sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Volver

Meros cinco dias de ausência do país e, quase, que o caos domina esta terra de Cabral. O presidente perde a compostura em discursos, arremete contra a classe média e persiste em bater boca com FHC, depois de cinco anos. E o lançamento literário mais esperado do ano, o livro da musa do verão, a meiga Mônica Veloso – imperdível.

Isso sem contar os pequenos deslizes dos confrades: Lele perdeu o tino e confundiu telefone com valores de orçamento (bastante elevado para oito dígitos). Chrises, na onda das comidinhas quase enlouqueceu na maratona dos cinnamon rolls e sua massa envolvente, carregando, junto, Gui o marido que sob o efeito de 76% de beberagem passou brincar de Hortelino troca-letras. Dois ainda permanecem inacessíveis, em seus encasulamentos voluntários. A velha anunciada simplesmente desapareceu. A mineira das Três Marias assumiu a identidade da outra conterrânea e desenvolveu chrise de decepção familiar, ainda bem que passageira. E o Musikal resolveu desenterrar o filho de um falecido bem sucedido.

Tudo em apenas cinco dias!

Pronto, cá estou de volta.
À vida normal.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Instantâneos paulistanos (3).

A neta Maria Rita dirigia o carro até o ponto que ele mandava. Dali em diante seguia a pé. Gostava de caminhar. Ia devagar e cuidadosamente. Mais pela dificuldade de enxergar do que por cansaço ou fraqueza. Tinha já 88 anos, completados em julho. Chegara em São Paulo quando a cidade ainda não tinha começado a crescer. Nordestino, sem estudo e com uma experiência em construção, logo foi admitido como ajudante de pedreiro. Fez carreira na construção civil. Em 10 anos era mestre de obras. Ao longo de 50 anos muito tijolo, cimento, areia e cal passaram por suas mãos.

Boa parte dos edifícios da cidade teve a participação dele. O edifício Altino Arantes, era obra sua. Assim como vários outros que receberam nomes das empresas ou dos arquitetos. Em nenhum havia sinal da sua participação. Uma placa, uma citação em livro ou jornal. Nada. Os anônimos construtores, os verdadeiros construtores estavam esquecidos.

Ele lembrava de detalhes de cada um deles. Da morte dos colegas no acidente do Palácio Anchieta. Do Stela Maris, na praça da Sé. Na paulista do Banco de Tokyo, da FIESP, Conjunto Nacional, Center Três. Recordava a dificuldade dos alicerces de uns e da rapidez da construção de outros. Agora recordava dos milhares de argamassas preparadas e colocadas para que os gigantes nascessem e crescessem. Quantas horas trabalhadas. Quanto suor, quanto sangue de gente desconhecida.

Durante um tempo pensou em estudar e ver se conseguia botar nome ou lembrança em algum dos prédios. A vida, a família as dificuldades reais e as construídas - nisso ele também era bom - não permitiram. E foi ficando como mestre de obras até parar de trabalhar. Agora já perto de ver o mundo do outro lado gostava de passear pela cidade e ver o que tinha feito. Talvez no fundo esperasse escutar, um dia, de alguém, parado em frente de alguma destas obras referência a ele ou seus colegas. Mera ilusão.

O reconhecimento não viria. Por isso procurava guardar as lembranças para quando os olhos não vissem mais. A sua obra, que ninguém conhecia. Só sua.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Ora direis, ouvir estrelas.

“Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos. Não há nada bom ou nada mau, mas o pensamento o faz assim. A vida é muito curta! Passar esse momento de forma vil seria um desperdício. A verdade nunca perde em ser confirmada. Acontece que, para ter o que desejamos, é melhor não falar do que queremos.”

“A ambição deveria ser feita de pano mais resistente. Um indivíduo pode sorrir, sorrir, e ser um vilão. Dê a todas pessoas seus ouvidos, mas a poucas a sua voz. Não é digno de saborear o mel, aquele que se afasta da colméia com medo das picadelas das abelhas. É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que à ponta da espada. Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente.”

“Os homens deviam ser o que parecem ou, pelo menos, não parecerem o que não são. Nós somos feitos do tecido de que são feitos os sonhos. Devagar! Quem mais corre, mais tropeça! Sinto a fúria de suas palavras, mas não entendo nada do que você diz. Quem não sabe mandar deve aprender a ser mandado. Sábio é o pai que conhece seu próprio filho. Até mesmo a bondade, se em demasia, morre do próprio excesso.”

Nada como uma série de citações do meu amigo bardo para desopilar a alma. Depois de um dia como o de hoje.

Algumas quedas servem para que nos levantemos mais felizes. Esta também – William Shakespeare.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Às mestras, com carinho.

Hoje aprendi muito. Participei de duas bancas de tese de mestrado. Numa, como orientador e, na outra, como argüidor. Apesar dos assuntos interessantes e do bom nível dos trabalhos, não foi com as teses que eu aprendi. Foi com as pessoas. Apenas observando, entrando em sintonia com o momento.

Não importa o quanto foi ou é semelhante/diferente a vida das duas candidatas. O que elas demonstraram hoje e, me ensinaram, foi uma lição de fortaleza e determinação. Sem a pieguice da pobre moça que luta para conseguir um objetivo. As duas mostraram que perseguir um sonho pode ser uma atividade penosa, mas também é divertida. As lágrimas e os sorrisos se misturam e complementam. Não há sentido apenas em um deles. Os desafios encontrados servem para o crescimento pessoal, genérico e amplo. Com que sacrifício, renúncia ou privação - só elas sabem.

Foi encantador observar aquelas duas meninas - permitam que lhes chame assim. Vibrando com cada solução e resposta bem colocada. Criando forças para superar as adversidades. Crescendo nas dificuldades. Lutadoras e vencedoras. Mestras, em toda a grandiosidade do termo.

Então, recordo os momentos e as tentativas de acalmar e consolar candidatos dizendo que não há motivos para tanta ansiedade. Que as etapas já foram cumpridas. Que a sorte já foi lançada. Que a cerimônia é apenas um rito de passagem. E esqueço que o momento deles é aquele. O espetáculo está apenas começando. As luzes acendem vagarosamente, as marcações de palco são lembradas, as falas, os sentimentos, a vida toda está ali. Por isso a ansiedade. Não tem nada a ver com a simples defesa de uma tese. É muito maior. Desventurado aquele que não vê.

E eu não estava vendo. Acho que havia esquecido como é bom sentir as pessoas realizadas. Isso mesmo – realização. A grandeza de atingir uma meta com esforço, mas também com grande prazer. Poder contar consigo para o que der e vier. Realmente a gente aprende muito com as pessoas, principalmente, quando elas não sabem que estão ensinando.

Adriana e Aline, obrigado pelo dia!

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Esportes coletivos - esclarecimentos.

Ainda antes de iniciar as indicações, gostaria de esclarecer alguns pontos sobre esportividade e coletividade. De uma forma genérica, esporte corresponde a todas as atividades acompanhadas de exercício físico e habilidades específicas, submetidas a regras especiais de desempenho. Coletividade refere-se a grupo mais ou menos extenso de indivíduos que possuem interesses comuns. Juntando os dois conceitos temos os esportes coletivos - atividades físicas em grupos sob controle de regras.

Com esta convergência conceitual podem-se analisar as sugestões de esportes, apresentadas por alguns amigos. Quanto ao pôquer, apesar da qualificação esportiva atual, a atividade física envolvida mostra uma limitação para o alcance de exercícios desejados, no caso clínico da amiga. Muitas das habilidades envolvidas neste esporte, principalmente as de estratégia e blefe, já são exercidas sem um resultado satisfatório, do ponto de vista da melhoria do estado físico. O descarte também pode ser justificado pela ausência de interesses comuns. Cada um por si e que os demais que se ferrem.

Em relação ao esporte descrito como mexe-mexe, prefiro não tecer nenhum comentário para evitar a exposição da pessoa que sugeriu e da cliente, a situações constrangedoras. Resta então o esporte da caminhada, já iniciado pela cliente com a participação do amado esposo. Na verdade uma clara contaminação da cliente pelo referido senhor. Mas será que os critérios de esporte coletivo são preenchidos por esta atividade? Apesar de incluir exercícios físicos e habilidades específicas, a caminhada a dois carece de regras de desempenho. Mas esta questão poderia até ser relevada.

