quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Sai uma caixinha aí, doutor.

Acostumadas com o uso indiscriminado de doutor as pessoas transformam o termo em forma de tratamento e deixam de se importar com quem merece ou tem o direito ao uso do título. E como a língua é uma questão de usos e costumes, que os falantes sejam os donos do idioma.

Desta forma é salutar a aceitação do uso popular da palavra. Não cabe discussão improdutiva de a quem se aplica o título e nem a imposição de limites para o seu uso. Mesmo por que a prática não causa danos ou transtorno a ninguém. Entretanto é curioso e interessante verificar como evoluiu o costume desta denominação.

Etimologicamente a palavra deriva do verbo latino docere = ensinar. Os primeiros doutores receberam esta denominação, pois tinham o compromisso de ensinar os princípios da fé cristã – eram os Doutores da Igreja. Estes homens, inicialmente em número de 32, eram admirados pelos seus escritos em favor do ensino do Evangelho e da doutrina cristã.

Na Alta Idade Média, em torno dos séculos 11 e 12, difundiu-se o uso do termo entre os estudiosos das leis. Na Universidade de Bolonha, os doctor legis incluíam juristas praticantes e aqueles habilitados para a docência do Direito. Nesta época, a Medicina era praticada de forma desestruturada e nem sonhava em ter os seus doutores. Portanto, por tradição e antiguidade o titulo pertenceria aos advogados e não aos médicos. Esta classe também detém o direito de tratamento por alvará régio, editado por D. Maria I, de Portugal, com extensão para o Brasil.

O modelo acadêmico de reconhecimento do título para os indivíduos que concluem um curso de doutoramento é bastante recente. A primeira estruturação formal de um doutorado data de meados do século XIX, na Friedrich Wilhelm University, de Berlin, sendo aplicado inicialmente para as áreas humanas. A expansão para as áreas de ciências ocorreu no início do século XX.

Com o passar dos anos o termo doutor firmou-se como sinônimo de médico e persiste até os dias de hoje. A utilização da palavra modificou-se muito desde a metade do século passado e, atualmente, existem diversos significados para doutor. O dicionário Houaiss descreve quinze acepções, variando desde pessoa de notório saber até indivíduos com curso completo de nível superior.

Assim depreende-se, das extensões de sentido, que o termo deixou de ter um significado etimológico ou de titulação para assumir o seu papel meramente designativo de condição social. Ou melhor, de condição sócio-econômica. Para alguns brasileiros, doutor é quem tem um carro.

4 comentários:

Otávio disse...

Você esta enganado Doutor Odilon, médicos e advogados continuam com o título, o que a gente vê por ai é um povo desqualificado que recebe o título de Doto.

Lele disse...

Para descontrair... doutor é quem detém algum poder.
Explico: o garçom é o doutor que tem o poder de te servir uma caipinha deliciosa...

No caso dos médicos, eles tem o poder de dar um diagnóstico sobre o que sentimos.

não é mais ou menos assim?

bjs

roberto bezzerra disse...

Apenas para ilustrar "musikalmente" a acepção do teu último parágrafo, aqui vai:

"Não fala com pobre, não dá mão a preto, não carrega embrulho...
Pra que tanta pose, doutor ?
Pra que esse orgulho ?"

A Banca do Distinto, Billy Blanco, anos 40...

Adriana disse...

Ora DOUTOR Odilon,doutor é doutor...principalmente se tiver rolex no pulso,andar de Ferrari,não tem faculdade que tire este título do cidadão.HhuHU!!