. Procurou fingir que não havia notado a diferença entre os trajes, mesmo porque ela tinha certeza que a bata não iria combinar com o seu tom de pele, ainda mais depois das sessões de bronzeamento artificial. Uma fortuna desperdiçada, pois agora não teria mais serventia. A cada momento ela empalidecia mais. Será que algum daqueles gentis anjos lhe informaria sobre a existência de um local onde ela pudesse solicitar o reembolso dos custos do bronzeamento? Não tinha certeza de que o código do consumidor tivesse vigência naquele local. Mas não custava tentar.

A primeira informação que lhe deram foi de que, em hipótese alguma, deveria dirigir a palavra ao juiz. Apenas responder as perguntas. Logo agora que estava morrendo de curiosidade para saber que produto ele utilizava para manter a barba tão branca e com uma aparência sedosa. Ah, se pudesse descobrir esta informação levantaria um bom dinheiro com a avó. A velha, apesar de rica, só soltava a grana para questões do seu interesse. E esta certamente era um delas.

Pronto, chegara a sua vez – estava diante do grande Juiz. O Senhor olhou-a de cima a baixo e fez apenas uma pergunta: qual o final do último livro do Robert? Antes que ela respondesse notou as asas crescerem nas suas costas.

Agora pertencia definitivamente àquele lugar.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Mensagem de Natal.

Vou estar fora de São Paulo a partir de amanhã, até depois do Natal. Como em todos os anos, comemoro as festas em Porto Alegre. Mas gostaria de deixar uma mensagem para os amigos:

àqueles que acreditam, que continuem acreditando,
àqueles que não acreditam, que continuem não acreditando,
àqueles que gostam de ganhar presentes, que ganhem muitos presentes,
àqueles que gostam de dar presentes, que dêem muitos presentes,
àqueles que se sentem tristes com a data, que curtam a tristeza,
àqueles que se alegram com a data, que se encham de alegria,
àqueles que reúnem as pessoas, que muitas pessoas sejam reunidas
àqueles que querem isolamento, que a solidão os contemplem

mas para todos desejo um Natal próprio, só seu...
do jeito que mais gostarem

Deste modo, sim, será um Feliz Natal!

Símbolos do Natal – a Missa do Galo.

Sempre existiram dúvidas em relação à verdadeira data do nascimento de Jesus. Do ponto de vista histórico, não religioso. Desde o século IV, com a conversão do imperador Constantino, os católicos festejam o dia 25 de dezembro como o natalício do Senhor. Inicialmente a celebração não tinha o caráter festivo dos dias de hoje.

Mesmo com a expansão do catolicismo, a partir da queda do Império Romano, para os territórios europeus, persistiam as comemorações pagãs da entrada do inverno – de 17 a 25 de dezembro - as quais coincidiam com a data escolhida pela Igreja e, tradicionalmente, eram acompanhadas de eventos que ridicularizavam os nobres e o clero.

Para competir com estas festividades e consolidar a data como um marco importante da religiosidade cristã, a Igreja promoveu modificações substanciais na natureza da comemoração. A organização litúrgica, do Natal, passou a contar com a realização de quatro atividades entre a noite de 24 e o dia 25 de dezembro – a vigília natalina e as Missas da Meia Noite, da Aurora e da Manhã. Com o passar dos anos, a dificuldade de público para todos os eventos proporcionou a afirmação da Missa da Meia Noite como a comemoração solene do Natal.

A denominação Missa do Galo permanece envolta em mistérios. Alguns afirmam que o nome resgata a lenda de que o nascimento de Cristo teria sido anunciado pelo cantar de um galo. Outros indicam que apesar de ter início à meia noite a celebração se prolongava de forma que, na saída dos fiéis, os galos já estavam a cantar.

As minhas lembranças da Missa do Galo se perdem na infância. Nunca comemoramos a ceia de Natal em casa. A tradição era o almoço do dia 25 de dezembro. Quando eu era pequeno, as festividades da passagem do dia 24 aconteciam na casa da sogra de uma irmã do meu pai – carinhosamente chamada de vó Dada. A quantidade de gente que comparecia nestas festas era incontável. Independente da alegria e do alvoroço, pontualmente às 11:30, a festa era interrompida e todos se dirigiam para o Convento do Carmo, que ficava a duas quadras da casa, para assistir a Missa do Galo. Entre homens, mulheres e crianças a igreja ficava praticamente ocupada pelos membros da família e agregados. Depois da missa continuava-se com a comemoração do Natal. Assim foi por anos a fio.

Atualmente faz muitos anos que não vou a Missa do Galo. Nem saberia informar se elas ocorrem em todas as igrejas, por questões de segurança. Mas esta comemoração ainda permanece como símbolo de Natal, para mim.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Símbolos do Natal – a coroa de Advento.

O período que antecede o nascimento de Jesus coincide com o início do Ano Litúrgico. A preparação para a vinda do Senhor cursa com festividades nos quatro domingos anteriores ao 25 de dezembro. O período do Advento – seu símbolo uma coroa.

A coroa de Advento tem a sua origem em uma tradição pagã européia. No inverno, se acendiam algumas velas com a esperança de que a luz e o calor voltassem. Os primeiros missionários aproveitaram esta tradição para evangelizar as pessoas. Partiam de seus próprios costumes para ensinar a fé.

Apesar de existirem guirlandas prontas o hábito, em casa, era de preparar uma nova coroa de Advento a cada ano, com galhos de pinheiro. Durante alguns anos esta confecção foi realizada em conjunto com a família de uns vizinhos noruegueses – os Nielsen. Eles não eram católicos, mas este fato não tinha a mínima importância, pois o ecumenismo fez parte da minha formação religiosa. Católico por parte de mãe, ateu respeitoso por parte de pai e freqüentador de colégio luterano durante nove anos.

No terreno dos vizinhos existiam diversos tipos de pinheiros e a tarefa começava pela escolha do material para a coroa daquele ano. Os galhos era enrolados em torno de uma armação circular de arame, formando a coroa. Colocava-se uma fita larga vermelha e as quatro velas. Embaixo de cada vela era colocado um pequeno sino para simbolizar o som dos anjos trazendo a boa nova.

A simbologia deste objeto é muito interessante: o círculo é o sinal do amor eterno, sem princípio e nem fim. Além disso, dá uma idéia de união entre Deus e as pessoas, como uma grande aliança. Verde, dos ramos, é a cor da esperança e da vida. As quatro velas simbolizam a luz. A cor vermelha, da fita, está ligada à cor da chama e ao aquecimento. A coroa era colocada em um lugar estratégico para que todos da casa vissem e lembrassem do seu significado. Ficava pendurada no pórtico entre a sala de estar e jantar.

No inicio, ela ficava apagada e sem brilho, simbolizando a escuridão do pecados. À medida que se aproximava o Natal, a cerimônia de ascender velas representava a chegada da luz e o início de um novo tempo.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Símbolos do Natal - o presépio.

As minhas lembranças de Natal incluem, em lugar de destaque, o presépio, a coroa de advento e a Missa do Galo. Certo, todos os anos nós montávamos a árvore de Natal. A diversão começava por escolher o pinheiro. Principalmente porque era uma atividade eminentemente paterna. A tarefa resumia-se a buscar o nosso pinheiro – não importava o tamanho, o tipo desde que ele fosse adotado pelas crianças. A montagem e a colocação dos enfeites tinham a participação de todos. Até eu, o caçula, ajudava retirando as bolas das caixas e entregando aos mais velhos para prenderem no pinheiro. Com o máximo de cuidado e concentração, pois todos os enfeites eram quebráveis. E o gran finale – a colocação da ponteira de estrela. Novamente tarefa paterna.

Mesmo com todo este ritual a armação do pinheiro perdia de longe para a montagem do presépio. Este sim era o símbolo do Natal. Era não, ainda é – há mais de 50 anos a mãe continua a montar o presépio. O mesmo presépio. As figuras principais – Jesus, Maria e José eram de gesso pintado. As demais figuras eram de massa pintada. E como tinham figuras. A representação da Sagrada Família era apenas uma parte do presépio. Tinham pastores, a vaca e o jumento e uma verdadeira fazenda que mais lembrava a ante-sala da arca de Noé.

