
Recentemente li, no espaço Gourmets amadores, sobre as agruras de uma experiente cozinheira em relação ao murchar dos suflês. Ela até levanta uma teoria muito interessante sobre a conspiração francesa para fazer os cozinheiros de outros locais sentirem-se humilhados frente à robustez dos suflês franceses. Mesmo compartilhando da referida teoria fui buscar subsídios científicos para esclarecer esta dúvida.
Na minha jornada, lancei mão de conhecimentos semânticos e médicos mais do que gastronômicos, para resolver o mistério. A etimologia da palavra indica uma origem no verbo francês souffler, que significa “soprar, respirar”. Isso mesmo respirar. Desta forma, também, as relações da iguaria com o ar obedecem à fisiologia respiratória – o ar que entra deve sair. Conforme queríamos demonstrar, o suflê foi feito para murchar. Sem entrar em detalhes enfadonhos de pressões e volumes, a quantidade final de aeração do suflê dependerá do volume residual, aquele que permanece no local depois de encerrado o processo ventilatório. Quanto menor o volume residual, menos ar vai sobrar e mais murcho vai parecer. E vice-versa. Simples, não é mesmo?
Agora todos perguntam – o que fazem os franceses para aumentar o volume residual e manter o suflê estufado? É doloroso, mas verdadeiro. Os chefs causam uma doença no suflê. De tanto fumarem nas cozinhas, durante a preparação dos suflês, os coitadinhos já nascem com enfisema, uma doença que aumenta o volume residual com a formação de grandes bolhas. Neste caso os coitadinhos são os suflês. Sim, os suflês tornam-se enfisematosos e com isso retêm mais ar, no final do processo suflatório. E não murcham.
Voilà!
Qualquer forma de agradecimento pode ser enviada para o endereço deste escrevinhador. Principalmente se vier na forma de algumas das delícias preparadas por vocês
8 comentários:
Pobre suflê.Mas para curarmos esta doença tão ruim enfisematosa,se COMÊ-LO.Aliás,quem sabe você pode fazer e aí degustá-lo?
Passei parte da mnhã pensando nesta pobre doença culinária!!De vez degustá-la sozinho ,pode chamar,aliás que ia toda semana para estudar, pode ir para comer.TÔ MORRENDO DE SAUDADES DE HELIÓPOLIS!!!
Muita boa a sua versão dos fatos. Acredite, com a nova lei contra o cigarro que começou a imperar na Franca a partir do dia 1º, eles passaram a não fazer parte do páreo. Vão fazer uns tão mirradinhos como os nossos.
Ouvi dizer também que o segredo é o tal molho béchamel, aquele que você faz um balde e só usa uma colherinha no suflê, lembra?
Caro Otavio,
tem algumas coisas que a gente deve esquecer - o molho bechamel é uma delas. Ainda bem que a esclerose não é seletiva... nem lembro mais.
Algo me diz que este bechamel tem alguma história que merece um post só para si!
Cara Chrises,
bechamel? quem é bechamel? Algum cantor francês do século passado.Tenho uma vaga lembrança... François Bechamel... seria ele?
Se for outra coisa já disse que não lembro... ah, sim existem vantagens na demência precoce.
Entendo e respeito o seu problema e por esse motivo eu apelo para a memória do nosso amigo Otávio, que já deu mostras de estar mais fresca para nos contar o episódio do balde de bechamel. Em tempo e apelando para a amiga wikipedia:
O molho béchamel é um molho que se obtém fervendo farinha de trigo (ou maisena) em manteiga ou margarina, diluindo depois com leite.
Deve ter coloração marfim, aparência de creme e sabor sem gosto de farinha crua. Depois de cozinhado, deve ser temperado de acordo com os alimentos que vai acompanhar. O Béchamel é ainda base de muitos outros molhos, sopas, cremes, recheios e souflés.
Segundo alguns, este molho teria sido criado por um jovem cozinheiro do século XIX, o francês Antoine Carême, considerado o primeiro chef-celebridade. No entanto, o nome Béchamel poderá vir de Louis Béchameil de Nointel, Maître d'hotel do rei Luís XIV, que viveu dois séculos antes e há registos de que os molhos à base de creme de leite já exisitam nesse tempo.
Embora muitas receitas não refiram a diferença entre este molho e o molho branco (a sua variedade mais simples), outras indicam claramente a necessidade de cozer bem a farinha na gordura antes de acrescentar o leite. Algumas receitas referem a necessidade da farinha ser alourada, ou seja, levemente queimada à maneira do roux, antes de colocar o leite.
Odilon, obrigada por descobrir a doença do meu sufflé! Mas como não sou fumadora não sei como resolver a coisa!! :P
Obrigada por passar na minha cozinha e pelo simpático comentário.
Um excelente 2008 para si.
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