O fato que impede a aceitação, desta sugestão, está ligado à questão conceitual de coletividade e as conseqüências da sua aceitação nestas circunstâncias. Assumindo que uma atividade realizada por duas pessoas possa constituir-se em coletividade, as regras de generalização permitiriam considerar o ato sexual a dois, como sexo grupal. Com todas as conotações decorrentes do fato ou do ato. Portanto, parece mais adequado evitar a aprovação desta forma de caminhada como um esporte coletivo.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

O dia da consciência negra.

Amanhã, comemora-se o dia da consciência negra. A data, 20 de novembro, foi escolhida pelo seu significado para o movimento negro brasileiro. Na vida de Zumbi, mais do que na morte, inspira-se a representação de luta contra a descriminação, o racismo e as tentativas de submissão dos negros.

E o que eu, branco, posso fazer neste dia? Assistir às manifestações. Refletir sobre as barbáries, ainda cometidas, em nome de uma estratificação pela cor da pele. Participar de alguma atividade. Entrar no ritmo e no objetivo da comemoração? Creio que a forma mais adequada de participar não inclui, simplesmente, uma demonstração exterior de repúdio pelas atitudes racistas, dos outros. Contextualizar a situação atual, mais do que exorcizar grandes erros históricos, fará a diferença.

Se cada um de nós, que nos julgamos não racistas, refletirmos sobre os pequenos deslizes cometidos em pensamentos, palavras e atos e buscarmos, sinceramente, eliminá-los um passo enorme será dado para a melhor convivência entre brasileiros. Pequenas ações contam muito. A mudança de atitude individual ou de pequenos grupos, com certeza, contribuirá para o todo. Primeiramente, mude um pouco de você. Depois coopere para a mudança em seus amigos, vizinhos, comunidade... Deste modo, um dia o sonho de Martin Luther King e de tantos outros se tornará realidade.

E que esta mudança de postura valha para outras questões sociais. Vamos comemorar, também, o dia da consciência da igualdade dos brasileiros – independente da cor da pele, do sexo, da orientação sexual, da posição financeira, da condição de saúde, do tempo de vida, da posição social, das crenças religiosas ou de qualquer outra condição minoritária ou, pretensamente, maioritária.

domingo, 18 de novembro de 2007

Uma simples convocação aos amigos!

A blogueira de plantão e o marido fizeram uma contribuição aos amigos indicando um jogo, identificado como “viciante”, para amantes da música e do cinema. No post do convite ela informou que era um pouco chato de carregar, mas depois seria auto-explicativo. De uma forma subliminar caracterizou que haveria grupos de disputa – eles e os outros.

Como a equipe concorrente (até este momento havia apenas uma equipe no jogo) era composta por dois elementos, sem contar a participação do Paul, resolvemos que deveríamos explorar os conhecimento do Roberto e formar uma equipe de três. Denominamos a equipe de Titans e escolhemos o nome de três deles para identificação dos membros – Ceo (como o nome indica o manda-chuva), Crio (o mais cri-cri do grupo) e Cronos (o mais antigo). Com estas denominações deve ficar fácil o reconhecimento de cada um.

Devido às atividades trabalhistas de dois membros só poderíamos começar o jogo depois da saída da locadora e do jantar. Pelo cronograma já idealizado pelo Ceo a expectativa de início seria entre às 23:11 e 23:14, horário brasileiro de verão. Antes mesmo do início das atividades recebemos informações que os adversários (de agora em diante denominados assim) já haviam atingido a marca de 59%.

Como forma de estímulo para os componentes da nossa equipe, enviamos uma confirmação acompanhada de desdém pela equipe concorrente. Informamos que em pouco tempo completaríamos a tarefa, ganhando de lavada.

Não foi bem assim. O destino quis que os acontecimentos seguissem um caminho um pouco diverso deste sucesso todo. Como a idade média dos participantes suplanta a dos concorrentes em mais de 80% e as co-morbidades (apesar da equipe concorrente não estar em sua saúde perfeita) são mais elevadas, tivemos alguns problemas. Até que todos tomassem as suas medicações noturnas foi um bom tempo. Aqui incluído o horário para o chazinho e o mingau de aveia com Maizena – desta vez sem banana por razões óbvias. Dai abrimos e começamos o jogo.

Ou não tivemos problemas em baixar o programa ou não entramos no local certo. Como abriu uma tela de músicas e filmes, nem lemos as instruções e partimos para luta. A sabedoria do conselho de idosos deveria prevalecer sobre instruções fúteis. De início o som do computador parou de funcionar. Arrumamos e voltamos a jogar. Por não ter lido as instruções e com a soberba da auto-suficiência, não gravamos o que tinhamos feito e perdemos tudo. A alegria ainda contaminava o ambiente. Recomeçamos.

Um dos membros resolveu utilizar o micro-ondas para aquecer água para outro chá. Queda da fase de luz onde estávamos jogando. Perdemos o não gravado de novo. Os ânimos entre os participantes começam a esquentar. A cada música não conhecida uma acalorada discussão sobre as possibilidades. E o tempo passando.

Chega um e-mail dos adversários. Que legal em manter o contato com informações deste nível. Já atingem 70%. Não vou citar o nosso índice, pois ainda é uma questão dolorosa de ser tratada. Mais chá e mingau e menos avanço nas músicas. Briga entre dois participantes. Agressão física. Entrada no Hospital Nove de Julho com hematomas e TCE. Na saída para o PS recebemos a informação de que os adversários atingiram a marca de 94%.

Um dos membros, como se nada estivesse ocorrendo, com ar desligado, olhos vermelhos e vidrados continuava em frente ao computador jogando, jogando, jogando... Completamente fora de si, viciado. Mesmo fora da tela, em camisa de força, continuava a fazer movimentos de digitação e solfejar trilhas sonoras. Horas fora do ar.

Foi o basta! Após o retorno dos pronto-atendimentos psiquiátrico e clínico, paramos com o jogo. Nunca mais queremos tocar no assunto. Agradecemos ao casal amigo por esta noite muito agradável. Inesquecível. Vocês são uns amores. Jogamos a toalha. Vocês têm a melhor equipe.

Lembranças até a quinta geração.

PS - antes das pequenas confusões atingimos 62%. Sabe o que vocês fazem com a proposta de temas de televisão?

sábado, 17 de novembro de 2007

Esportes coletivos – a introdução

Por uma questão de saúde uma amiga teve de fazer uma consulta com ortopedista*.
Por si só este acontecimento mereceria comentários e aplausos. A idéia que se tem dos profissionais da Ortopedia, na maioria das vezes, é depreciativa e associada com urgências, fraturas, truculências e capacidade de raciocínio limitada. Sem perder o foco, pois o post não é uma análise do desempenho da especialidade, ao final da consulta houve uma sugestão de participação em esporte coletivo.

Confesso que estranhei esta recomendação. Primeiro porque a atividade física aparenta trazer o mesmo benefício quando realizada individual ou coletivamente. Segundo porque a limitação atual da capacidade pode contribuir para um insucesso na participação coletiva. A não ser que se opte pela escolha de grupos com níveis de comprometimento semelhantes. Mas a minha dúvida maior foi – qual esporte ela poderia escolher?

Independente da opção escolhida pela amiga, gostaria de dar algumas sugestões que me parecem pertinentes. Ou pelo menos empolgantes. Algumas dela podem associar a atividade física com técnicas psicológicas de reversão de outros desconfortos. Para facilitar o entendimento da amiga – que às vezes não pega no primeiro tranco - procurarei ser didático, descrevendo cada um dos esportes, as atividades envolvidas e os ganhos proporcionados. Os esportes serão postados separadamente, como numa mini-série. Cada capítulo chamando atenção para a próxima atividade coletiva.

Aguardem a largada!


* vamos combinar, meu, que citação nonsense, por acaso ortopedista lê sorte, empresta dinheiro sem juros, faz maquiagem, conserta carro, cuida de filho pra gente ir ao cinema?

Que blog é esse?

Alguns conhecidos devem estar estranhando que esse não seja um blog médico. Nem mesmo um blog de médico. Agora, estes alguns devem estar perguntando qual a diferença entre um blog médico e um blog de médico? E que outros tipos mais existem?

Primeiro, o blog médico serve para alguns colegas exercerem a simplicidade e o grau de esclarecimento, que deveriam ter para com todos os consulentes, apenas na via eletrônica. Como uma demonstração de sintonia com a patuléia, descomplicam todos aqueles jargões médicos e passam a falar a mesma língua do público. Com isto prestam um bom serviço, pelo menos no atacado. Quando as questões se individualizam, retornam as suas origens e discutem como se fosse uma conferência entre colegas. O varejo sai prejudicado. Cada caso continua sendo um caso, com todo o seu significado clínico.