Não sei de onde vem a tradição, se é que vem de algum lugar, mas o nosso presépio tinha galo, galinhas e pintinhos, perus, patos, marrecos, boi, vaca, ovelhas, cabritos e vários outros animais. Tinham os camelos dos reis Magos e os próprios. A montagem era sempre na lareira da sala de estar. A parte posterior, era transformada em estábulo com cobertura de barba-de-pau e palha no chão. Nas laterais e na frente ficavam as demais figuras, compondo uma paisagem com lago artificial, um poço de massa onde os aldeões iam buscar água, areia do deserto e oásis e um caminho verdejante que levava até a entrada do estábulo. Em cima do estábulo a Estrela guia.

O menino Jesus só aparecia na madrugada do dia 25 de dezembro, depois da volta da Missa do Galo. Depois íamos dormir. E os presentes? Só na manhã do dia de Natal. Cada um corria para descobrir o seu. A cerimônia de entrega era substituída pela alegria de encontrar o nome no pacote. Quem não sabia ler contava com a ajuda dos letrados. Nunca vi um Papai Noel em casa.

Talvez por isso nunca demos muita importância para o pobre velhinho. Mas com certeza ficávamos impressionados como ele conseguia descer pela chaminé sem estragar o presépio. Provavelmente uma questão de respeito e hierarquia.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Roupa suja se lava em casa.

Algumas vezes pode parecer uma falta de cortesia chamar atenção para alguns fatos. Principalmente para as pessoas envolvidas. Por isso relutei em escrever este post. Mas vamos lá. É apenas um desabafo. Deve ser porque estou muito chato, hoje!

Sem dúvida nenhuma é esperado que um profissional de nível superior, muito bem colocado em uma empresa de alto gabarito, tenha o cuidado de não enxovalhar, regularmente, as vestes durante as refeições ou nos arbustos do pátio, no intervalo do almoço. Mas estas situações podem até ser explicadas pela hiper-atividade ou por descuidos involuntários. Agora, chegar de casa com a roupa já amarfanhada e com nódoas é um pouco demais.

Às vezes mesmo as boas intenções podem pregar peças nas pessoas. Como na amiga prestativa que resolveu desenvolver uma cruzada para que o referido amigo seja mais cuidadoso com os trajes. Chamar a atenção, até exaustivamente, é produtivo. Porém, pegou pesado ao fazê-lo em público e levar ao conhecimento da chefia imediata. Quem sabe manter a cruzada num âmbito mais reservado possa surtir um efeito mais frutífero?

Para ambas as situações, vale o título do post.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Lendas indígenas.

Por muita insistência de amigos e amigas, publico aqui uma contribuição para o folclore brasileiro. Espero que a estória passe de geração a geração, através da cultura oral:

Desde o princípio do mundo, quando a luz recém tinha se firmado e os habitantes da terra falavam uma língua comum, a beleza e doçura de Guaraciaba se espalharam. De todas as tribos acorriam pretendentes para desposar a bela índia. Os valentes guerreiros de tudo faziam para chamar-lhe a atenção: promoviam torneios, traziam os frutos mais exóticos, vertiam o doce iraputã das terras do kaloré. Os mais destemidos buscavam o olho de um anajé ou penetravam na irajá em busca do mel. Mas nenhum deles merecia a ventura de um olhar apaixonado. Todos os pretendentes partiam tristes e cabisbaixos pelo fracasso no amor.

Quase todos. O mais bravo dos tanacarés, o chefe Ibiajara jurou vingança. Partindo um caroço de tucumã e transformando a luz em noite o bravo invocou deuses do mal para tramar contra a bela Guaraciaba.

E assim ocorreu: Xandoré, criador dos relâmpagos e das tormentas determinou que a bela Guaraciaba, quando escolhesse um amado, receberia um castigo terrível e tormentoso. O escolhido descenderia de um ser abominável e vil, mais azedo que o fel da prainá e mais temível que a matintapereira. Não haveria dias de prazer entre o casal, pois o ser atormentaria dia e noite. E viveria eternamente com eles.

Assim nasceu a lenda da sogra, que na língua caxonaré-açu significa aquela que semeia discórdia.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Dia Internacional dos Imigrantes.

Chegada de imigrantes

O Dia Internacional dos Imigrantes foi estabelecido pela ONU em 18 de dezembro de 1990. Nesta data a ONU adotou a Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros de suas Famílias. A partir de então, a data representa a luta por melhores condições para estas pessoas. Em todos os lugares do mundo se luta para que os imigrantes não sejam considerados cidadãos de segunda categoria.

O envelhecimento da população, nos países desenvolvidos, e a redução da taxa de natalidade contribuirão para uma nova corrente migratória, nos próximos anos. Milhares de pessoas abandonarão os seus locais de origem para construir uma nova vida alhures. Portanto, desde agora devem ser criadas condições que permitam aos migrantes o seu desenvolvimento pessoal e a criação de vínculos de pertencimento.

As dificuldades dos imigrantes não se reduzem aos problemas de saudade, questões trabalhistas ou geopolíticas. A falta aceitação social dos que vem de fora é, talvez, o maior problema. A sociedade nem sempre promove a integração dos estrangeiros, que se sentem excluídos e formam verdadeiros guetos de forasteiros. A nós, cidadãos brasileiros, cabe a escolha da melhor forma de receber estas pessoas, independente das ações governamentais.

Um novo lar, mais do que simplesmente uma nova terra é do que os imigrantes necessitam.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Rodadança.

As cantigas de roda preencheram uma boa parte da infância de alguns nós. Mas passaram. Não é uma questão de saudosismo. Apenas uma constatação. Dificilmente uma cantiga de roda distrai uma criança, nos dias de hoje.

E como eram criativas e fantasiosas as cantigas. Escravos jogavam caxangá, flores brigavam entre si, caranguejos transformavam-se em peixes na virada da maré, anjos roubavam corações e ruas eram ladrilhadas com pedrinhas de cristal. Quantas horas passaram distraídas ao som de vozes infantis entoando, sem a mínima afinação, os versos:

Ai, eu entrei na roda
Ai, eu não sei como se dança
Ai, eu entrei na rodadança
Ai, eu não sei dançar

Todo mundo se admira da macaca fazer renda
Eu já vi uma perua ser caixeira de uma venda

Não importa o quão extraordinário ou incrível pudesse parecer os animais realizarem tarefas humanas, cada um dos participantes, mesmo aqueles mais céticos, formavam a sua imagem. Cantavam e divertiam-se. A importância estava justamente em não ser verídico. O absurdo preenchia o imaginário. Sempre num crescente criativo – se a macaca rendeira já era um espanto imaginem uma perua lidando com cobranças e trocos.

Sim, naquela época, vivia-se num mundo próprio de danças e contradanças, com a inquebrantável confiança de ter a vida toda pela frente para aprender sobre aquele que viria a ser o verdadeiro, criativo e fantasioso mundo real.

* xilogravura Ciranda, imagem obtida no site da artista plástica Yole Travassos.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Você sabe que está ficando velho, quando...

Apesar das brincadeiras, realmente sou uma pessoa que não liga para a idade. Eu não gosto, nem desgosto, apenas não sou ligado. Sei que os anos passaram e não sou mais um brotinho. Mas ainda estou um patamar antes de idoso ou ancião. O engraçado é quando se percebe a obsolescência dos objetos, dos fatos, dos hábitos e até das outras pessoas que nasceram em um período semelhante ao seu.

