Neste fim de semana, por força de um ser mais forte que eu – um vírus – estive limitado de circular ou manter minha atividade ligada em 220 volts. A indisposição foi tamanha que até impediu de ficar no computador. Abrir os olhos, sorrir e refletir tornaram-se tarefas árduas. Neste embotamento mental, pensei até em assistir televisão. Ao invés de assistir viajei no tempo recordando os primórdios da TV.
Sim, eu não sou de antes da TV, porém acompanhei o seu início na minha terra. Aqui em São Paulo já existia há algum tempo, mas na época (uma amiga ri muito quando digo que eu nasci antes da cadela Laika ser enviada para o cosmos com o Sputnik II) as novidades tecnológicas demoravam a ser difundidas. O investimento era, proporcionalmente, muito maior e necessitou de indivíduos visionários para levar esta novidade aos quatro cantos do país. E as minhas origens ficam exatamente em um destes quatro cantos – o canto sul. Outros dirão que era mera conseqüência da falta de lavagem de dinheiro.
A programação da televisão seria inimaginável para os padrões de hoje. Não havia nenhuma, friso bem NENHUMA novela. No lugar o teleteatro. Peças teatrais eram encenadas com atores e cenários teatrais. Eram apresentados textos de Shakespeare, Dostoievski, Ibsen e outros estreantes na mídia. Toda a programação era ao vivo, mas não em cores. Não havia ainda o vídeo tape, modernidade que estaria disponível apenas em 1959.
A imagem era em preto e branco ou melhor, em tons de cinza. Em algumas casas existia o hábito de colocar papel ou plástico com as cores do arco-íris para oferecer um aspecto colorido à imagem. O horário era limitado em poucas horas no ar. O sistema de captação de sinal ocorria através de uma antena interna e uma das soluções para diminuir a interferência na captação de sinal era a colocação de tufos de Bombril (acho que esta era a uma das mil e uma utilidades) nas pontas.
Ao longo da programação havia inserção de reclames dos patrocinadores. Estas propagandas consistiam em slides com texto fixo e fundo musical sofrível. Ao final era citada a produtora responsável por este primor – Produções Behar. Com a evolução surgiu a garota-propaganda. Mulheres bonitas, para o padrão da época, ficavam estanques ao lado dos produtos a serem anunciados recitando o texto. Algumas cometiam a ousadia de movimentar-se no estúdio ou pegar os produtos – o que nem sempre era bem visto pelos patrocinadores. Lógico que neste âmbito errar custava o emprego.
A jóia desta corroa de recordações gostaria de dividir com todos. O nome do programa era Pradinho Sinimbu (patrocínio da indústria de cigarros do mesmo nome) e consistia em imagens semelhantes a cavalos de corrida e jóqueis – como marionetes - que se alinhavam para uma corrida de cavalos. A cada páreo no Jóquei Club do Rio Grande do Sul entrava uma narração radiofônica e os cavalinhos se movimentavam de acordo com a narração até a finalização do páreo.
E os aparelhos de TV... bem, isto fica para a nossa próxima atração.
Sim, eu não sou de antes da TV, porém acompanhei o seu início na minha terra. Aqui em São Paulo já existia há algum tempo, mas na época (uma amiga ri muito quando digo que eu nasci antes da cadela Laika ser enviada para o cosmos com o Sputnik II) as novidades tecnológicas demoravam a ser difundidas. O investimento era, proporcionalmente, muito maior e necessitou de indivíduos visionários para levar esta novidade aos quatro cantos do país. E as minhas origens ficam exatamente em um destes quatro cantos – o canto sul. Outros dirão que era mera conseqüência da falta de lavagem de dinheiro.
A programação da televisão seria inimaginável para os padrões de hoje. Não havia nenhuma, friso bem NENHUMA novela. No lugar o teleteatro. Peças teatrais eram encenadas com atores e cenários teatrais. Eram apresentados textos de Shakespeare, Dostoievski, Ibsen e outros estreantes na mídia. Toda a programação era ao vivo, mas não em cores. Não havia ainda o vídeo tape, modernidade que estaria disponível apenas em 1959.
A imagem era em preto e branco ou melhor, em tons de cinza. Em algumas casas existia o hábito de colocar papel ou plástico com as cores do arco-íris para oferecer um aspecto colorido à imagem. O horário era limitado em poucas horas no ar. O sistema de captação de sinal ocorria através de uma antena interna e uma das soluções para diminuir a interferência na captação de sinal era a colocação de tufos de Bombril (acho que esta era a uma das mil e uma utilidades) nas pontas.