Segundo, um blog de médico serve para alguns colegas generalizarem a fórmula de solucionar problemas apreendida durante a formação médica, aplicando-a em diferentes temas. A linha de raciocínio e as buscas de soluções ainda permanecem, eminentemente, médicos. Mesmo sem falar diretamente em Medicina os exemplos são completamente contaminados pela formação na área. Sempre sobra um pouco do ranço da área de origem. A difusão da cultura hipocrática. A indução dedutiva ou a dedução indutiva aplicada à exaustão. Um mero conserto de televisão assume ares cirúrgicos. As informações tornam-se preventivas, diagnósticas, terapêuticas ou prognósticas.

Já alguns escolhem serem apenas médicos blogueiros. A mensagem em primeiro lugar. Óbvio que sem conseguir ou querer apagar/disfarçar uma realidade. Para estes, a missão abraçada nos bancos escolares (de ensino superior, mas nem por isso deixam de ser bancos de escola) assume outro enfoque. Sem um grande feito de proximidade ou aplicação de conceitos. Apenas um médico com blog. Uma pessoa com uma profissão e que optou por uma forma de comunicação específica. Quando necessário pode passar por momentos de blog médico ou blog de médico. Estar, mas não ser.

Isto faz toda a diferença.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Corrente de amigos (2)

A corrente de amigos com blog está aumentando de forma exponencial. Estamos diante do milagre da multiplicação dos blogs, um feito digno do santo padroeiro. No início era um verbo, que se multiplicou em três, que passou para cinco, que cooptou o sexto na blogosfera e finalmente, nesta última fornada, completou dez. Um número muito significativo pelo tempo e pela qualidade dos participantes.

O primeiro, bem o primeiro dispensa apresentações. Depois, uns chegaram tímidos, trocaram o del pelo ctrl V, cresceram e impuseram o seu estilo próprio. Outros optaram pela verborragia explícita, desde o princípio. Já os incluídos no intervalo de quatro a cinco patinam um pouco, aparecem e desaparecem como as flores nas estações do ano ou as marés. Cada um ao seu tempo descobre o prazer, a importância ou a necessidade de escrever. Apesar das cobranças e estímulos os amigos aceitam o que cada um tem para oferecer. Como na sopa do post do mais escondido. O sexto elemento trouxe a experiência de longa data de militância.

E agora, nestas últimas semanas, as barreiras da timidez se romperam de vez. A chegada do Roberto, do Otávio, da Adriana e mesmo da saliente Anunciatta infundiu alegria e engrandeceu o grupo. O silêncio foi quebrado e agora temos música, da melhor qualidade. E sabor, picante. Tenho certeza que a desenvoltura da nova mineira e a irreverência da velinha vão contaminar a área.

Sejam todos bem-vindos! Agora o mundo está conosco. Ou quase todo. Que a inspiração continue, pois ainda faltam amigos para serem enlaçados pela corrente.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Decepção atrás da cortina

Relógio da Torre da Prefeitura da Cidade Velha
Praga - 2007
Por definição sentimento de descontentamento ou frustração pela ocorrência de fato inesperado, desapontamento. Ocorre nas melhores famílias. Com qualquer pessoa. Até os monumentos tem decepção. Às vezes com outros monumentos.

Este acontecimento ilustrará um pouco esta sensação monumental. Depois de diversas tentativas, finalmente consegui visitar a Tchecoeslováquia. Não estranhem a referência. Na minha idade as pessoas demoram a acostumar-se com novas denominações. E mesmo porque a minha vontade de conhecer Praga vem desde a época em que o comunismo mantinha os dois países amarrados. As razões não estão relacionadas com a insustentável leveza de nenhum ser e muito menos com qualquer filme rodado nesta cidade (o segundo destino mais procurado pelos diretores de cinema depois de Londres) ou livro de autor local.

Apenas curiosidade turística. As informações recolhidas, principalmente depois da facilidade da internet, permitiram escolher e programar os mínimos detalhes. Em algumas circunstâncias até vivenciar, imaginariamente, as emoções por estar diante de alguns locais ou monumentos. Pois um destes era o relógio da Torre da Prefeitura da Cidade Velha. Ressalte-se o era. Não só porque já esta na lista dos conhecidos, mas porque se houvesse uma lista de decepções turísticas, ele estaria em local de destaque.

Não interrpretem este desabafo com um demérito para o relógio que possui todas as características descritas em guias, sites da internet ou programas do travel channel. A decepção ocorreu mais pela expectativa exacerbada do que pela ausência de algum dos itens descritos como soberbos. Não houve a conjunção da soberba do monumento com a minha soberba. Apenas isso.

A torre é deslumbrante. O relógio tem todos os componentes astronômicos referidos, o que dificulta o simples ato de ver as horas - decepção. No meu conceito relógio, mesmo astronômico, deve mostrar as horas facilmente. O espetáculo da mudança de horário, com animação das figuras da vaidade, avareza e morte e desfile dos doze apóstolos também foi de uma simplicidade comovente, apesar de juntar uma multidão que lembra a saída do trabalho na Torre de Babel. Posso estar enganado, mas sobrou a sensação de que não estive sozinho neste desapontamento e os suspiros da multidão não foram bem de deslumbramento. Isso? OK.

Se realmente a primeira impressão é a que fica tenho certeza de que não aceitarei a missão de escrever uma ode turística a este monumento, em nenhum veículo de divulgação. Algum dos amigos já teve uma decepção semelhante?

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Crème de la crème

Poucas pessoas sabem, mas eu sou um grande cozinheiro. Como ainda não terminei o meu período de aprendizado formal e não tenho nenhuma documentação comprobatória, não posso ser classificado como chef. Sou um autodidata. Aos dezesseis anos iniciei a Academie d’Art Culinaire de Paris, mas desisti do cordon bleu porque a nouvelle cuisine parecia muito primária e rudimentar para uma grande alma. Ao longo da vida enveredei para a cozinha moderna, pós-moderna e fusion até que me deparei com os princípios da cozinha alquímica.

A busca da pedra filosofal culinária é um exercício que me encanta. Nas minhas horas vagas, que não são muitas, imagino a criação de uma teoria alimentar tão revolucionária como a da relatividade. A evidência definitiva de que o desconstrutivismo culinário é capaz comprovar a ingestão de energia pura sem incorporação da matéria da alimentação formal.

Nada de pílulas energéticas de ficção científica. A comida alquímica proporciona a catalização energética sem a necessidade de uma inclusão alimentar. Pouco são os convidados para esta ceia especial. E aqueles que conseguem atingir este nirvana gastronômico têm a obrigação de compartilhar com os não iniciados.

Nesta última passada por Barcelona tive a oportunidade de trocar idéias com um amigo sobre diversos assuntos. Desde a simples troca de receitas até elucubrações sobre a influência da voluntariedade nas formas alternativas ao ato de deglutição e o efeito da pulverização de aminoácidos na dieta moderna. Foi um conversa proveitosa, bastante conceitual.

Como lembrança da visita, deixei uma receita minha, extraordinária, com ingredientes tropicais:

Nubbe de cajá com taiolette de tartaruga

Ingredientes
2 e ¼ cajás faissandée
4 patas de tartaruga marinha
1 xícara de farinha de burinajá verde
3 folhas moídas de Cássia de Java
1 folha de gelatina branca
Coentro e sal a gosto

Preparo do cajá
desmanche o cajá em um lenço de algodão egípcio 400 fios,
passe em peneira de titânio com poros de 0,4 micra,
deixe à noite no sereno da lua nova e reserve a pasta

Preparo da taiolette
ferva as patas de tartaruga em água recicée durante três minutos,
retire a pele com extrator à vácuo,
não toque na carne depois de retirada pele
polvilhe com a farinha de burinajá
corte em tiras de 14 mm e enrole sobre si mesmas

Nubbeação do cajá
insira a pasta de cajá na caixa contentora do instrumento
acione o programa nº 3 com 12 ciclos de quente/frio
use o bico condensador oval ou hexagonal
recolha as nubbes em um recipiente de cristal pré-gaseificado com nitrogênio
as nubbes estarão no ponto quando o estalo no céu da boca emitir semi-tom em fá sustenido

Acoplamento estrutural com a taiolette
leve as nubbes e o taiolette a um microscópio de varredura,
incorpore a gelatina pré-disolvida
selecione a terceira camada de spins externos da taiolette
energize a ligação covalente entre os elétrons da nubbe

Deve ser servido imediatamente após energização
Uma receita fornece quatro porções

Observação: as nubbes devem ser comidas de boca fechada para evitar o deslocamento de ar gutural que modifica o sabor.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Saídas estratégicas

Nem todas as situações em que nos metemos são ou permanecem agradáveis. Às vezes encaramos furadas inimagináveis. Nestes momentos o único comportamento adequado seria se livrar do inconveniente. De uma maneira eficaz. Respirar fundo, colocar as idéias em ordem, elaborar o apuro, manter a serenidade e encontrar uma saída para a enrascada.