É amigos a gente sabe que está velho quando...

colecionou figurinhas de artistas, ofertadas como brinde do sabonete Eucalol,

foi fã de alguma cantora que ganhou o concurso Rainha do Rádio,

visitou o Estado da Guanabara,

brincou de tangolomango,

tomou Hi-fi com Crush,

vibrou com a escalação Gilmar, De Sordi e Bellini; Zito, Orlando e Nilton Santos; Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagallo,

soube quem perdeu um concurso por duas polegadas a mais,

angariou fundos para as obras assistências do Dr. Albert Schweitzer, na África

leu as revistas Cacique e Sesinho,

fez pic-nic, com direito a toalha xadrez e tudo o mais,

acompanhou com espanto a atrocidade cometida com Aida Curi,

usou camisa Volta ao Mundo com calça de Nycron ou slack de Helanca com conjuntinho de Ban-lon,

Ou quando leu este post e se lembrou com saudade dos bons tempos.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Nova campanha.

Devido à idade e intensa atividade profissional tenho o hábito de publicar um post diário. Apenas um. Com raras exceções.

Hoje é uma delas. Respeitando o teor da minha própria publicação de ontem e generalizando do ambiente de trabalho para o nosso microcosmo, espero que os comentários a seguir não sejam interpretados como zombaria. Fazem parte de uma mera brincadeira. Brincadeira com um amigo ausente. Sim, com ele mesmo - Dr. J.

Faz muito tempo que ele não atualiza o seu blog. Para não deixá-lo minguar até o final, o blog não o Dr. J, propus uma campanha para transformar o distinto local num mero depositário de comentários. O princípio é simples – sem post, mas pleno de comentários. Como não existem fatos concretos para comentar, pela falta de material próprio, sugiro que os comentários versem sobre qualquer assunto. Sem a mínima relação entre eles. Uma proliferação de comentários, mesmo desconectados. A meta é atingir três casas decimais de comentários.

Com certeza os mais jovens não se lembram de um programa de auxílio para os países da América Latina, patrocinado pelos Estados Unidos – a Aliança para o Progresso. Vigente durante toda a década de sessenta (1961-1970), o programa previa uma assistência de países ricos ofertando víveres e outras cositas mas para os necessitados latino-americanos. Algo como uma mão lava a outra.

Com este espírito proponho um novo e grandioso grande programa – a Aliança para o Regresso. Nele, nós os abastados postadores com periodicidade auxiliaremos o mais necessitado. Todos nós, formando uma grande aliança e, na medida das nossas posses, contribuindo com comentários cada vez em maior número, até que o gigante desperte. E volte ao nosso convívio.
É isso aí, amigos, quero ver a contribuição de todos para o programa.

Desorientação.

Ontem duas amigas se perderam no caminho entre Alphaville e o Morumbi, mesmo com todos os cuidados para chegarem a um destino que não conheciam. Passada a apreensão inicial de que o episódio fosse um deja-vu da antiga série televisiva, na qual um grupo de terráqueos ficava perdido por longo tempo, vagando no espaço, o fato merece uma análise detalhada. Primeiramente, não compreendi a afirmativa de que as envolvidas seriam pretensamente inteligentes. O fato de transformar um suplício em uma situação divertida, pelo menos para os amigos, serve como demonstração inequívoca de inteligência. Pode até ser uma inteligência seletiva.

Nas suas declarações públicas as envolvidas apelam para qualificações profissionais que em nada contribuem para uma orientação em tempo e espaço. Se, ao menos, alguma delas fosse taxista, controladora de trafego, detetive particular, espiã da CIA ou mesmo operadora de sistema de localização por satélite, ainda vá lá. Especialistas em informação, referem em determinado momento, como se esta especialização fosse benéfica. Em alguns casos a especialização leva justamente a estes transtornos. Elas são especialistas na busca de informações corretas, interpretação e criação de uma cadeia de valor. Nada indica, ou obriga, que as mesmas estejam aptas ou capacitadas a receber informações e utilizá-las, imediatamente, numa cadeia de valor próprio.

Além do mais, apesar de todos os qualificativos descritos não se deve esquecer o gênero das envolvidas no incidente. Mulheres são naturalmente distraídas. Sem questões machistas ou feministas, não estou inferindo juízo de valor nesta afirmativa e nem questionando se os homens, também, não têm a sua parcela de distração. Mas a boa conversa deve ter contribuído para o desvio do caminho correto.

Quando não se domina uma determinada situação busca-se auxílio pessoal ou tecnológico para resolver a questão. Existem diversas possibilidades para não errar um caminho, que não envolvem somente o aprendizado do caminho. As mais simples envolvem a delegação do conhecimento do caminho para outrem, indo de transporte público ou táxi, até as mais sofisticadas como a contratação de um helicóptero. Neste ponto se revela a capacidade de seleção e escolha das pessoas. As referidas desorientadas erraram ao confiar ou superestimar as ferramentas de resolução escolhidas. Por ordem - um sistema localizatório, referencial super-hiper moderno que depende de habilidade e treinamento de uso, bola fora; um amigo tão desorientado quanto as envolvidas, segunda bola fora e, finalmente, acreditar que depois de instalado o riso ou o pânico elas teriam condições de reencontrar o caminho, terceira bola fora.

A única solução verdadeiramente útil não foi tentada – recorrer a um especialista em caminhos! Que uma delas tem à disposição e sem custo, em casa. Com certeza teriam chegado a tempo, sem estresse e ainda com um patamar mais elevado de auto-conhecimento.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A tênue linha entre a brincadeira e a zombaria.

As relações sociais mudaram consideravelmente nos últimos anos. Inclusive no ambiente de trabalho. Atributos, anteriormente considerados importantes apenas nas relações interpessoais e familiares, fazem parte das competências exigidas ou estimuladas nos colaboradores. Entre eles o bom-humor. Por esta, e outras razões, trabalhar nos dias de hoje é mais divertido.

Algumas pessoas parecem naturalmente divertidas. Seja pelo bom-humor ou pela perspicácia de transformar fatos corriqueiros em situações engraçadas. Tanto na adequação do humor quanto na perspicácia encontra-se um perigo escondido. Bom-humor não é sinônimo de levar a vida despreocupadamente, sempre contando piadas e dando boas gargalhadas sobre todos os assuntos. O bom-humor é acompanhado de adequação de atitudes – momentos solenes com seriedade, momentos descontraídos com brincadeiras. Este é o sentido de um bom-humor.

Os gracejos, entre colegas de trabalho, nem sempre resultam em divertimento. Alguns causam até certo desconforto, involuntário ou não. Em nome da descontração pode se gerar momentos desagradáveis. Existe uma tênue linha separando a brincadeira da zombaria. Um dos fatores que contribuem para este fato é a diferença de percepção dos envolvidos na brincadeira.

Para o autor, uma brincadeira sempre parecerá inocente. O que nem sempre é percebido de maneira semelhante por quem é o motivo do divertimento. Este descompasso entre autor e objeto pode ter resultados inconvenientes ou desastrosos. Estimulados pelas condições de hilariedade ou incitados pelos companheiros, nem todos com o mesmo objetivo, os autores das brincadeiras estendem ou repetem gracejos em momentos inadequados. Existem, sim, limites de freqüência, local e pessoas para uma questão passar de divertida a constrangedora. Um passo em falso e se caiu da corda bamba.

Outro aspecto importantíssimo, para a pertinência de uma brincadeira, é a preservação da dignidade dos envolvidos. Inadvertidamente, algumas brincadeiras podem resultar em embaraço ou criação de estereótipos, que em nada contribuem para as relações sociais, apesar de momentaneamente divertidas. O segredo do sucesso está em evitar, a qualquer custo, sentidos dúbios de interpretação de uma brincadeira. Impedir que a troça brote do divertimento Quem achar a fórmula mágica pode se considerar um felizardo. Terá a garantia de muitas risadas em grupo, sem riscos da ocorrência de saias-justas.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Simpatia para uma amiga aflita.

Independentemente da questão médica envolvida, uma amiga aflita nunca deve ser deixada ao léu. Por amizade ou por obediência a um juramento, devo me manifestar. E, nestes dias de relação tumultuada entre médicos e clientes qualquer escorregadela pode ser interpretada como uma das quatro inimigas figadais da prática médica – imperícia, imprudência, negligência e omissão. Não vou me omitir. Assim evito a exposição à última condição. Apesar de que a aflição foi um mero desabafo e não um apelo por atendimento.

