quinta-feira, 11 de outubro de 2007

O engolidor de "is" (1)

Pobre László. Desde a infância tinha o sonho de triunfar. O treinamento fora espartano nestes anos todos. Mas, atualmente, a sua não era uma atividade muito apreciada no showbizz. Não tinha apelo comercial. Como os empresários diziam, não agregava valor. Se ao menos fosse fogo, ou vidro ou cobras e lagartos. Mas, ora vejam que habilidade simplória: ele era apenas um engolidor de “is”. Independente de ser bom ou não, a sua apresentação resumia-se a engolir publicamente “is”.

Houve tempo que o profissionalismo era muito maior e a atividade valorizada. Os bons tempos da escola magiar de engolidores de “is”. De lá saíram Vilmos Stupetek, Istvan Egger e o professor de todos, Sandor Dvorak. Jamais haverá outro engolidor de “is” igual. O mestre arrebatava multidões em todos os locais em que se apresentava. São antológicas as suas performances no Budai Vigadó, no verão de 43 e no Gran Circus Magyar, na season 47-48. Em uma única apresentação engoliu mais de 26 “is”. A fama espalhou-se pelos quatro cantos do mundo. O seguro de sua garganta atingiu valores semelhantes ao das pernas da Dietrich, das mãos do Rubinstein e dos seios da Mae West.

Infelizmente, apesar do desejo ardente, Sandor não conseguiu entrar para o Guiness World Records. Morreu moço durante uma experiência, mal sucedida, de degustação de um “ç”. Como não tinha familiaridade com a letra, a cedilha entalou no divertículo de Zenker. Morte súbita – lesão irreversível do esôfago. A viúva recebeu uma boa grana. Para o seguro o ocorrido foi considerado como acidente de trabalho. Pagamento dobrado. A semelhança do lobo mau, na história do chapeuzinho, quando abriram o estômago, durante a necrópsia, encontrou-se restos de material não digerido - uns 100 “is”. Ainda nos dias de hoje, na data deste trágico acidente, 23 de maio, uma multidão deposita flores aos pés da sua estátua, na Mátyás tér, em Budapest.
E por que László havia escolhido logo esta manifestação artística? Fora realmente uma escolha ou haveria um mistério associado a esta decisão?

7 comentários:

Otávio disse...

Fantástico!!!

Se não bastasse estimular nossa imaginação com a criação de um “engolidor de is”, ainda nos apresenta argumentos de que a atividade já foi, tempos atrás (para alguns não tão atrás assim), um ofício que poderia trazer glória e destaque a seus top de linha no mundo e com direito a monumento em praça pública para atestar a imortalidade.

Quanta bobagem não?

Não! Óbvio que não! Imaginem a quantidade de László que existe por ai, cara bom, bem intencionado, desempenha brilhantemente suas tarefas e o único defeito e estar na hora e época errada.

Mais uma vez parabéns!

É muito bom ser estimulado a enxergar a vida de uma maneira tão divertida.

Anunciatta disse...

Que texto mais cômicozinho (nossa a palavra quase ficou feia), Mineirinhos cuidado com a dicção ao pronunciar essa palavra, vocês adoram trocar o “o” pelo “u”, e não vai ficar muito bem.

Mas voltando..., coitadinho do rapaz não? Eu particularmente sempre achei um terror essa coisa de “c” cedilha (o correto é assim ou deveria escrever somente a letra “ç”), qual a necessidade, já não tem o “c” o “s” e os dois “s”(mais uma vez fico na dúvida do quanto é correto isso ou “ss”), enfim, isso me aborrece muito,me dá uma sensação de ignorânciazinha, mas, todavia, contudo, entratanto, senão, parece que o “ç” é apenas um pedaçinho complicador nessa complicação toda.

Mas o texto esta bem bonitinho, bem engraçadinho.

E não se esqueça que você me prometeu mais santinhos.

Beijinhos

Anônimo disse...

Boa noite Dr.Odilon & amigos,

Muito legal o seu blog. Mas eu gostaria de convidar o doutor e seus amigos a visitarem e postarem comentários no meu blog. Só não posso dizer meu nome, senão ELES me acham.

Abraços,

Paranoid J.
http://paranoidj.wordpress.com/

Anônimo disse...

E os direitos autorais do personagem? A quem vão?

Anônimo disse...

Isso é que dá ficar engolindo os Is por aí... especialmente quando é de nomes próprios, eles podem gerar gastroenterite crônica, esôfago de Barret, diverticulite e outros males, conforme publicação de artigo na Letter Swallowing Diseases Today.
A conduta clínica, neste caso, é muito discutida, mas aceita-se como padrão atual a administração de comentários em doses maciças.

roberto bezzerra disse...

mesmo achando divertido mais este delírio "odilonístico",fiquei com pena do tal engolidor.
tenho uma grande simpatia por quem executa profissões ou atividades que estejam em desuso.
hoje em dia é bem menor o número de profissionais como o bom e velho alfaiate,que era um craque da casemira.
e aquele sapateiro de bairro, que deixava nossos calçados novinhos em folha com uma boa meia sola e um salto,quantos existem ainda?
talvez pouca gente se lembre, mas houve um tempo em que meias e outras peças de malha eram cerzidas.
existia até aquele tal ovo de madeira, que era para cerzir meias...
alguma mãe,tia,madrinha ou avó ainda deve ter um desses ovos esquecidos numa gaveta ou numa lata de biscoitos.
aí, fiquei pensando, que desde a morte do engolidor de "is",nenhum outro apareceu,nem para engolir vogais nem consoantes.
virou uma celebridade e uma lenda,e como tal,exerce um fascínio especial.

Anônimo disse...

mtoooooooo delirio , mas achei o maximo pois a vida nos remete a engolir mtos is, as os us e assim vai,realmente tem letras que só dificultam a apredizagem e os que trocam os sons então nem se fala. não sou do arcop da velha mas bem lembrado pelo Roberto o ovo de madeira (não riam) eu tenho um guardado não sei onde , mas tenho vou procura-lo, bjus