O problema reside exatamente aí. Como fazer esta saída estratégica sem causar um desastre?

A primeira opção seria uma saída à francesa, de fininho como se nada estivesse acontecendo. Sem despedidas, sem chamadas de atenção, como quem fazer xixi no pátio de trás da casa, de desconhecidos. Camuflagem total. A estratégia deve começar por não tocar direto no assunto, dirigir para um assunto antagônico e que desperte polêmica e deixar as pessoas, literalmente, falando sozinhas. E nunca mais aparecer. Sem telefonemas, cartões de Natal ou leituras de necrológio. Página virada.

Sempre existe a possibilidade de ir para Aimorés. Esta lendária cidade do leste mineiro, quase na fronteira com Espírito Santo, era a referência materna de recolhimentos das complicações da vida. A grande saída dos desiludidos e apurados consistia em ir para Aimorés. Quase uma espécie de Xangri-lá tropical onde as pessoas se recolhiam por algum motivo particular e que não necessitava, obrigatoriamente, uma socialização. O recolhimento em Aimorés significava desaparecimento sem volta. Um cemitério de elefantes humanos. O esquecimento total.

Se a gente soubesse aonde ia dar e houvesse garantias de sucesso poder-se-ia apelar para uma saída pela esquerda, a famosa frase do Leão da Montanha, desenho animado da Hanna-Barbera, para fugir do caçador baixo e outros apuros. Isto se o problema não se deslocar para o mesmo lado da saída estratégica. Não se pode esquecer que as enrascadas têm um tropismo positivo pelos agentes. Caso não se crie um fato libertador os apuros se sedimentam e tomam conta da situação. E vão junto com a gente.

Outra solução seria uma saída que eu vou batizar de ininterrupta. Neste caso apela-se para uma atividade simples como comprar fósforos, ir ao dentista, pegar uma xícara de café, dar um telefonema e aproveita-se para solucionar o apuro desaparecendo para sempre. Não retornando da atividade, tornando-a perene.

Caso o desastre fosse inevitável a melhor estratégia passaria a ser simplesmente a exposição da desagradabilidade dos fatos com todos os seus aspectos pejorativos, repugnantes e repulsivos. E, assim, transferir para os outros envolvidos o ônus de buscar uma saída.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Embromação

Depois de dezoito horas no ar, para a participação no congresso de Goiânia, acho que a bateria arriou um pouco. Acordar às quatro horas, junto com os padeiros e entregadores de jornal, pegar o avião (no horário!), uma conferência, social na hora do almoço, mesa redonda à tarde, mais social até o aeroporto e chegar em casa.

Apesar de ser uma das atividades mais gratificantes, falar em público e transmitir conhecimento também cansa. Suga uma boa parte da energia que deveria ser canalizada para a região do cérebro, responsável pela compilação de simples palavras em textos fantásticos, prodigiosos, fascinantes e maravilhosos. Como os que são produzidos para este blog. Esta última afirmativa confirma a minha hipótese neuro-fisiológica de que a modéstia não seja bloqueada pelo cansaço. As conexões e/ou os neurotransmissores não são comuns.

Penso em apelar para alguns dos escritos preparados previamente e que deveriam funcionar como curinga para uma hora desta. Os títulos e os assuntos não estimulam a publicação – “Fronteiras da psicanálise na região setentrional do Rio Grande do Sul”, “Modificadores quânticos de amostras aleatórias unidimensionais”, “A bruxa boa e a fada má – uma derivação comportamental de arquétipos”, “Mitos do existencialismo francês no pós-guerra” e “Estava-a-velha-no-seu-lugar tomo 3”.

Para manter a sanidade opto por desejar apenas um bom início de semana a todos.

domingo, 11 de novembro de 2007

Conhecimento global

Transitoriamente vou me apoderar da brincadeira de volta ao mundo, proposta pelo Guilherme. O Otávio já comentou os seus conhecimentos, a PI seguiu o mesmo caminho ontem e eu, particularmente, também utilizei o mapa do site. Daí me veio uma sensação de que juntando todos os nossos pedaços, o conhecimento do mundo não deve passar dos 15%. Um pouco porque conhecemos muitos países em comum e outro porque não trabalhamos para o governo. O de Garanhuns deve ter aumentado muito a sua parcela no mapa, nestes últimos anos.

Que tal se formássemos uma Confraria da Viagem? Cada um teria a missão de viajar para um lugar incomum, pelo menos para os padrões do grupo, e assim aumentaríamos o conhecimento global, literalmente. Apesar de não saber das proporções e conhecimentos de todos os confrades, tenho algumas sugestões. Caso forem citados países já visitados pelos amigos, modifiquem nos comentários. Cada um terá um papel importantíssimo:

a Chris ficaria com locais de civilizações antigas, poderia ser até útil para as suas pesquisas de genealogia – Grécia, Egito, Pérsia, Caldéia, Mesopotâmia, Assíria. Pode-se incluir também a Holanda devido ao grande desenvolvimento da ortopedia, neste país;

o Guilherme ficaria com a missão peregrina por locais de elevado índice de religiosidade, independente de crenças – Índia, Tibet, Peru, México, Israel, Península Árabe. Não há necessidade de que o trajeto seja cumprido a pé;

o amigo ParanoidJ teria a incumbência de visitar os países orientais – Japão, Coréia, China, Tailândia, Vietnam, Mianmar, Laos, Cambodja e outros de olhos puxados. Na volta haveria o compromisso de um workshop sobre similaridade e divergências da região. O gosto de falar em público teria de desabrochar,

para PI, por causa do seu lado humanitário desenvolvido em visitas às favelas desde o período de formação acadêmica, reservaríamos parte da África setentrional (Argélia, Líbia, Tunísia, Sudão e Marrocos) e da África oriental (Burundi, Quênia, Ruanda, Etiópia, Tanzânia e Uganda);

o Roberto, pela relação especial desenvolvida ao longo dos anos com países vizinhos, cobriria os faltantes da América do Sul (Equador, Venezuela, Colômbia, Paraguai, Guianas) e da América Central (Nicarágua, Honduras, Panamá, Trinidad Tobago)

a missão do Otávio seria visitar localidades ilhoas da Oceania e do Oriente – Austrália, Nova Zelândia, Sumatra, Bornéus, Filipinas, Samoa, Tuvalu, Papua-Nova Guiné. As civilizações pigméias também podem ser incluídas;

a Lelê só será liberada para viagem depois da finalização da tarefa atual. Sua missão incluirá os países desenvolvidos em design do Oriente Médio e da Ásia (Cazaquistão, Afeganistão, Mongólia, Rússia, Azerbadjão e todos os outros ãos da região) com direito a colocar flores no Mar Morto;

finalmente, depois desta cobertura completa sobram pouco locais para o coordenador, no caso eu. Acho que vou me limitar a uma nova passada pelo circuito Elizabeth Arden. Ah, a chatice de voltar a Milão, Paris, Londres, Nova Iorque e Roma.

Apenas por uma questão de ordem sugiro que a Confraria comece por mim.

sábado, 10 de novembro de 2007

A Lenda das lágrimas

Ainda na época das trevas e da escuridão eternas Tupã mandou a terra sua filha predileta. Ibiacy teve a missão de iluminar o mundo e tornar as terras férteis. Na forma de uma linda mulher, com a cabeleira farta e negra como as asas da graúna, ela encantou a nação camaiurá. A luz se fez em dia e do solo brotaram os frutos e as sementes. Os rios transbordaram de peixes e a fartura abençoou aquela nação.

Protegidos pela casca do céu, criada pela enaré Akuanduba, os índios viviam de acordo com as regras básicas da natureza: acordavam, comiam, bebiam e dormiam. A amizade era um dos valores mais apreciados. O controle dos excessos era feito pelo soar de uma flauta mágica que chamava a atenção de todos para o cumprimento da boa ordem. O riso e a alegria dominavam a gente das terras deles. As festas duravam longos períodos em homenagem ao protetor das plantas e dos animais, o gênio da floresta – o Curupira.