Embora, no comentário inicial sobre a questão, eu tenha simplificado o assunto e me comprometido a indicar uma simpatia para o caso clínico, depois de uma reflexão profissional, resolvi tratar o assunto de uma forma mais completa. Não vou clinicar virtualmente, mas tenho certeza que algumas opiniões podem ser emitidas para melhorar a percepção da cliente frente à solução do problema.

Primeiramente, um esclarecimento sobre o termo síndrome – uma palavra grega utilizada, desde os primórdios da Medicina, para indicar um conjunto de sinais e sintomas sem relação com uma doença específica. Este significado persiste até os dias de hoje. Portanto, uma síndrome não tem uma causa definida. Diversas situações clínicas podem determinar ou contribuir para o aparecimento dos sinais e sintomas que caracterizam uma síndrome.

Como o paradigma terapêutico, ainda vigente na Medicina moderna, indica a escolha de métodos de tratamento baseados nas causas, pode-se inferir que uma síndrome pode ter diferentes tratamentos, na dependência dos agentes causadores. Desta forma, a resposta ao tratamento vai depender do acerto na causa e da interação entre a ação médica instituída (medicamentosa ou não) e a capacidade da pessoa realizar e reagir ao tratamento.

Por isso a maior parte das doenças (entidades com causas determinadas) tem uma resposta ao tratamento melhor do que as síndromes. Nada complicado e nem criado para dificultar a relação entre médicos e doentes. Problemas médicos não permitem soluções simplistas. Desta forma a linha - Cansei! Não quero mais brincar de síndrome, não pode ser considerada uma solução. E nem se jogar de cabeça numa rotina infindável de reuniões de trabalho. A busca da cura pela redenção do esquecimento, não frutificará.

É preciso persistência. Antes que esta afirmativa seja mal interpretada e que pensem cobras e lagartos deste amigo curandeiro ou elogiem os meus ancestrais femininos, saibam que considero oito anos uma demonstração suficientemente robusta de disposição e força de vontade para vencer o mal. Mas o fato de não ter sido suficiente para vencê-lo não permite o abandono da busca de uma solução. Há que se persistir.

Persistir em mostrar aos médicos que as tentativas, até o momento, não foram adequadas. Persistir em descobrir as causas pessoais ou profissionais que contribuíram para este insucesso. A relação médico-paciente é uma via de mão dupla. Muitos dos fracassos médicos estão relacionados a uma relação mal construída. E não depende apenas de um dos fatores, sempre tem contribuição bilateral. Se a sua percepção indica que é difícil encontrar médicos capacitados para uma boa relação, tome a dianteira, faça com que parta de você a iniciativa de desenvolver uma relação amigável. Estabeleça as suas necessidades e transfira para o profissional. Um bom médico saberá aproveitá-las.

Bem, se nenhum destes apontamentos for útil, ainda podemos apelar para as simpatias.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Resultado da pesquisa (1)

Chegamos ao final da enquete sobre a importância da dimensão dos atributos masculinos.

Os organizadores não receberam nenhum questionamento, fato que demonstra a clareza das assertivas e o pleno entendimento pelos votantes. Diferente de alguns plebiscitos recentes, o índice de abstenção deve ter sido baixíssimo, pois o número total de votantes foi maior do que o esperado.

Atingiu-se a surpreendente marca de 14 votantes. Levando-se em consideração a quantidade de amigos envolvidos no processo e os leitores do blog obteve-se uma marca superior a 100% de comparecimento às urnas. Deveras substancial para um assunto tão carne de pescoço. A pesquisa sobre os atributos femininos já está no ar! Tenho certeza que ela será acompanhada por amplo debate nacional.

O bom-senso, aliado ao jeitinho brasileiro e a postura politicamente correta, contribuiu para a vitória centrista. O passarinho com repertório extenso obteve 42% dos votos. O resultado não configura uma maioria absoluta, mas não haverá segundo turno. Chega de atributo masculino. Na segunda posição houve um empate, com 23% dos votos para cada uma das representantes de direita e esquerda – mais vale um passarinho cantador que um avestruz morto e mesmo morto um avestruz chama a atenção.

Longa vida aos passarinhos de repertório extenso.

Agora, uma questão de ordem, se houvesse uma assertiva com avestruz de repertório extenso, você modificaria o seu voto?

domingo, 9 de dezembro de 2007

Benefícios da adoção de um tamagotchi.

Para uma decisão sobre a participação na campanha, é necessário que se conheça, além da qualidades, os benefícios da adoção. Sempre com o referencial do espécime já mencionado. Nem todos os tamagotchis são iguais. Lembrem-se que o nosso tamagotchi é mais criativo que o tamagotchi dos outros – será que a marca é Toshiba?


1. companhia – depois da adoção você terá que se dedicar integralmente ao bichinho. O tamagotchi ocupará todo o seu tempo disponível ou não. A falta de organização e estabelecimento de regras pode dificultar em muito este benefício,

2. entretenimento – os tamagotchis podem ser muito divertidos. Depende dos limites que você imponha. Nem sempre o senso de humor cadastrado de fábrica é o mesmo que o seu e podem ser necessários ajustes,

3. exercício da tirania – como o tamagotchi não tem vida própria depende de você para todas as atividades. Este benefício é extremamente útil para as pessoas autocráticas com traços de personalidade maternal, permitindo que esta manifestação ocorra apenas em ambiente virtual – o que ocasiona menores constrangimentos sociais,

4. interatividade – dependendo da disponibilidade você pode colecionar diversos tipos de tamagotchi com características variadas permitindo inclusive a reprodução, entre eles, com aprimoramento do processo de seleção natural. No final você deixa os que não gostar sem comida e eles morrem,

5. criação de vínculos – ideal para adultos autistas ou com personalidade de auto-suficiência. Para se relacionar com o animalzinho é necessário desenvolver um sistema de trocas tipo ganha-ganha. Se não você enlouquece, antes do tamagotchi desaparecer. Dependendo do tipo escolhido cria-se uma relação freudiana de amor-ódio extremamente rica para ser discutida com o analista.

Pronto, com estas informações pode-se continuar com a campanha publicitária. Aceitam-se mais sugestões de qualidades e benefícios.
E, também, falta um slogan adequado.

Quem ajuda?

As qualidades de um verdadeiro tamagotchi.

A campanha de adoção só terá sucesso depois da busca de informações sobre o produto. Um verdadeiro tamagotchi pode ter diversas qualidades. Para reconhecer estas qualidades leia com atenção o manual de instrução. Se o tamagotchi oferecido para adoção não vier com manual de instrução, procure um revendedor mais próximo ou tire informações com os colegas. A seguir, algumas qualidades bastante úteis para o processo de decisão:


1. portabilidade – permite que o bichinho possa ser levado para qualquer lugar. Algumas vezes se o local incluir caminhadas, maratonas e afins ele pode perder o tino e começar a interagir exaustivamente com as pessoas, classificando todas como bonitas - mesmo as que não se enquadrem nesta categoria,

2. miniaturização - a redução de tamanho proporciona pouco espaço para a guarda, apesar de existirem espécimes que são pequenos e espaçosos, crescendo como uma bolha assassina e causando desorganização nos ambientes - por espalhar os seus objetos pessoais por todos os cantos. Antes de adotar procure examinar a mesa de trabalho do tamagotchi,

3. docilidade – estes animaizinhos de estimação são extremamente dóceis. Dificilmente perdem o tino ou, quem sabe, a gente não perceba. O nível de irritação pode ser manifestado pelo silêncio, depressão e desenvolvimento de idéias persecutórias. Apesar de dóceis são capazes de discordar das opiniões dos donos com veemência e emitir comentários grosseiros sobre hábitos de vestir,

4. interação com o meio – são extremamente interativos com o meio. Às vezes em excesso. Não conseguem parar a interação e assumem um número maior de tarefas em relação ao sistema de contagem de tempo ocidental (dia com apenas 24 horas), com prejuízo de desempenho. Nestes casos sugere-se a retirada de uma das pilhas ou a colocação de comprimidos de ritalina no lugar das baterias,

5. sociabilidade – tem uma tendência de se relacionar com equipamentos de sua espécie e procedência. A facilidade de relacionamento e criação de amigos é extrema. Apesar de benéfica, esta situação pode produzir segmentações com a criação de bandos ou hordas de tamagotchi no ambiente.