Ao longo da programação havia inserção de reclames dos patrocinadores. Estas propagandas consistiam em slides com texto fixo e fundo musical sofrível. Ao final era citada a produtora responsável por este primor – Produções Behar. Com a evolução surgiu a garota-propaganda. Mulheres bonitas, para o padrão da época, ficavam estanques ao lado dos produtos a serem anunciados recitando o texto. Algumas cometiam a ousadia de movimentar-se no estúdio ou pegar os produtos – o que nem sempre era bem visto pelos patrocinadores. Lógico que neste âmbito errar custava o emprego.
A jóia desta corroa de recordações gostaria de dividir com todos. O nome do programa era Pradinho Sinimbu (patrocínio da indústria de cigarros do mesmo nome) e consistia em imagens semelhantes a cavalos de corrida e jóqueis – como marionetes - que se alinhavam para uma corrida de cavalos. A cada páreo no Jóquei Club do Rio Grande do Sul entrava uma narração radiofônica e os cavalinhos se movimentavam de acordo com a narração até a finalização do páreo.
E os aparelhos de TV... bem, isto fica para a nossa próxima atração.
5 comentários:
Como você já deve ter previsto, acho que este texto vai fazer alguns de seus leitores terem lembranças de boas estórias.
Bom, eu de minha parte fui apresentado à telinha somente em 1962. Com 10 anos de idade, nos fundões das Gerais, a novidade era uma coisa inacreditável, as pessoas não sabiam como apareciam imagens dentro de uma caixa com a frente de vidro, alguns diziam até ser coisa do demônio.
Fui convidado junto com meus pais a ir ver televisão junto com amigos na casa do meu padrinho, a primeira da cidade, o programa, um dos jogos do Brasil na copa de 62. Todos torceram, gritaram, brigaram com juizes e jogadores, enfim uma autentica torcida familiar nos jogos do Brasil em copas do mundo. Tudo isso seria uma coisa bem normal se não fosse o fato de que os jogos da copa de 62 foram transmitidos em vídeo tape e todos sabiam via rádio tudo o que tinha acontecido.
P.S. O bombril é ótimo, conseguia deixar o trambolho pior do era.
Outro P.S. Você precisa fazer o seu computador entrar no horário de verão.
Amigo Odilon,
Seus textos andam muito bons, devo dizer que a produção literária, imaginária ou não, vem crescendo consistentemente, em especial desde a semana passada. Faço já aqui meu mea culpa de não ter publicado nada novo ontem e hoje, mas foi também por conta do maldito vírus - quiçá o mesmo?
Mas... meu comentário mesmo era só para dizer que, houvesse você escrito apenas a frase "reclames dos patrocinadores", já saberíamos a que época remontam suas memórias!! :)
eu também vi como tudo começou e até hoje algumas memórias estão muito vivas.
a ingenuidade e a magia da época, a grande novidade que modificou os hábitos das famílias,a imaginação,que começava assim a alçar grandes alturas, novos lugares,novos sons e todo um outro mundo a ser descoberto...
obrigado mesmo por ter me levado de volta a uma época da minha vida onde eu fui muito feliz.
já estou esperando a continuação,com cenários do Emil Zelinski.
"os produtos Nestlé anunciam a próxima atração"...
Queridinhos, que bom falarmos de um assunto de tamanha vanguarda, adoro a modernidade. Acho que durante toda minha vidinha, que já são muitos e muitos aninhos, nada foi tão surpreendente como a chegada da telinha.
Foi uma revolução, as promessas eram de que a tal caixinha iria fazer uma coisa que poucos acreditavam que aconteceria, desbancar o rádio, oras vejam! Para quem viveu, ouviu ou mesmo estudou a respeito, sabe que o tal aparelhinho era uma paixão nacional, só comparado a TV dos tempos atuais.
Perto da transmissão radiofônica, a televisiva era ridiculazinha, as limitações e os erros eram grosserias perto da perfeição e abrangência do radinho.
E deu no que deu, não é mesmo?
Mas lembrando dá muitas saudades, de tudo que o autor falou, dos reclames bem datados como explica o amiguinho Guilherme (mexeram tanto no nome desse guri que eu não sei se é com “i”zinho ou não) e principalmente do meu primeiro aparelho de televisão um Telefunken com pés palito, o móvel era imenso mas a tela era pouco mais de 14”. Que saudadezinha!
o que eu me lembro da TV Piratini era a cantiga das nove horas da noite:
Ta na hora de dormir
Nao espere mamae mandar
Um bom sono pra voce
E um alegre despertar
Postar um comentário