A calmaria só era interrompida pelas disputas e invasões das tribos vizinhas. A guerra provocava a morte de heróis e o povo rendia-lhes homenagens, com danças e fogueiras. A melancolia e a tristeza eram acompanhadas apenas por um silêncio profundo. O choro era desconhecido. Durante uma época de grande escassez de alimentos, o sofrimento da tribo foi tal que tiveram de recorrer ao poder de Nhandeyara, o grande espírito. Eles sabiam que o atendimento do seu pedido estaria condicionado a um sacrifício. Mesmo com todos os riscos, preferiram enfrentá-lo.

A solução, imposta pelo espírito, determinou o sacrifício da alma mais nobre da tribo. Ibiacy se ofereceu. No entardecer do mesmo dia caminhou até à margem do rio para o encontro com Mãe Muiraquitã. O destemor da filha de Tupã não passou despercebido dos outros espíritos, que impediram a morte da índia. Retirada das águas pelos braços de Yara, Ibiacy começou a soluçar. E dos olhos brotaram fios de água.

As lágrimas vertidas por Ibiacy mudaram a desdita do povo camaiurá. O sol reapareceu, os frutos brotaram e os peixes voltaram aos rios. Deste dia em diante o sacrifício das lágrimas transformou-se no milagre da solidariedade e da remissão das mágoas. As lágrimas passaram a inspirar os espíritos na reversão dos males.

Assim foi e assim será, para o sempre.

Mais simpatias, agora para memória!

Um dos grandes problemas mundiais é a memória. O problema inclui distúrbios relacionados a fatos, acontecimentos, datas, pessoas, lugares e outros componentes da vida de relação. Ele pode causar danos quando associado à falta ou ao excesso de lembranças. Nada mais comprometedor do que uma pessoa com facilidade para recordar fisionomias, idades e fatos, principalmente os ocorridos em festas. Boa memória e língua solta é a mistura perfeita para exclusão social. As regras de bom convívio determinam que alguns fatos devam ser esquecidos voluntária ou involuntariamente.

Grande parte dos seres humanos é afligida por problemas da memória. Uma outra boa parte tira proveito da existência destes problemas e finge um esquecimento providencial, dependendo do momento e da situação. Aniversário de sogra, auto-avaliação de desempenho, pagamento de dívida, trabalho de faculdade são alguns dos inúmeros exemplos da conveniência da falta de memória seletiva. Existem ocasiões em que à perda de memória aflige ou beneficia um grupo de pessoas, essencialmente após porres homéricos. Nestes casos cumpre a salutar finalidade de encobrir uma crise ocasionada pela perda da propriedade de determinada parte do corpo, por parte dos sujeitos alcoolizados.

O tratamento destas situações nem sempre alcança bons resultados. Desta forma algumas pessoas apelam para soluções alternativas que podem, inclusive, incluir alguma simpatia. Nem sempre é fácil lembrar os passos da simpatia. Principalmente, para quem já tem problemas de memória.Tento transmitir uma, que aprendi recentemente.

Acho que era mais ou menos assim. Pegue, recolha ou compre, não me lembro bem qual deles, umas sete. Ou seriam, nove? Não eram sete folhas de manga vermelha. Pode ser que a simpatia recomende banana amarela ou kiwi verde. Agora estou com dúvida se não era kiwi vermelho. Bem, tanto faz. Uma fruta da estação, na cor que estiver na moda ou quiser. Depois de dar os três pulinhos. Que pulos, são estes? Pular em cima da fruta? Vai sujar tudo. Acho que confundi as simpatias – esta é para encontrar coisas, a simpatia de São... São... não consigo lembrar nem o nome do santo. Calma, começar de novo.

Abra e feche, sete vezes a porta vermelha da dispensa e procure caroços de manga rosa. Coloque dentro de uma folha de papel celofane azul marinho. E se for longe do mar? O azul pode ser celeste. Céu tem em todo o lugar. Depois dos três pulinhos... De novo. Que pulos? Isto é para São Longuinho. Ufa, finalmente veio o nome do santo. Vou tentar me lembrar de novo. Bem, depois de preparar a simpatia repita três vezes – luz que vai, luz que vem... Perai, será que a luz vem antes de ir ou vai antes de vir? Luz que (escolha uma opção), luz que (escolha a ação oposta a opção escolhida antes)... faça com que a minha memória fique... Onde eu estava mesmo?

Alguém se lembra de uma boa simpatia para memória?

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

As cores fazem a vida.

Cores e formas VI - Roberto Bezz

Toda a vez que eu vejo uma escala de cores, daquelas que tem muitas cores mesmo, eu fico impressionado como nós somos limitados na descrição do colorido do mundo. Nas mais diversas situações a gente deveria iluminar e colorir com maior intensidade as estórias e os personagens, principalmente as do dia-a-dia.

Vou contar uma estória colorida. Tem final feliz, com início e meio não tanto. Mais vou carregar nas cores e fazer dela uma bonita estória. Hoje uma amiga teve um branco. Literalmente um branco fantasma. Todos eles apareceram para tornar o seu dia completamente cinzento. Entre o cinza ardósia e o cinza fosco. As causas foram as mais diversas, semelhante a uma maré vermelha. De um vermelho violeta pálido. Bonita para quem vê péssima para quem sofre.

Os pensamentos escureceram como se estivessem numa floresta carregada de verdes escuros, verde grama, verde lima e um pouco de verde primavera médio. O semblante pálido como seda ou rosa embaçado, deixava transparecer a dor, soturna e carregada de um marrom sela. Não, com certeza não era um mar de rosa. O sorriso amarelo dos amigos não conseguia transmitir o quão preocupados estavam. Não pela gravidade, mas pelo sofrimento quase funesto e magenta. Alguns até sentiram-se culpados. As nuvens negras rondavam as cabeças.

Mas a solidariedade é jade e jambo. E a luminosidade começou a aparecer discretamente por trás dos tons carregados de castanho avermelhado e caqui escuro. Lentamente a corrente parece que surtiu efeito. Os olhos azuis, castanhos, ciano escuros começaram a brilhar depois das notícias alentadoras.

Eram 5:55 pm quando uma fumaça branca avisou – habemus melhorae. O céu azulou profundamente assimilando tons que foram do azul real ao azul flor de milho, passando por cobalto, furtivo e médio e culminando num entardecer repleto de dourado escuro, âmbar, borgonha e amarelo crepúsculo.

Simpatias

Você está sofrendo de dores nos membros inferiores? Já procurou um médico e não encontrou solução para isso? Com certeza, alguma comadre vai lhe indicar uma simpatia: coloque um pouquinho de terra de cemitério em cada um de seus sapatos, borrifando água benta em seguida. Deixe os dois bem juntos um do outro. A mesma simpatia pode ser arrematada, deixando-se os sapatos, de boca para baixo, sobre um pano vermelho, com as solas expostas ao sol. No máximo em dois dias desaparecerá a dor. Neste caso não há necessidade de ladainhas acompanhando a simpatia.

A maioria das simpatias é composta por uma tarefa que inclui uma quantidade de alguma coisa, colocada dentro de ou levada para algum local, acompanhada da recitação de alguma frase específica para o problema em questão. Se a gente procurar bem e perguntar para as tias velhas veremos que existem simpatias para, praticamente todas as situações.

Para trazer felicidade, visite durante quatro semanas um orfanato e na última semana deixe uma peça de roupa íntima recitando – feliz, feliz serei já que aos necessitados ajudei. Pensou em simpatia para sorte grande. Existe. Simpatia para pegar marido, novo ou usado. Também tem. Simpatia contra mau olhado, impotência, cobreiro, olho de peixe. Todas estão disponíveis. Em algumas situações temos uma infinidade de opções que pode dificultar a escolha. E como não existe, ainda, nenhum manual de simpatias baseadas em evidências, aqui vão algumas dicas para o sucesso na execução das simpatias:

nunca modifique os números indicados na simpatia, mesmo que você precise de uma ação mais efetiva ou mais intensa. Existem descrições de brotamento de três pênis flácidos, um em cada lado do corpo, depois da alteração quantitativa de uma simpatia para impotência;

não altere a ordem de execução da simpatia. Muitas mulheres ficaram carecas depois de lavar o cabelo com a água contaminada com urina de gato por não prestarem atenção de que o gato devia urinar na água depois da cabeça lavada;

acredite na simpatia que esta fazendo, senão ela pode voltar-se contra você. Lembram do final daquele filme “A revolta das simpatias desacreditadas” em que o bando de zumbis acabava com uma cidadezinha inteira na Noruega?

não troque materiais para baratear a simpatia. Principalmente se a simpatia incluir retorno financeiro. Deixe de ser pata de vaca;

não esqueça ou invente a frase que acompanha a simpatia. A troca de um termo pode ser fatal. Decore o texto e repasse inúmeras vezes até a estréia.

não repita indefinidamente uma simpatia, caso ela não tenha um retorno no curto prazo. Algumas simpatias foram feitas para uso unitário. Uma senhora ficou viúva treze vezes em dois anos porque abusou do uso de uma simpatia de viuvez.