Adote um tamagotchi.

Aderindo a campanha publicitária da amiga Chrises, gostaria de fazer algumas considerações antes de desenvolver um plano estratégico para o sucesso da mesma. Primeiro, o certificado de procedência é indispensável para um processo de adoção. Ele garante que o seu produto não tenha uma finalidade diferente da planejada e que não adquira vida própria. Cabe lembrar o acontecimento com o tamagotchi serial killer, no Reino Unido - Hirofumi ,o estripador.

Segundo, esteja consciente do trabalho que vai ter. O tamagotchi é muito dependente. Caso as suas necessidades não sejam satisfeitas ele definha e desaparece. E você passará a ter um problemão nas mãos. Como se livrar da carcaça de um tamagotchi desaparecido, sem levantar suspeitas entre os seus pares?

Terceiro, veja se você tem as qualidades indispensáveis para adotar um tamagotchi. Eles conseguem ser mais temperamentais que o papagaio do amigo Otávio. Tudo ao seu tempo e à sua hora. E ai de que você não o atenda. São capazes de vilanias indescritíveis e chantagens que deixariam qualquer mãe com inveja.

E finalmente analise bem a sua estabilidade emocional. Os vínculos criados com este raio de ser são tão envolventes que você deve estar preparado para ter uma surpresa atrás da outra. Eles são muito especiais e cabe a você criar os vínculos e mantê-los. O afastamento de um tamagotchi pode ser muito desagradável. Isso sem contar com a possibilidade de ciumeira entre os profissionais que trabalham no mesmo setor do tamagotchi.

É a adoção mesmo que você quer? Estão vamos saber sobre as qualidades e benefícios dos tamagotchis. Tomarei como exemplo um espécime disponível na empresa onde trabalho.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Em terra de cego, quem tem um zoio... errei!

A língua portuguesa é muito bonita, mas difícil. A conjugação verbal, as concordâncias pronominais e conjuncionais e, mesmo a gramática e a sintaxe dão um baile. Por isso, no dia a dia das conversas ou das escrevinhações nos bolgs cometemos diversos erros de português. Por sorte nenhum dos amigos dá muita importância para este fato. De acordo com o que o amigo Otávio escreveu para a Adriana, do Três Marias – o que vale é um conteúdo interessante. Quero deixar claro que este lero-lero não tem nada a ver com a confissão pública da amiga Adriana, é apenas um preâmbulo para um assunto intrigante.

Em muitas situações aquilo a que chamamos de erro de linguagem passa a fazer parte da coloquialidade de fala de uma região ou mesmo do Brasil todo, criando um novo dialeto. Isso ocorre por força da influência dos meios de comunicação. São incontáveis os linguajares característicos de personagens de novela, do esporte ou mesmo da política que, em determinadas circunstâncias, assumem um lugar de destaque na fala coloquial.

O malhor pobrema é quando os termos passam a fazer parte da linguagem popular e ninguém mais consegue acorrigir.

Como naquela estória da cabelereira que ganhou uma cauxinha de musga com balerina e tudo, numa festa beneficiente da ingreja. Parecia que a marvada da farta de sorte tinha ido simbora. Ainda mais agora que não tinha de vorta pra vidinha normau. Não mais passa as camisa beige do marido, guarda as carça no almario. Enfim cuidar de tudo. Aquele traste era que nem que o sogro, escarrado e guspido. Alto, forte, bonitão e com as espaudas largas, mas não valia nada. Por fora bela viola por dentro pão boloroso. E ainda tinha uns pobrema de neuvos e uma lesão no celebro. Uma vez quis bate nela com o reio. Ela fechou os zoio e partiu para cima dele, amarrando o dito com um baubante forte. Depois veio o precalço da separaçã.

De bão tinha sobrado a bebezinha. Só dava trabaio pra lavar as flaldas e guardar na parteleira. O resto era só alegria. Ela sonhava que a filha, quando crescesse, desse pra fleira. Não queria o mesmo destino dela pra pobre menina. Chega ela de disvorciada, na família. E queria dar instudo pra nenê. Da pra ela uma boa distrução. Nada de ficar fazendo faixina, como uma mindinga... se esfalfando para lavar os vrido da taulete das patroa. E, ainda tendo que guardar toda a roupa nos gabide.

Um dia ela ainda ia meter os pé pelas mão, alevantar os fundo de garantia e se mudar pruma outra cidade. Quem sabe até no sul. Sabia que ia ter saudade das pralhas e ondias do mar, mas era mior fugir e ter uma nova vida. Queria ser cozinheira, sabia discor umas douze receitas principalmente com mindoim. Rapadura e pé-de-moleque eram seu forte. Tinha umas mão de ouro pra bolo, eles ficavam bem molzinhos, podia até vender pras doceria dos shoper center. Mas não queria ter loja de rua, perferia atender só por telefone ou i-meio. Desde que o numaro do teufone fosse fácil ia chover clienta.

E ansim ela ia sonhando.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Mais simpatias, agora contra a insônia!

Apesar da minha rígida formação técnica e tributo ferrenho à alopatia, devo confessar que tenho grande interesse pelas formas alternativas de resolução de problemas clínicos. Principalmente quando os problemas envolvidos demandam longos períodos de tratamento, acompanhados de medicações causadoras de efeitos indesejáveis.

Uma destas situações é a insônia. Apesar de estudada cientificamente e com evidências médicas sólidas para a instituição de tratamento adequado, esta doença ainda permanece com fortes vínculos populares de dependência medicamentosa e vícios. E esta condição fornece um terreno fértil para a “alternatividade”.

Buscando contribuir com todos os desfavorecidos que padecem deste mal recolhi, na memória e em pesquisas informais, algumas simpatias ou receitas não medicamentosas para o combate à insônia. Inicio pela transcrição de uma crendice publicada no livro Medicina campeira e povoeira, do autor gaúcho Hélio Mariante – para obter um sono leve basta colocar um esporão de quero-quero, sob o travesseiro. Sem dúvida nenhuma um objeto fácil de ser obtido e com um aspecto higiênico exuberante. Já aviso aos distintos leitores que não tenho o mínimo interesse de dedicar parte da minha visita, de final de ano ao meu estado natal, arrebanhando nos pampas partes desta ave, para vender no mercado negro.

A segunda dica envolve a colheita de folhas da planta língua-de-vaca, deixando secar à sombra por quinze dias, em local ventilado. Após isso, retire as folhas, coloque-as dentro do seu travesseiro e adeus insônia. A simpatia funciona apenas com a transmissão de energia quântica das folhas para o cérebro, induzida pelo repouso da cabeça. Não adianta apelar para receitas que incluam a ingestão das folhas de língua-de vaca. Nem mesmo a sugestão disponível no blog Rainhas do lar.

Se as simpatias não derem os resultados esperados pode-se apelar para as receitas caseiras. Uma delas inclui a trituração de 20 g de folhas de maracujá ou flor-da-paixão, 50 g de flores de camomila, 20g de cones de lúpulo e 10 g de pétalas de papoula comum. Sugere-se adicionar uma colher e meia (das de sopa) da mistura a uma xícara de água fervente, tampar e aguardar dez minutos. Coar e tomar bem quente, antes de se deitar. Caso não funcione você pode apelar para transformação das folhas de papoula em pó que pode, a seguir, ser misturado com goma e mascado. Provoca euforia, seguida de um sono onírico. Cuidado com a dependência física.

