sábado, 20 de outubro de 2007

A virtude atabafada – a infâmia

Ora deveis estar vos perguntando por que e como alinhar infâmia à virtude? Ao longo desta descrição tereis apresentadas algumas justificativas para a consideração da infâmia como a virtude encoberta.

A associação regular, porém imprópria, do termo infâmia apenas com ignonímia e vergonha, reforça o caráter pejorativo que o social impôs a despeito do componente filosófico indicar uma orientação menos indigna. Por que considerar a infâmia uma virtude? Virtude é uma força que age ou detém a capacidade de agir. Desde Aristóteles repete-se que a virtude é uma disposição adquirida voltada para o bem, independente do uso que dela se faz. Quais as características de beneficência presentes na infâmia?

A infâmia seria a virtude relacionada à perda da fama. Não só como conseqüência da desonra ou do descrédito imputado pelo meio. A digna representante de uma ação voluntária ao encontro do processo de anonímia. A opção pela ausência de celebridade. O afastamento precípuo da necessidade do reconhecimento. O despojamento da veleidade de ser superior.

Neste contexto a infâmia em conjunto com a misericórdia e a temperança formariam o triângulo de sustentação do estoicismo. A aceitação resignada do destino e a completa extirpação das paixões atingiriam seu apogeu na busca da sabedoria. Aquele que abdica da fama dá um grande passo em direção à sabedoria, que há de mostrar-lhe o valor da ausência da fama. Fecha-se o círculo vicioso da moderação do saber com prudência e humildade.

Os infames têm o poder de construir uma estima moral e difundi-la, eticamente, através do exemplo. Praticar esta virtude remete a escolha pela mediocridade e a cicatrização da ferida narcísica estimulada pela espetaculosidade atribuída a si pelos seus pares. O infame é antes de tudo um forte. Tem a coragem de assumir a perda da fama como fator agregador e de sociabilidade. O destaque deixa de ter um valor intrínseco e cede o lugar às vantagens do reconhecimento da igualdade.

3 comentários:

Anunciatta disse...

Ai, ai... Vocês querem fundir a cabeça da velhinha. Nunca fui um primor em filosofia, nem tenho idade para mudar meus sentimentozinhos com respeito a palavras.

Essazinha eu passo, certo?

Nem tem santinho mesmo.

Anônimo disse...

Eu sempre tive meus pensamente voltados para a face negra da infâmia. Ela estava lotada numa categoria de palavras que eu classifico como "exprimidoras" de sentimentos ruins.

Depois de ler este texto, já não sei mais, preciso pensar a respeito.

Uma coisa é certa, o nosso amigo parece que tem o dom de conseguir através das palavras, pelo menos fazer-nos pensar a respeito de coisas que sequer podíamos imaginar.

Gostei da palavra que para mim foi criada agora mesmo. Quando fizer frio eu vou me atabafar bem.

roberto bezzerra disse...

também gostei das palavras "atabafada","infâmia"-com todas as acepções que ela possa ter- assim como gosto de "crápula","escroque" e "embusteiro".
para mim são palavras teatrais,expressivas,enfáticas e costuram bem uma cena ou um simples diálogo.
são palavras que ajudam até um ator medíocre...
para mim uma das funções importantes do vocábulo é ter rítmo ao ser pronunciado.
isto parece que torna a idéia mais clara e não deixa dúvidas quanto ao sujeito ao qual ele está ligado.
principalmente os adjetivos...
imagine só um bom ator dizendo falas como:
"este crápula cometeu uma infâmia!"
ou ainda:
"ele não passa de um escroque de meia-pataca!"