Caso estas dicas não dêem resultados você pode apelar para o Librorum simpatiae simpaticorum, onde estão descritas as simpatias para que as simpatias peguem no tranco. Mas cuidado com a sua manipulação. Deve ser acompanhada por um bruxo de terceira ordem.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Sabedoria chinesa

Procurando uma explicação para a liberação oriental ocorrida no dia de hoje, encontrei uma das citações mais absurdas que eu já li. Refere-se a um dos dez mandamentos do sábio chinês CHIM PAN ZE. A mensagem é profunda e deve ser apreciada:

"Há duas palavras que abrem muitas portas - Puxe e Empurre."


Tsai-jian

Saudade é a dor da ausência

Amiga Chris,
acho que aconteceu alguma coisa com os nossos companheiros. Não em relação à Confraria mas nas postagens dos próprios blogs. Uma parou no dia 04/11, dois em 5/11 e o outro, bem este ainda está no mês passado. Vou começar a segunda rodada de comentários. Podíamos combinar de tu comentares os meus comentários e eu comento os teus. Assim pelo menos agita um pouco.

Será que eles estão down ou nós que estamos over?
E eu estimulando apenas PI. Começou a nova campanha Postem Todos.

É isso ai PT, PT, PT...(ops, que propaganda besta)

PS – se os companheiros quiserem ainda sobrou um bom estoque de cantigas e jogos infantis para postar como passatempo. Posso enviar por e-mail. Vamos lá ... estava a velha no seu lugar...

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Conciliação

Apesar da Amiga imaginar que possa existir uma dificuldade em conciliar a natureza ciumenta de duas ou mais mulheres, sinto declarar que não é verdade. Os homens convivem com esta situação de forma implicitamente exemplar. O universo masculino é povoado pelo ciúme. Pelo menos os daqueles que nasceram de uma forma natural e tiveram ou tem mãe.

O ciúme faz parte da natureza feminina. É um complemento charmoso, natural e muito bem vindo. Dentro dos seus limites e não relacionado a vínculos e vícios sentimentais. Sem ciúme patológico ou manifestação explícita de inveja, esta carregada de cargas negativas. O ciúme é a manifestação da vontade de atenção. Na sua essência fundamental um sentimento poderosamente benéfico. A demonstração do sentimento funciona como um reforço positivo para o alvo e para o objeto do ciúme.

Na maior parte das vezes o ciúme manifesta-se como uma forma de afirmação de uma diferença. Uma tentativa inconsciente ou consciente de receber algo, muito semelhante ao motivo do ciúme, mas com a medida e intensidade adaptadas. Não se desenvolve ciúme para obter a mesma coisa que gerou o sentimento. Nenhuma ciumenta contentar-se-á em receber a atenção na medida do fato gerador. Há que existir uma compensação e um avanço – a mola perpetuadora do ciúme. Desta forma o exercício do sentimento não deve ser interpretado como um estado emocional complexo relacionado ao medo de perder alguma coisa. Declarar o sentimento de ciúme implica reconhecer que o ressarcimento virá de uma forma mais satisfatória.

Pronto! Um post dedicado só para a Amiga.
Nitidamente compensatório. Com teor diferente, mais adaptado a sua realidade e com mais linhas e caracteres do que o da outra (20 linhas, 1481 caracteres com espaço para PI versus 23 linhas, 1823 caracteres com espaço para este post).
Uma relação custo-benefício elevada.

Queremos PI, queremos PI...

No domingo assistimos uma metamorfose digna de Kafka. Uma certa pessoa causou um verdadeiro tsunami no seu blog. Publicou post, remodelou o lay out, iluminou, coloriu, imaginou-o (forma transitiva direta do verbo colocar imagem) e parecia ter engrenado.

Para surpresa de todos foi apenas um estertor. Ficou parado no tempo. Para ser mais preciso no domingo – novembro 4, 2007 – conforme atesta o próprio blog. E isso que até fiquei com um pouco, bem pouco, de inveja pela qualidade do valor demonstrado. Qual o que. Por fora, bela viola, por dentro, pão bolorento. Vale o provérbio.

E nem posso aceitar que seja uma demonstração de puro despeito, pois eu sempre quis que as minhas coisas fossem reconhecidas pelo talento e interioridade ao invés de mostrarem como mais um corpo e rostinho lindos.

Agora vamos lá com a nova rodada de estímulo. Desta vez acompanhada pelo mote que motivou o nome do blog. Na verdade este mote é um plágio descarado de uma situação semelhante vivenciada pelo grupo de amigos blogueiros da Lele. Para estimular um tal de Leo (só referido assim pois não o conheço e sem nenhum tom pejorativo que o termo possa ter) a escrever no seu blog criaram um movimento - Posta Leo. A adaptação resultou em Posta Islane, apelidada de PI.

Então, faça valer o apelido – Posta Islane. Contamos com o apoio valoroso do Octávio.
Nem que seja para assumir o lugar dela e mimetizar PI.
Super-amigos ativar – agora na forma de post.
Escrevam para PI, estimulem PI.

Ela merece.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Bolas brancas e pretas

Recebi resposta de todos os escolhidos para o semi-MEME das bolas. Só este fato já valeu a experiência. E assim fico conhecendo um pouco mais de cada um. Do meu ponto de vista nós deveríamos constantemente expressar as nossas bolas brancas e pretas. Exorcizar o que achamos de ruim e enaltecer as coisas boas. O exercício da cidadania implica botar a boca no trombone sobre mazelas, mas também reconhecer o bom que a vida nos reserva.

Com este material posso fazer votos para cada um dos envolvidos. Não de ano novo, porque está muito distante ainda. Fica então instituído o dia 06 de novembro como o Dia da Poliana. Pena que não foi um feriado.

Para ti Guilherme, desejo muitos campeonatos no Brasil, de qualquer esporte e uma infra-estrutura invejável no nosso país;

Chris que os apoios sejam sempre genuínos e as falsidades desapareçam junto com o descaso dos administradores;

Para Lele que o rótulo de BABACA supere o ditador e que a Isabela, além de ser a coisa mais linda do mundo, traga uma imensidão de felicidades agora e no futuro;

A novíssima amiga Liliana desejo muitos cantares e dançares pelos bailes da vida e que as pessoas retornem as suas naturezas com orgulho e determinação;

A PI que a imagem do país não fique manchada com o campeonato e que o espetáculo seja menos pão e circo. Sim desejo, também, muitas bolas cinzas ou das cores que quiseres;

Ao DJ super-recordes na bolsa com altos coqueiros sem queda e que o Al Gore não tenha razão – o aquecimento possa ser revertido ou minimizado;

Roberto, desejo a proliferação de alimentos puros e a cadeia para os infratores enquanto a sorte sorria de uma forma especial para os necessitados;

Para o Otávio desejo domingos repletos de descanso e uma praga exterminadora de espertalhões, que proporcione o triunfo do bem.

E para todos nós desejo a continuidade da amizade.
Só e tudo, ao mesmo tempo.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

O quarteto fantástico

O post de hoje era para ser sobre quatro personagens que preencheram uma boa parte da viagem de trem entre Praga e Viena, no mês de junho passado. Eram as super-tagarelas. Durante todo o tempo em que permaneceram na cabine não pararam de exercer esta habilidade poderosa. Em diversos momentos tivemos o quarteto falando ao mesmo tempo. Óbvio que sobre assuntos dos quais não tenho a menor idéia. Pelo menos do verdadeiro teor, pois a estória interpretada ficou muito divertida. Talvez mais divertida do que a real. Mas parodiando um grande amigo, este será um tema muito bom para continuação em outro momento. Fica apenas a chamada, como de seriado ou novela televisiva.

Resolvi escrever sobre um assunto nada familiar - super-poderes. O motivo do desvio de foco não foi uma diminuição do nível de algum medicamento de tarja preta, no sangue. Apenas fiquei impressionado com a variedade e quantidade de super-poderes disponíveis ou possíveis de serem encontrados na ficção. Tento me convencer que apenas na ficção, para não ficar perturbado. Os que me conhecem sabem que sou facilmente impressionável.