A última e mais fácil de realização utiliza 60 g de alface (com o talo central, inclusive) em 1 litro de água. Deixe ferver durante 10 minutos, retire do fogo e deixe esfriar até ficar morno. Tomar uma xícara adoçada com mel, meia hora antes de ir para o leito. Outra forma de preparo é a obtenção do suco fresco. Pegue um pé inteiro de alface, lave bem todas as folhas, envolva-as num guardanapo e esmague-as bem. Torça o tecido dentro de um recipiente de louça ou vidro e obterá um concentrado contra a insônia. Comece tomando toda noite uma pequena colher do suco. Atente bem para as quantidades de uso. Parece que a Bela Adormecida exagerou na dose.

No caso de nenhuma das dicas surta efeito, apele para a companhia de bichinhos de estimação. Informações com especialista no assunto.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

A dimensão dos atributos.

Hoje o horário de almoço se transformou numa sessão comédia. Muita bobagem e gargalhada juntas. O motivo desta diversão não teve nada a ver com uma questão engraçada, por princípio. Estávamos, mesmo, falando sobre um assunto sério e interessante, de trabalho, relacionado a um programa de Business Inteligence.

O desvio ocorreu no momento em que a colega Islane solicitou a representante do sistema que explicasse um determinado termo, que havia naturalmente surgido durante a conversa. O termo em questão era atributo e os esclarecimentos envolveram a referência a uma dimensão do programa. Bem a partir deste momento as palavras – programa, dimensão e atributo – assumiram outro sentido e a diversão se instalou.

O foco passou a ser a dimensão dos atributos, em todos os sentidos. Principalmente naquele. Voltamos à adolescência, só pensando naquilo. Imaginem as situações levantadas sobre a importância da dimensão daquele atributo masculino. Sim, ele o atributo pendurado por natureza. Boas risadas foram dadas em assuntos relacionados à fantasiosa dimensão dos negros ou a reduzida dimensão dos atributos japoneses – numa clara falta de compostura em presença do amigo Francis.

Em relação aos orientais foi lembrado que a polêmica dimensional poderia ser considerada um atributo intrínseco da evolução racial, relacionado à preferência ou necessidade nacional da miniaturização. Neste ponto foi evocada matéria sobre a importância maior da funcionalidade do que da dimensão do atributo lembrando que as enormes válvulas foram substituídas, com melhor desempenho e ganho, pelos transistores e chips – de dimensões diminutas.

A questão não ficou limitada aos atributos de um gênero. E nem de uma parte corporal apenas. Discutiu-se sobre a dimensão dos atributos femininos e das variações de preferência da localização destes atributos, em diferentes culturas. Comparou-se a importância da dimensão do atributo anterior e superior feminino na sociedade americana (provavelmente associado com uma preferência nacional pelo leite nos Estados Unidos) com o deslocamento regional do fetiche, entre os brasileiros – posterior e inferior (sem associação publicável). Sempre nas maiores dimensões. Para alegria dos cirurgiões plásticos, que lucram com a complementação das dimensões das modelagens reduzidas.

Talvez uma análise sociológica detalhada, da preferência de localização dos atributos femininos, indicasse uma superioridade para a civilização americana, que escolhe o para frente e acima como local do seu atributo – a semelhança do hino das Olimpíadas de Altanta 96, higher, stronger só faltou bigger. O que dizer de uma sociedade que opta por trás e abaixo? Só fico imaginando o hino Brasil 2014 - um pagode ou axé, exaltando o que? Mas com certeza com um monte de atributos de dimensão enorme, sedutores rebolando para o mundo.
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Se você tiver uma opinião formada sobre a importância da dimensão do atributo masculino responda, por favor, a enquete disponível à direita deste blog. Aguarde a pesquisa de atributos femininos.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Sua majestade real.

Era uma vez um reino encantado, longínquo e produtivo. As terras eram férteis, os dias eram ensolarados, as tormentas e desastres da natureza eram desconhecidos. Este verdadeiro paraíso era governado pelo casal soberano mais feliz da face da terra. O amor transparecia em cada ato e momento de vida. A felicidade era tangível. Ainda não tinham herdeiros, por escolha, mas planejavam povoar o castelo com um número significativo de príncipes e princesinhas.

Anualmente a festa mais importante do reino era o aniversário de sua majestade. Os preparativos duravam semanas e cada vassalo escolhia uma forma especial de homenagear o rei. Uns traziam presentes de alto valor como ouro, prata, pedras preciosas e ações da DASA. Outros se preocupavam com a raridade dos presentes, buscando nos quatro cantos do mundo animais e plantas raras - mulas sem cabeça, elefantes amarelos, micos com a cara do presidente da Venezuela, plantas carnívoras que se alimentavam de senadores e até uma extraordinária especiaria, utilizada pela rainha em receitas de pães feitos em casa.

Os menos abastados, mesmo sem comparecer as festividades palacianas, contribuíam com cumprimentos diferenciados, apresentações e atividades lúdicas – teatros, feiras, shows de marionetes, torneios, artesanato e comentários repletos de elogios. Enfim, de tudo um pouco. As comemorações duravam vários dias, seguindo um rígido protocolo determinado com certa antecedência, pela casa real. A alegria dominava todo o reino.

Passadas as comemorações, todos esperavam que sua majestade ficasse apenas se refestelando com os presentes ganhos. Qual não foi a surpresa quando os arautos reais apostaram um édito nos quatro cantos do reino, até na internet, com os agradecimentos de sua majestade pelas manifestações de parabéns e carinho. Ato sem dúvida de soberano. Bem educado, diga-se de passagem.

Alguns ditados populares, realmente, estão com a razão:

Quem é tratado como rei, nunca perde a majestade.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Autores desconhecidos (2)

Lamento mouco (1959)

case non ouzo o si
pensamento non aflora
padezo así
coración só chora
que será de ti
canta demora!



Este singelo poema representa bem a força criativa de um dos mais populares trovadores da atualidade – Samuel Dench.

Professor de literatura galega medieval na Norwich University. De origem camponesa, muito humilde, perdeu a mãe e o pai em tumultos anarquistas na Irlanda. Aprendeu a ler e escrever, formalmente, apenas com 15 anos, quando fugiu para um pequeno pueblo na Galícia (Porto de Abaixo). Desenvolveu o gosto pela trova galega desde cedo.

Desta fase são os primeiros cantos, copilados na obra O Buraco é mais Abaixo (1952). Nos anos 60 aparecem os primeiros sinais de um distúrbio emocional que se manifesta ora como depressão, ora com traços de paranóia clássica. Esta situação não o impede de desenvolver uma vasta produção literária.

Filia-se ao grupo de Sheffield do qual fazem parte Norbert Bayles, Trixia Clemens, Albert Gayle e Thomas Windsdorf. Publica, a partir de 1963, a revista Gallix, dedicada a divulgação de autores galegos. Casado com a poetisa Peggy Lanes, sem filhos. Laureado com os prêmios da Real Academia Galega (1976 – obra completa) e da Royal Society of Foreign Writers (1986 – Plus of me: deadly poems).

A ausência de uma formação cultural aprimorada é superada pela dedicação, quase mística, ao formalismo sincopal dos cantos medievais. Assume a trova como expressão da herança semiótica, precursora da independência da convertibilidade recíproca desenvolvida a partir do século XIV. De uma certa forma, a sua obra simboliza a herança clássica na literatura ocidental. Expressa com a simetria e harmonia um certo bucolismo, de elementos epicuristas e estóicos. A finitude inexorável dos seres vivos é uma constante em sua obra, clássica, depurada e disciplinada.

Meme da Lele

Respondendo ao convite da Lele e da Adriana, em atraso e de joelhos:

Você vai passar exatamente um ano em uma ilha deserta, onde existe uma certa infra-estrutura, mas ela é limitada. Além de você não haverá mais ninguém na ilha, mas você terá acesso a alguns privilégios limitados. Com isso em mente, seguem as perguntas:

1. Na ilha você terá água à vontade e frutas nativas. Se souber pescar, com sorte vai poder comer um peixe de vez em quando. Fora isso, você terá que escolher apenas um tipo de comida salgada e um tipo de comida doce para comer todos os dias, o ano inteiro (podem ser cruas ou cozidas). Quais você escolhe?
Churrasco e sorvete de todos os sabores... muito sorvete!
Alguns podem alegar que churrasco é uma forma de preparação e não comida, então o ano todo terá a comidinha da qual publiquei a receita, aqui no blog.

