A situação em que se encontrava era muito estranha, para Robert. Durante toda a sua vida, coragem era o que não lhe faltara. Coragem para enfrentar a morte dos pais aos sete anos, para suportar o orfanato, mesmo sabendo que sua tia Anne tinha condições financeiras de criá-lo – esperava ardorosamente que a velha bruxa estivesse apodrecendo no fundo do inferno. E muita coragem para fugir definitivamente daquele lugar aos quinze anos, em busca do seu destino. Vinte longos anos já haviam passado.
As lembranças de Banbridge eram, ainda, muito dolorosas. Nunca tivera necessidade ou vontade de torná-las públicas. Lendo seus livros, poucas pessoas imaginariam a sua origem. Ser um bom escritor podia incluir, também, uma vida nova. Os dados autobiográficos, descritos em seus dois primeiros romances firmaram um renascimento. Agora era Robert Doherty, o mago das letras. O escritor mais vendido do gênero. Ninguém recordava de Dummy Boo. Maldito apelido.
Na busca de um refúgio para as lembranças, distraidamente Robert abriu o envelope. No centro da página, uma única palavra – moulin. Imediatamente ele associou ao velho moinho de La Veyle. Não tinha informações precisas sobre esta construção, mas ela lhe chamara atenção, logo no dia da chegada. Mesmo sem estar definitivamente abandonado, o moinho tinha uma aparência sinistra. As velhas pás lembravam instrumentos medievais de tortura. As ruínas da edificação, na parte traseira, intensificavam a sensação macabra, complementada pela ausência de água, naquilo que outrora fora um leito de rio. Talvez ele estivesse cruzando as lembranças, mas o nome no papel não lhe inspirou nenhuma confiança.
Seria uma sugestão de local de encontro? Por que o velho moinho? Robert nem mesmo tinha certeza de que ele estivesse aberto. O que mais o intrigava era porque ela havia sumido sem dizer nem mesmo um alô. A atitude, mais que o pretenso local do encontro, preocupava Robert. Ascendeu outro cigarro e foi para cozinha preparar um chá. Desde pequeno o chá tinha propriedades de acalmá-lo. E neste momento, calma era o que ele mais necessitava. As badaladas do relógio da sala, abafadas pelas cortinas de algodão grosso das janelas, indicavam oito horas.
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Apesar de trabalhar na polícia há mais de 30 anos, o inspetor Philippot não se acostumava em ser acordado com o telefone. Vonnas era uma localidade pacata. Nada acontecia depois das nove horas da noite. Excepcionalmente uma briga em algum bar ou discussão entre marido e mulher. Estes acontecimentos nunca serviram de motivo para o guarda de plantão ligar e acordá-lo no meio da noite. Sim era apenas meia noite, mas para Philippot correspondia ao quinto sono. Um resmungo foi tudo que conseguiu balbuciar. Quase um grunhido ao telefone. Entretanto o teor da conversa fez com que ele pulasse da cama. Um Citröen C5, cinza escuro, fora encontrado parcialmente mergulhado na represa. Dentro o corpo de uma mulher. Aparentemente a morte não acontecera por afogamento, ela tinha sido estrangulada com uma echarpe magenta.
5 comentários:
Enfim uma morte!!!
Está ficando cada vez melhor.
gostei desta morte aí....
morte sempre dá um tempero nas histórias.
ainda mais quando a morte é um assassintato...mais ainda,quando este assassinato aparece envolto em mistério.
independente dos motivos,me pareceu um crime totalmente elegante,pois só gente classuda morre estrangulada com echarpes.
ainda mais,magenta...
quem será, né?
UAU!! me adereço inusitado virou a arma do crime!!!!!!!!!!!!!!!!
ADOREI!!!
bjs
Amigos da confraria... teremos muitas surpresas com esta estória .. já deu para ver que nosso amigo está inspiradíssimo!!
Capítulo #10 no ar:
http://blog.mazza.com.br/2007/11/30/confraria-literaria-capitulo-10/
;)
Gui
P.S.: cheio de inspiração e muuuitas referências verídicas rs
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