Esta tal variedade pode ser encontrada na wikipedia. Com direito a classificação e farta exemplificação de heróis de histórias em quadrinho ou de filmes e seriados de televisão. Tenho de confessar que mesmo com a minha pródiga inventividade não imaginaria a criação de alguns destes poderes. Desconhecia, totalmente, o poder classificado dentro do item de manipulação de forças fundamentais e relacionado com o controle da probabilidade. Não, definitivamente não se trata de manipulação estatística de dados governamentais, apesar de ter uma utilidade até neste setor.

O poder está relacionado com a habilidade de alterar a probabilidade (de ocorrência de eventos) causando acontecimentos estranhos ou impedindo acontecimentos normais. Um exemplo típico é a Feiticeira Escarlate. Muito prazer senhora feiticeira. Para quem, também não conhecia a personagem a sua história esta disponível no link de exemplos.

Outros poderes, para mim desconhecidos, incluem umbracinese, intangibilidade, ingestão de matéria (lembra um pouco a alimentação, com algumas vantagens), omni-glossia, explosão psiônica (isso cheira a sem-vergonhice), manipulação óssea (para mim uma mera atividade dos ortopedistas), duplicação transtemporal, resistência evoluída (aplicável em propaganda das Duchas Corona), prehensilia, visão microscópica (habilidade muito útil para gerar economia no setor de hematologia e parasitologia) e projeção astral.

Sem dúvida nenhuma o mais interessante deles não é um poder desconhecido dos brasileiros – a distorção da realidade. Nos últimos tempos temos assistido a proliferação exagerada deste super-poder, nos mais diferentes segmentos da vida pública nacional. Em todos os lugares, em diversas oportunidades o noticiário mostra-se contaminado pela exuberante aplicação deste poder. Ninguém distorce tão bem uma realidade como os nossos heróis.

Ora vejam e eu perdendo tempo com questões meramente realísticas ligadas à biologia e outras ciências ultrapassadas. Tenho de me reciclar urgentemente. E buscar uma vantagem competitiva, pelo desenvolvimento de algum super-poder. Quem sabe a grafia hilária.

domingo, 4 de novembro de 2007

Recursos da internet.

Apesar de não ser um usuário extremamente limitado, tenho consciência de que o meu aproveitamento dos recursos da internet tem um nível de grandeza semelhante à percentagem de conhecimento dos países do mundo de um amigo blogueiro. Acho até que menor do que os 5%. Na verdade eu realmente não tenho a mínima idéia da existência da maioria dos aparatos disponíveis.

E mesmo aqueles que encontro, às vezes me dão um baile. Vocês notaram o belíssimo relógio, disponível no blog a partir do meio dia de hoje? Qualquer criança, acostumada à internet, teria levado apenas 5 minutos para esta tarefa. Pois, creiam que levei uma eternidade. O número de horas não vem ao caso. Isso depois de três ameaças de desistência, inúmeros palavrões, quatro mantras – um específico para stress fundamental e que só deveria ser utilizado em casos extremos – e o providencial auxílio de um amigo que se mostrou um pouco mais limitado do que eu. Pelo menos o apoio psicológico valeu. Os pulsos estão intactos.

Na verdade tudo começou pela tentativa de incluir a explicação e os capítulos anteriores no post da Confraria literária, de ontem. Como pode se notar foi apenas uma tentativa. Se verificarem o post ele está exatamente igual. Não por falta de persistência. Com o coração transbordando de alegria, entrei na edição de postagens e inseri o texto desejado. Para separá-lo dos outros parágrafos dei um - enter. Para mim era assunto encerrado. Finalizei com a publicação de postagem. E solicitei - visualizar o blog.

Aí começou o tormento. Na visualização os parágrafos estavam juntos. Imediatamente pensei num erro de usuário – talvez imaginei dar enter mas não executei a ação. O que faltava era uma mera correção. Repeti todo o processo. Certificando-me que praticara a ação. Novamente abri o blog. O espaço de separação deve ter assumido vida própria e desapareceu novamente. Em resumo, 50 tentativas. Não vou tocar mais neste assunto. Apelei para o meu lado pragmático. Ninguém sabia da minha luta inglória contra aquele espaço assustador, portanto esta não ocorreu. Nem sob tortura confesso que não consegui incluir um simples espaço entre textos em um post antigo.

Alguém conhece um curso de internet para celenterados, amebas e congêneres? Preferível por correspondência, pois posso não deter os conhecimentos mínimos necessários para a sua realização virtual.

sábado, 3 de novembro de 2007

Primeiro vôo orbital tripulado

No primeiro post do dia eu falei que estava inspirado. Dia de tudo véspera de nada. Talvez amanhã tenha de apelar para um estava-a-velha-no-seu-lugar, parte 2. Já informei no blog que costumo brincar, com os amigos, dizendo que eu nasci antes da Laika ir para o espaço. Vejam a comprovação da veracidade.

Notícia em diversos órgãos de divulgação de hoje. Publico a versão disponível no Yahoo notícias.

“Há 50 anos, no dia 3 de novembro de 1957, o primeiro 'terráqueo', a cadela Laika, foi enviado ao espaço a bordo de uma cápsula soviética e abriu simbolicamente - pagando com sua vida - o caminho das estrelas para os seres humanos. Na foto, Laika momentos antes de viajar ao espaço a bordo da Sputnik II .”

Outro segredo.

Para alguns amigos mais chegados nem será uma revelação bombástica. A terra continuará a girar em torno do sol. Permanecerão as estações do ano, os dias e as noites. A estabilidade cósmica não mudará.

Por uma questão de suiçofilia exagerada, da minha mãe, sempre usamos Nescafé em casa. O termo sempre está bem aplicado, pois conforme a informação disponível no portal da Nestlé, este produto é anterior a mim.

1953
Lançamento da marca Nescafé no Brasil, em grande evento no Salão de Chá do Mappin Stores, a tradicional e elegante loja inglesa de departamentos do Centro de São Paulo.


Desta forma, minha infância não foi acompanhada de cheirinho de café passado. Raramente alguém tomava café preto. E o café com leite era preparado na hora. A praticidade dos fabricantes de relógio. O café instantâneo.

Esta peculiaridade familiar, aliada ao fato de não haver plantação de café no Rio Grande do Sul contribuiu para que, semelhante às crianças que não conhecem galinhas ou vacas, a minha imagem mental de um pé de café fosse muito parecida com a ilustração deste post.

Só a título de curiosidade, quando nasci a Moça, do leite condensado, já não fazia jus ao nome - era balzaquiana. Seu lançamento foi em 1921.


PS – este post faz parte da série, inspirada em Hollywood, onze segredos e um homem. Acho que a distribuição numérica era diferente.

Confraria literária - 8º capítulo

A situação em que se encontrava era muito estranha, para Robert. Durante toda a sua vida, coragem era o que não lhe faltara. Coragem para enfrentar a morte dos pais aos sete anos, para suportar o orfanato, mesmo sabendo que sua tia Anne tinha condições financeiras de criá-lo – esperava ardorosamente que a velha bruxa estivesse apodrecendo no fundo do inferno. E muita coragem para fugir definitivamente daquele lugar aos quinze anos, em busca do seu destino. Vinte longos anos já haviam passado.

As lembranças de Banbridge eram, ainda, muito dolorosas. Nunca tivera necessidade ou vontade de torná-las públicas. Lendo seus livros, poucas pessoas imaginariam a sua origem. Ser um bom escritor podia incluir, também, uma vida nova. Os dados autobiográficos, descritos em seus dois primeiros romances firmaram um renascimento. Agora era Robert Doherty, o mago das letras. O escritor mais vendido do gênero. Ninguém recordava de Dummy Boo. Maldito apelido.

Na busca de um refúgio para as lembranças, distraidamente Robert abriu o envelope. No centro da página, uma única palavra – moulin. Imediatamente ele associou ao velho moinho de La Veyle. Não tinha informações precisas sobre esta construção, mas ela lhe chamara atenção, logo no dia da chegada. Mesmo sem estar definitivamente abandonado, o moinho tinha uma aparência sinistra. As velhas pás lembravam instrumentos medievais de tortura. As ruínas da edificação, na parte traseira, intensificavam a sensação macabra, complementada pela ausência de água, naquilo que outrora fora um leito de rio. Talvez ele estivesse cruzando as lembranças, mas o nome no papel não lhe inspirou nenhuma confiança.

Seria uma sugestão de local de encontro? Por que o velho moinho? Robert nem mesmo tinha certeza de que ele estivesse aberto. O que mais o intrigava era porque ela havia sumido sem dizer nem mesmo um alô. A atitude, mais que o pretenso local do encontro, preocupava Robert. Ascendeu outro cigarro e foi para cozinha preparar um chá. Desde pequeno o chá tinha propriedades de acalmá-lo. E neste momento, calma era o que ele mais necessitava. As badaladas do relógio da sala, abafadas pelas cortinas de algodão grosso das janelas, indicavam oito horas.