2. Além da água (e, também com sorte, água de coco se você estiver disposto(a) a subir no coqueiro) não há nenhuma outra bebida na ilha, mas você pode também escolher um único tipo de bebida, fria ou quente, alcoólica ou não, para ter à sua disposição ao longo do ano. Qual você escolhe?
Sem dúvida, Coca zero. Já é a bebida do ano todo.

3. Para manter a tradição, você pode também levar um único livro. Que livro você leva?
A Enciclopédia Britânica completa pode ser considerada apenas uma obra?

4. Igualmente, você poderá levar um único filme para assistir. Que filme você leva?
O Náufrago, para pegar algumas manhas e preparar o meu roteiro para volta.

5. Você terá um notebook à sua disposição, mas com um único programa instalado. Mas você não pode usar um programa de comunicação (como email ou mensagens instantâneas). Qual programa teria mais utilidade para você e por que?
Photoshop, pois posso editar imagens e textos – sai de baixo, gente, que vocês vão ter que ler tudo.

6. Você poderá acessar a internet, mas este acesso é limitado a um único site, o ano todo. (Se você escolher o Google, por exemplo, não poderá navegar para os links dos resultados da sua busca, que estão fora do Google). Também não pode ser seu webmail, Meebo e afins ou sites de notícias (o que elimina os portais). Fora isso, não há restrição nenhuma ao tipo de site, inclusive os que permitem comunicação de outros tipos. A qual site você quer ter acesso por um ano e por que?
Assim tão chocho, só um? Vá lá, com certeza o meu blog, para poder postar para os amigos e receber comentários.

7. Você também poderá ouvir música. Mas, claro, você terá que ouvir a mesma música o ano todo, pois só pode escolher uma. Qual você leva? E se fosse um CD?
Qualquer cd duplo de milongas, guarânias, maxixes, vanerão de música gauchesca.

8. Você poderá escolher um dia do ano para fazer uma única ligação para uma única pessoa, com quem poderá falar por 10 minutos. Para quem você vai ligar, quando e por que?
Para o meu advogado, verificando as aplicações e a pensão do INSS.

9. Você poderá escolher um programa de TV para assistir ao longo deste ano na ilha - limitado à freqüência de uma vez por semana. Você só não poderá assistir nenhum tipo de noticiário, fora isso não há restrições. Que programa você quer assistir?
Qualquer programa do Discovery Chanel – menos os sobre a Polinésia e ilhas desertas.

10. Quando for seu aniversário, você terá direito a receber uma carta de um(a) amigo(a) ou familiar que tenha uma novidade para contar (sobre si próprio ou não). De quem você gostaria de receber a carta e com qual notícia?
De qualquer pessoa informando que o vice-presidente também não pode assumir – vamos combinar que ele também é dose, não?

11. Como não queremos que você transforme uma bola de vôlei no seu melhor amigo imaginário e a única pessoa na ilha será você, você terá direito a levar um animal de estimação para lhe fazer companhia (veja como estou facilitando sua vida!). Que tipo de animal você escolhe e por que? É um animal que você já tenha?
O mesmo papagaio do amigo Otavio, com a vantagem dele já estar treinado e eu ainda posso descobrir muitas estórias interessantes. E ensinar ele a declamar Fernando Pessoa – um excelente passatempo para um ano.

12. Do que você acha que sentirá mais falta? (Contato com as pessoas? Tecnologia? Não saber o que está acontecendo no mundo? Ttc...)
De dar o start no meu computador – mistura de tudo um pouco.

13. Por outro lado, o que você acha que será positivo, proveitoso ou benéfico na experiência? Ou divertido?
Por um lado acho que seria beneficamente positivo se eu aproveitasse como diversão. Por outro acho que poderia ser positivamente divertido de tirasse proveito dos benefícios. Entenderam?

14. Por fim, você tem direito a levar 3 outros ítens à sua escolha que:a) não entrem em contradição com nenhuma das perguntas anterioresb) não seja algo que você vá usar para sair da ilha, como um barco, por exemplo.O que você vai levar e por que?
Bombril - para descobrir se tem mesmo as tais mil e uma utilidades. Super-Bonder - para qualquer emergência. A chave de casa - que eu sempre levo em todas as viagens.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Autores desconhecidos (1)

Aproveitando a oportunidade de esclarecimentos aos leitores sobre um termo em holandês recorri a uma obra, com certeza desconhecida do grande público brasileiro, mas que teve estrondoso sucesso, a partir da década de oitenta, na Europa. O nome da autora é Til Brugkuserman e a obra em questão - Wie mijn appel korf verkoopt?

Se não me falha a memória, trata-se do seu terceiro livro - com teor fortemente autobiográfico. Apesar de cansativo, no princípio, pelas longas descrições de paisagens do interior da Holanda o enredo cresce ao longo das páginas culminando num final eletrizante. A história de Anneke e a sua luta para ser reconhecida como grande pianista, apesar de ser uma das vítimas da talidomida, traduz-se em momentos de magia e envolvimento pleno. Como escrevi no comentário do post de ontem, uma lição de vida!

O título da obra refere-se a uma lenda medieval batava em que as dificuldades da vida são simbolizadas pelo roubo de um cesto de maçãs, a única forma de subsistência da pequena Doortje. Esta lenda foi, inclusive, musicada por Gert Lüfgren. Para os amantes da música existe uma gravação extraordinária de Brund van der Bratt, ao vivo no 5º Festival Folclórico de Lelystad, lançada pelo selo Pinzl, em 1976. Parodiando o amigo Roberto, a emoção com precisão cirúrgica.

Acabei falando do milagre e esquecendo o santo. A biografia de Til já rendeu este livro e, provavelmente, muitos outros virão. Imaginem os obstáculos transpostos por uma negra, deficiente visual até tornar-se uma escritora de sucesso na Holanda. Nascida Marike Kern, filha de um sapateiro alemão e de uma bailarina espanhola, foi abandonada pela mãe quando tinha dois anos. Criada por uma tia paterna, Tilde, o seu pseudônimo adota parte do nome desta a quem ela considera sua verdadeira mãe, complementado pela junção dos sobrenomes de duas autoras de histórias infantis, do século passado – Marie Burg e Signe Kuserman.

Trabalhou como free-lancer em diversas publicações holandesas antes de dedicar-se integralmente a literatura. O primeiro livro - Hier ben ik – foi publicado apenas aos trinta anos. Nesta época já estava casada com Filippus van Turen, fundador do grupo empresarial Aan de wind, que tornou-se seu editor. Esta novela foi traduzida para diversos idiomas, com êxito notável de público.

A segunda obra, o romance religioso Vraag om God, publicada logo após o nascimento da sua segunda filha, Lisjbeth, também foi um sucesso de venda não obstante ter recebido uma crítica severa por parte do mundo literário europeu. Atualmente, Til reside na Antuérpia onde prepara o lançamento da primeira parte da trilogia Vent est, ainda sem título definitivo. Em entrevista ao semanário Flandresnews, a escritora referiu estar um pouco apreensiva com o livro, por tratar-se da sua primeira publicação originalmente escrita em francês.

Independentemente dos temores de Til Brugkuserman, temos certeza que a obra será um sucesso. Vamos aguardar 24 de fevereiro.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Pai, afasta de mim este cálice.

Existem poucas situações em que o obscurantismo se manifesta em todo o seu apogeu como na consideração de que o destaque pessoal deva ser uma manifestação ampla e irrestrita.

Certo é domingo, vou ser menos hermético e hermenêutico!

Porque raios, nós, tupiniquins semi-aculturados, cismamos que as pessoas, destacadas em uma, devam ser boas em todas as outras atividades humanas? Não nos basta que um cantor tenha o dom de encantar pela correta interpretação de letra e melodia. Exigimos que ele seja o melhor exemplo de relacionamento social, o politicamente correto, o bom pai, o pagador de impostos, o que nos ajuda na escolha do caminho político e interpreta textos bíblicos. E tantos outros aspectos de destaque. Em tudo premiado. Como se o prêmio, a sorte grande, não se encerrasse no cantar, maravilhosamente, bem.

