segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Se.

Gosto de ditados populares. Pela sua sabedoria simplória. De alguns não faço a mínima noção da origem. O que não diminui em nada o apreço. Só acho que a maioria deles é meio limitada. Ficam apenas na sugerência e, com isto, permitem distorções. Por sinal, também gosto muito de uma distorção de ditado popular.

Se de boas intenções o inferno está cheio - não deve ser um lugar tão mau para procurar executivos criativos.

Se Deus dá o frio conforme o cobertor - ele deve saber que as mantas de pele de renas são as mais adequadas para o inverno.

Se eu quero, eu posso, eu sou - alguém deveria avisar o departamento de pessoal porque o reflexo ainda não entrou no meu hollerite.

Se é difícil agradar a gregos e troianos - deve-se evitar negócios com este povos mal humorados.

Se falar mal dos outros é fácil, difícil é falar bem - continuemos a falar mal.

E muito mais. Aguarde.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Coisas para fazer nos dias felizes.

A felicidade é uma sensação ímpar. Um estado de espírito especial. Nem sempre vivenciada das mesmas formas, por diferentes pessoas ou pela mesma pessoa. Ora estamos felizes por um motivo, ora por outro. Pelo menos nós – os afortunados com a percepção da felicidade. Pequenas coisas podem ser grandes motivos para a felicidade.

E quando se está feliz é bom fazer coisas que reforcem este sentimento.

ver fotos antigas e voltar no tempo e ter as mesmas sensações e rir com o que fomos e com o que nos tornamos;
beijar uma criança ou vê-la dormir;
viajar naquela música;
preparar ou saborear aquela comida;
deitar no chão e contar estrelas;
pegar chuva e chapinhar nas poças d’água;
dar um abraço apertado num(a) amigo(a);
sonhar.......

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Dias cinzentos.

Évora - maio 2009
Estamos passando por um longo período de dias cinzentos. Daqueles em que a cor do céu não dá as caras. Muito menos o sol. Dizem que deve durar ainda um bom tempo. Acho que este ano teremos uma primavera turva.

Da minha parte, se não vierem acompanhados daquela garoa depressiva, tudo bem. Até gosto de dias assim. Aprendi a apreciar as diferentes tonalidades de cinza e a desfrutar o destaque que este fundo e luminosidade oferecem aos outros corpos, os coloridos. As flores, por exemplo, se destacam nestes dias. Com cuidado e boa-vontade pode-se perceber nuances e tonalidades que passam despercebidas durante os períodos ensolarados.

Mesmo a tristeza e a prostração, poeticamente ou realisticamente, associadas a estes dias não me são desagradáveis. Não se vive apenas de alegrias. É salutar exercitar todos os sentimentos. Para evitar que eles enferrujem e, quando tornarem-se apropriados, apareçam com intensidade ou duração desmedidas. É, cada louco com a sua mania.

domingo, 20 de setembro de 2009

Era uma vez uma luz.


Revendo, hoje, alguns textos antigos encontrei este que nunca publiquei no blog. Ele não foi feito para fazer parte do meu espaço - foi criado especialmente para uma anjinha amiga, que atualmente não escreve mais. Parou, disse que ia voltar e até agora nada...


Por isso resolvi publicá-lo, na esperança de chamar pela Lau.


Era uma vez uma luz tão pequenina,
Que ficava envergonhada de ser assim.
Seu comprimento era ainda limitado
E não brilhava tanto como as outras.

Ficava sempre escondida, num canto,
Curtindo a sua pequenez, acanhada
Até que um dia um brilho fulgurante aproximou-se
E, encantado com aquela luzinha, perguntou:

Porque escondes a beleza da tua luz?
Porque impedes que os outros te apreciem?
Lembres que não és uma luz só para ti
Tens deveres para com os caminhos dos outros.

Todos nós começamos como luzinhas,
Depende de nós o tamanho que teremos
Para crescer é preciso gostar muito
De ser apenas a luz, que ilumina.

PS: onde quer que esteja, saiba que você faz falta.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Recuerdos de San Martin


O pensamento mágico faz parte do cotidiano infantil. Acontecimentos, heróis e vilões, relações familiares, amigos, direitos e deveres, praticamente todas as atividades das crianças passam por este filtro. E criam um vínculo com uma realidade toda própria. Com o passar do tempo a maior parte das pessoas perde definitivamente a capacidade de conviver harmonicamente com a fantasia. Por escolha, por inibição ou por incapacidade de elaborar enredos ilusionistas fincamos o pé naquela realidade comum a todos. O banal mundo real.

Felizmente, nem sempre a capacidade criativa de traçar paralelismos com o verdadeiro e inventar fatos, histórias e personagens morre. Em alguns casos ela adormece. Fica quiescente, como quem não quer nada, a espreita. Dá as caras quando nos apaixonamos, faz visitas periódicas atiçando os nossos medos e vai levando. Esporadicamente. Em outros casos ela apenas cochila, muito superficialmente e a freqüência dos retornos se faz mais amiúde. Poderia até afirmar que em certos casos esta capacidade habita permanentemente as cabeças. Repetitivamente. Até como uma forma de contraponto terapêutico à racionalidade e ao pragmatismo.