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Apesar de trabalhar na polícia há mais de 30 anos, o inspetor Philippot não se acostumava em ser acordado com o telefone. Vonnas era uma localidade pacata. Nada acontecia depois das nove horas da noite. Excepcionalmente uma briga em algum bar ou discussão entre marido e mulher. Estes acontecimentos nunca serviram de motivo para o guarda de plantão ligar e acordá-lo no meio da noite. Sim era apenas meia noite, mas para Philippot correspondia ao quinto sono. Um resmungo foi tudo que conseguiu balbuciar. Quase um grunhido ao telefone. Entretanto o teor da conversa fez com que ele pulasse da cama. Um Citröen C5, cinza escuro, fora encontrado parcialmente mergulhado na represa. Dentro o corpo de uma mulher. Aparentemente a morte não acontecera por afogamento, ela tinha sido estrangulada com uma echarpe magenta.

Good morning, São Paulo!

Hoje acordei inspirado. Extremamente alegre. E pretendo contaminar a cidade com esta felicidade. Alegria gratuita, sem motivo aparente ou profundo. Sem avaliação freudiana, transferência ou contra-transferência. Como diz a moçada – só alegria.

Na vitrola, Maria Dolores declama Fina estampa. O cheiro inebriante de café passado – ops acho que está fora de contexto, nunca passei café em casa. A voz da alegria diz que é bobagem, apenas uma licença poética para composição do cenário. O diretor concorda e seguimos adiante.

Hoje quero ser turista em São Paulo. Sacar fotos e olhar diferente para os lugares já visitados. E transformar tudo num enorme programa de auditório. Assim como Chacrinha, sair gritando pela cidade – vocês querem alegria, vocês querem felicidade.

Hoje eu vou pro trono.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Semi-MEME ou coisa parecida.

Na época que recebi o convite para o meu primeiro, e único, MEME fiquei realmente interessado por estas formas de propagação cultural. Não desenvolvi nenhuma teoria sobre o assunto, mas acabei criando o meu conceito sobre a transposição da informação de uma mente para outra e a sua finalidade, dentro de um contexto específico. Na blogosfera o significado do MEME foi contextualizado (eta palavra arretada, meu). Refere-se a criar um post com uma idéia e fazer com que outras pessoas escrevam sobre esse mesmo assunto, dando seu ponto de vista.

Misturando as idéias, lendo um artigo sobre gêneros jornalísticos, lembrei-me de um antigo jornalista (?) que foi o pai do colunismo social e responsável pela igualdade de pensamento de boa parte da nossa zelite, entre as décadas de 50 a 80 do século passado. Falo de Ibrahim Sued. Este senhor criou uma série de termos que povoaram o imaginário social de uma época. Todo café-society, para não ficar na geladeira ou causar um rebu, devia evitar atitudes shangay. Sorry, periferia. A geração pão-com-cocada deve estranhar este vocabulário característico de gente-bem. Cavalo não sobe escada.

MEME e colunismo social? Parece o samba do crioulo doido. Calma, tem sua explicação. Aderindo a modernidade memética e utilizando a terminologia das antigas colunas sociais, tenho uma proposta aos amigos. Conclamo os participantes da confraria literária a descreverem duas situações atuais (da última semana) pessoais ou não, que se encaixem no conceito de bola branca e bola preta, firmado pelo sábio Ibrahim. Por simples associação de idéias temos que bola branca significa uma exclamação de agrado e bola preta de desagrado.

Vamos lá, Chris, Guilherme, PI, ParanoidJ, Lele (já plenamente instalada no rol dos amigos), Otavio e Roberto (estes ainda na fase blogless). Aguardo as suas bolas brancas e pretas. Não há obrigatoriedade na continuidade (por isso o semi), mas se quiserem espalhem por aí.

Começo eu:

Bola preta - o renascimento do caudilhismo na América Latina. Agora os currais e quintais estão atingindo relevância familiar de primeira grandeza.

Bola branca - o surgimento de oportunidades para que amigos mostrem o seu potencial produtivo. O reconhecimento da capacidade que alguns se permitiam fingir que não viam.

PS: vai daqui uma pequena chantagem para um dos participantes - apesar de não gostares de MEME tu não vais contrariar uma pessoa de idade, vais?

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Diversão literária.

Hoje a detentora da marca PI atualizou-se em relação à estória da confraria literária e firmou o compromisso de dar continuidade após a participação da Lele.

Aproveitando esta oportunidade faço um balanço, extremamente positivo, do sucesso alcançado até o momento. Do ponto de vista literário deixo para todos os colegas o exercício da crítica. Vou salientar outros aspectos positivos.

Primeiro em relação às personagens. Depois de cinco capítulos o saldo mostra duas personagens principais, duas personagens coadjuvantes que, brevemente, devem assumir um papel de destaque e os figurantes do bar e da recepção do hotel. Nada mal. A construção das personagens segue de maneira lenta, mas consistente. Robert ainda não saiu da sombra e mal consegue falar ou receber ligação em seu celular. Já Marian encontrou rapidamente uma válvula de escape para as tensões trabalhistas que a deixa zonza e com traços paranóides, numa nítida interferência do meio.

No quesito turismo e paisagem, atingimos um desempenho invejável. Em cinco capítulos a internacionalização manifestou-se com todo o seu ímpeto globalizado. O circuito França-Alemanha-Itália-nãoseideondeelesvieram já se estabeleceu definitivamente. Claro que com estes nomes, Marian e Robert não pertencem a nenhum destes locais. Serão cidadãos do mundo ou haverá uma origem misteriosa por trás deles?

Aguardamos ansiosamente o desdobramento das personagens co-adjuvantes misteriosas, que segundo os autores, não deveriam estar lá e, pelo visto, amedrontam os adjuvantes. Além de entrar, sem permissão, em locais reservados. E com fragrância denunciante.

Como a estória está evoluindo muito bem, sugiro aos colegas da área de propaganda que já comecem a pensar e/ou buscar patrocínios – editoras, indústrias de bebidas, concessionárias de comunicação, agências de turismo, incorporadoras do ramo hoteleiro. As possibilidades são inúmeras. Vamos chegar lá.

Desencuentros nostálgicos.

Háblame de ti, cuéntame de tu vida, sabes tu muy bien, que yo estoy convencido de que tu no puedes, aunque intentes olvidarme, siempre volverás una y otra ves, una y otra ves siempre volverás. Aunque ya no sientas mas amor por mi, solo rencor yo tampoco tengo nada que sentir y eso es peor.

Sentí tristeza al comprender que no fue un sueño que fue verdad - tu te habías ido para siempre. Me despertó la realidad y fue la muerte de mi alegría y mi ilusión de no perderte. Y no me diste ni tu adiós cuando te fuiste y todavía yo pensaba que era un sueño.

Te pregunte si todavía me querías y con silencio me contestabas mi pregunta. Te despertaste tú, casi dormida y me querías decir, no se que cosa, pero calle tu boca con mis besos y así pasaron muchas, muchas horas. Muy feliz fue contigo, me conforme con nada y hoy te quedas sin mi, apesar de que nunca me dijiste te quiero.

Si ya no vuelves nunca que al menos tus recuerdos ponga luz sobre mi bruma pues desde que te fuistes no he tenido luz de luna. Oscura soledad estoy viviendo. Tu eres el amor del cual yo tengo el mas triste recuerdo de Acapulco. Pués siempre estoy pensando nel ayer. Prefiero estar dormido que despierto de tanto que me duole que no estes.

En este mundo nadie es indispensable, tu puedes ser feliz sin mi y yo sin ti. Si me hubieras querido, cuando yo te pedia que me amaras un poco, que me hicieras feliz, yo me hubiera quedado para siempre contigo, pero no fue posible y hoy me tengo queir.

Ya no me busques. Te pido, por favor, que no me busques. No te preocupes mas si soy feliz o no. Comprenda de una vez que cuando dicho adios fue para siempre. Ya no me busques mas que me molestia tu insistencia en no comprenderes. Adiós, fue para siempre.

Olvidate de mi, de aquel amor que fue tuyo. Y trata de olvidar que una vez nos conocismos. Sin pensar en el recuerdo yo te juro que no vuelvo aunque tenga que llorar. Olvidame. Te pido, olvidate de mi.


Que en paz descanse. Vale, vale Rocio Durcal.