Será que nós, pobres seres humanos, fomos capacitados para sermos os melhores em tudo? E será que, se assim fosse, agüentaríamos o tirão e a responsabilidade? Para mim, um refletivo contumaz sobre o assunto, a resposta é simples – NÃO. Deste modo maiúsculo, capital e definitivo. Não fomos feitos para o destaque indiscriminado. Sem deméritos religiosos ou oposição à auto-ajuda - não fomos feitos para a perfeição completa. E também não existem os naturalmente escolhidos e, portanto, bons em tudo.

Pai, afasta de mim este cálice. A vida não segue este caminho.

Entretanto, o reconhecimento de que não podemos ser bons em tudo não é uma solução. Se os seres humanos não possuem qualidades próprias para o destaque em todos os campos, eles devem fazer escolhas. E elas, não são fáceis. É mais cômodo perseguir uma fictícia factibilidade de atingir o olimpo pessoal, profissional, sexual, material e de tantos outros “al”. E morrer tentando. Sem encontrar aquele destaque autêntico. Aquele em que haverá orgulho de afirmar – sou o bom, o cara. Não importa qual seja, será o seu.

As escolhas pressupõem reflexão sobre as nossas qualidades e habilidades, mas também sobre vontades, aspirações, desejos e vivências. E metas de felicidade. Pode não parecer fácil ou lucrativo. Mas também não é complicado. O primeiro passo é querer descobrir. Os outros virão a seguir. Nascemos para ser feliz. Nem sempre perseguimos este determinismo. A busca dos destaques que conduzem a felicidade já é uma tarefa para toda vida. Eles são os importantes. Se a felicidade não vem ao nascimento, vamos pelo menos construí-la em vida e morrer feliz.

Já terá valido pena.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Esportes coletivos - CORFEBOL

Realmente, amiga Chris, eu nunca imaginaria você praticando um esporte coletivo como futebol, vôlei ou basquete. Por isso as indicações foram exaustivamente pesquisadas e adaptadas para características pessoais intrínsecas à sua pessoa (mesmo que você não as tenha descoberto ou que elas não tenham aflorado explicitamente). Ah, o doce mistério das novidades – o programa analítico 4S (Self-knowledgement, Sports and Special Situations). Do fundo do coração espero que esta série de indicações esportivas seja útil, inclusive, para o encontro do seu eu e crescimento pessoal.

Bem, a primeira indicação é o CORFEBOL.

Um esporte adaptado na Holanda, no início do século passado. Pela classificação do último post ele seria coletivo, com interação entre oponentes, estabilidade ambiental e de invasão. O objetivo do jogo é colocar a bola no cesto adversário, sendo praticado em um campo especial, com sistema de ataque e defesa, duração de 60 minutos (dois tempos de 30 minutos e intervalo de 10 minutos) com regras determinadas.

Como a finalidade não é apresentação do esporte e sim explorar as condições de indicação à cliente vamos, de pronto, aos fatos e peculiaridades do corfebol. Justamente na coletividade que este esporte se destaca, pois é o único praticado por equipes mistas, formadas por quatro homens e quatro mulheres, em cada time. Aqui aparece o primeiro diferencial – o esporte pode ser praticado com as amigas incluindo o marido. Dependendo das amigas e do marido, não consideraria um diferencial eminentemente positivo, mas ainda assim um diferencial. Ou quase. A análise das regras mostra a persistência de alguma descriminação visto que a marcação não pode ser realizada por participantes de sexos diferentes – homem marca homem e mulher marca mulher. Diferente daquela música aqui o que não pode é homem com mulher. Um pouco estranho.

Segundo os próprios criadores do esporte, “o corfebol favorece a socialização em curto espaço de tempo, propicia a disciplina e o sentido de responsabilidade individual e coletivo, melhorando a saúde física mental e proporcionando a capacidade de realização” – tudo o que você está necessitando no momento.

E mais as vantagens: primeira, a atividade requer trabalho de equipe; correr com a bola ou driblar não é permitido. Se você receber a bola enquanto estiver correndo, pare e passe a bola, de preferência para um membro de seu próprio time! Segunda, o esporte é um jogo de estratégia. Cada equipe tenta vencer marcando mais pontos, utilizando habilidades estratégicas do time como um todo. A bola não pode ser chutada ou acertada com os punhos, o importante são as habilidades, não os músculos - as regras evitam que a força física domine o jogo. Terceira, o contato físico é indesejável, bloquear, agarrar ou segurar os adversários não é permitido – muito útil no caso de participação do marido e das amigas. Creio que para as participantes solteiras dever-se-ia abrir algum tipo de exceção.

Pelo exposto, o esporte estratégico pode ser adaptado às suas necessidades físicas e familiares e com um pouco de treino e força de vontade, tenho certeza de que, em curto espaço de tempo, teremos uma grande corfebolista.

Esportes coletivos – classificação

Quando todos pensam que o mistério dos esportes coletivos está para ser decifrado, a esfinge cria novos complicadores. Não, eles não têm a função de embaraçar ou prejudicar o entendimento, são apenas uma ferramenta elementar dos escritores misteriosos ou, pelo menos, polêmicos. Uma das características de um bom escritor de estórias de mistério é criar uma aura de suspense onde ela, teoricamente, não existiria. Fugir de lugares comuns frequentemente associados ao ideário coletivo de ansiedade e expectativa. Evite cabanas escondidas, jogos de luz e sombra, fumaça em cantos de janela, cartas misteriosas ou mortes com echarpe magenta. Mistério em uma quadra de beisebol, isto faz sentido.

Antes de indicar um esporte para a cliente estropiada seria adequado que os envolvidos (no plural visto ser uma atuação coletiva) soubessem os critérios para classificar um esporte. Desta forma, não restaria dúvida se esta ou aquela modalidade seria considerada coletiva e, portanto, adequada. Entre diversos sistemas classificatórios, escolhi o mais simples. Nele os esportes são classificados de acordo com:

1. cooperação entre participantes - quando a atividade dos participantes não necessita de colaboração de outro participante diz-se que o esporte é individual e coletivo nos casos em que existam atividades colaborativas entre participantes;

2. interação entre os participantes - com interação quando a atividade motora dos participantes depende de ação dos oponentes e sem interação nos casos de ausência de enfrentamento entre os oponentes;

3. estabilidade ambiental – os esporte com estabilidade são praticados em espaços padronizados enquanto os sem estabilidade são realizados em espaços mutáveis que exigem adaptação dos participantes;

4. resultados ou princípios tácticos – dependendo da aferição de resultados os esportes podem ser descritos como de marca (registro quantitativo do resultado, comparável com outros registros), estéticos (qualidade da ação motora determina o resultado) e precisão (depende da aproximação com objetos ou sinalizadores). Quanto aos princípios pode-se encontrar esportes de combate ou luta, de campo e taco, de rede/quadra dividida ou muro e invasão ou territoriais.

Assim o nado sincronizado é classificado como um esporte coletivo, sem interação entre oponentes, com estabilidade ambiental, estético ou técnico combinatório. Como fica fácil a compreensão – despretensiosamente simples. Procurem classificar o futebol, badminton, equitação, bola de gude, ciranda de roda ou qualquer outra atividade lúdica. Uma boa classificação do esporte, antes da escolha, traduz-se em ganho de escala na aplicação dos princípios e no desempenho.

Isto posto pode-se passar a indicação de esportes coletivos. Com a consciência de que o esporte praticado até o momento – caminhada com aeróbica mandibular – preenche os critérios de classificação de coletivo (pela atividade colaborativa da conversa), sem interação entre oponentes (a não ser nos casos em que houver bate-boca com outros caminhantes), sem estabilidade ambiental e ..........


Como classificar o quarto item? Deve-se considerar como de marca, estético, combate ou invasão territorial? Façam suas escolhas.