Comigo o imaginário tem livre trânsito. De forma contumaz em relação a um lugar – San Martin. Não me peçam para descrever San Martin. Ele é a sensação, magicamente infantil, de estar. Fica não sei bem onde, perto da fronteira de qualquer lugar. A minha Passárgada, ou Xangri-lá se preferirem. Lá é possível mirar a luz do outro lado da lua, adorar a rua em que nos vimos e a noite em que nos conhecemos, amanhecer outra vez entre teus braços e despertar chorando de alegria, e assim passar muitas e muitas horas. Te ver buscar uma aventura uma quimera, atender preferentemente a toda gente que pede amor e o tempo livre dedicar a mim.

A passionalidade brinda semanas com mais de sete dias, novas e melhores emoções, tic-tac do relógio que recorda a dor irremediável da partida e o amor que acaba porque mesmo a carícia mais divina vira rotina. Sem importar se em dois minutos ou em um só, ser feliz. E se alguém perguntar quando, como e onde responder quem sabe, quem sabe, quem sabe.....

Quando me canso daqui, vou pra San Martin. Lá sou amigo do rei.

domingo, 3 de maio de 2009

Le déjeneur sur l’herbe

Le déjeneur sur l'herbe
Edouard Manet, 1863


Em algumas comunidades, ou mesmo em civilizações inteiras, existem celebrações que marcam a mudança de status de determinados membros. Estes atos são conhecidos, genericamente, como ritos de passagem ou de iniciação. A manifestação social destes acontecimentos inclui rituais místicos, cerimônias religiosas, modificações fisiológicas, festas pagãs ou mero compromisso firmado em documentos cartoriais. Independentemente da forma da comemoração, o sentido social destes ritos pode ser resumido no abandono de velhas atitudes e mudanças de comportamento, a partir deste ponto. Como o conteúdo simbólico implica mudança de valores, nada será como antes, nem para o membro nem para a comunidade.

Na semana passada, tive a oportunidade de participar de um destes ritos. Bem menos primitivo que alguns ainda existentes em diversos cantos do mundo, mas nem por isso menos significativo. Participei de um piquenique. Sim, a forma festiva foi de um mero piquenique. Entretanto o significado comunitário foi bem mais amplo. Tenho a certeza de que, a partir deste ritual legendário de alimentação sobre a relva, deste simples gesto de compartilhamento de víveres, esta comunidade mudou.

Para alguns o simples fato de ter pique para participar de um piquenique (trocadilho besta, meu) já seria uma demonstração clara da importância dada ao “fazer parte do grupo”. E que grupo! De uma heterogeneidade fabulosa, eles reconhecem que os novos compromissos comuns contam mais do que a bagagem individual construída até o momento. Como mensagem final fica que apesar das diferenças estamos no mesmo barco e gostamos de estar. Com descontração e alegria estreitaram-se laços. Passamos para uma nova fase.

Assim foi. Um verdadeiro rito de passagem.

PS: para os mais afoitos, esclareço que nenhum dos componentes do grupo esteve desnudo. Apesar de terem insistido para que eu experimentasse um determinado prêmio, as súplicas foram em vão. O nosso evento foi um “déjeneur avec décence”.

quinta-feira, 19 de março de 2009

O anúncio.

Realmente o anúncio causou-me estranheza. Ou não seria um anúncio? Da forma com que aparecia, levava todo o jeito de anúncio. E, diga-se de passagem, um anúncio bem estranho. De início pensei que era pela redação. Afinal, um anúncio de meia linha devia ter chances mínimas de sucesso. A não ser que chamasse atenção pelo conteúdo e não pela forma.

Ah, e esse anúncio – vamos dizer assim – tinha um conteúdo deveras incomum. Pelo menos para os padrões do momento. Não chegava a ser algo extraordinário, mas a esquisitice era inquestionável. Acho mesmo que o contraste entre a falta de rodeios do enunciado e a finalidade da mensagem contribuía para o espanto causado. De certo modo o tornava quase misterioso.

A elegância da atitude e a franqueza, claramente expressas em texto tão conciso, despertavam a sensação incômoda e o desejo de que, apesar da necessidade, o anúncio não atingisse o seu intento. Torço para que poucas pessoas vejam o anúncio e se interessem por ele. E que o anunciante venha a se arrepender no futuro, não repetindo o ato.

Sem dúvida o anúncio me impressionou.

terça-feira, 17 de março de 2009

Primeiro dia de aula.

Aos que esperavam, ansiosamente, por notícias aí vai...

Primeiro dia de aula, um sucesso!

Não chorei. Não foi preciso nenhum acompanhante ficar de tocaia, espiando e esperando pela fraqueza ou ameaça de desistência. Interagi com os colegas e socializei. Dentro de limites não reparei muito a didática dos professores – talvez um pouco, mentalmente. Verbalmente, um túmulo. Nem sob tortura confesso as minhas impressões sobre os fatos.

Aceitei serenamente que alguns colegas não estejam preparados para a jornada. Talvez, em algum momento seja indispensável avisá-los disto, mas por enquanto todos estamos no mesmo barco. Em conveses diferentes. Ainda é cedo para fazer algum um juízo de mérito. Continuo muito estimulado, o que é sintomático. Valeu...

sexta-feira, 13 de março de 2009

Volta às aulas!

Por favor, não pensem que este é um post atrasado. Que estava guardado desde o início de fevereiro ou março e, por razões desconhecidas, resolveu aparecer só agora. Ele é novinho em folha, ou tinindo de novo – como se dizia no meu tempo de moço. de novo - como dizia no meu tempo de moço. E não se trata de um texto genérico sobre o retorno de alguns, indefinidos e inominados, às aulas, depois de umas férias de final de ano.

O buraco é mais em baixo. Quem retorna às aulas sou eu. Calma, não permaneçam boquiabertos, esperem a taquicardia passar, afastem o espanto e contenham a perplexidade. Sim, o mestre volta às aulas. Agora na versão aluno. Depois de, praticamente uma eternidade, voltarei a compartilhar, com colegas, dos bancos escolares.

Vou fazer parte da 6ª turma de Jornalismo Científico do Labjor (Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo do Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade da UNICAMP) em parceria com o Departamento de Política Científica e Tecnológica, do Instituto de Geociências, e com o Departamento de Multimeios, do Instituto de Artes.

Começo na segunda-feira.

Agora, vocês devem estar perguntando – o que ele vai fazer lá?

A resposta é simples – vou aprender. Vou ouvir muito, refletir bastante e aproveitar o máximo possível das novidades que surgirem. Assim como o curso tem os seus objetivos, eu tenho os meus. E vamos coincidir, tenho certeza. É impressionantemente fascinante esta busca pelo desconhecido. O saboreio da ignorância e o vislumbre de agregar novos conceitos, valores e habilidades. Já deu para notar que eu estou muito confiante.

Receios? Poucos. Talvez o mais significativo seja a dúvida em relação ao comportamento. Depois de tanto tempo na posição inversa e com a convicção de desempenhar o papel de forma satisfatório – como se enquadrar e atuar na nova função?

Deve o rei abrir mão da majestade?

Não sei. O tempo dirá. Os próximos capítulos dirão.

Aguardem.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A aleitadora.

A Gabriela veio à luz faz exatamente 13 dias, 20 horas e 30 minutos. Pelo menos na hora em que comecei a escrever este texto. É um bebê lindo de riso farto e bochecha redonda. A boca parece pintada de um vermelho que tenho certeza o Criador (o mais superior não o Guilherme) se esmerou tanto que dificilmente conseguirá repetir a dose. E os olhinhos então... parecem dois.... bem vou ter de confessar que não consegui vê-los abertos por tempo suficiente para desenvolver uma licença poética. Ah, sim parecem dois filtros de candura e pureza.

Nesse pouquíssimo tempo já transformou, por completo e para melhor, toda uma série de vidas. Incluindo pais, avós e avôs, demais ascendentes e uma leva de parentes em linha direta e torta fora os amigos e conhecidos. Praticamente o mundo inteiro. Esse já não é mais o mesmo há 13 dias, 20 horas e 45 minutos.

Cumprida a praxe de odes à recém vinda vamos resgatar, um pouco, aquela a quem parece reservado um digníssimo segundo plano. A ocupante da função de mãe. No desempenho das suas nobres funções cria uma cumplicidade com o do terceiro plano – a personagem descrita como pai. Este consegue complementar ou substituir a mãe em quase tudo. Acorda à noite, atende aos choros, mima, acalanta, dá banho, limpa cocô, aguarda arroto... enfim, supre quase todas as necessidades fisiológicas. Menos a função maior – a amamentação. Desta forma a exclusividade materna reduz-se a ... ser uma aleitadora. A encarregada de executar o divino ato de alimentar a prole indefesa e dependente.

E nesta tarefa superior, as preocupações simplórias e mundanas com a inteligência de mercado são substituídas pela dúvida existencial de exaurir completamente a seiva de um seio ou proporcionar a bilateralidade das tetas, a cada mamada. Qual aquele príncipe da Dinamarca, a aleitadora se corrói na dúvida e a busca pelo esclarecimento consome momentos intermináveis. Primeiro o direito, depois o esquerdo. Ou só o direito e na próxima o esquerdo. Deve-se começar de forma invertida na próxima mamada? E como, frente ao cansaço e desgaste da execução da tarefa leiteira, garantir a seqüência desejada? Com o recurso singelo da caneta marcadora de textos? Um broche migratório? Ou desenvolver um algoritmo de previsibilidade que admita, pelo menos, quatro incógnitas?

E assim passam-se os dias.