domingo, 2 de dezembro de 2007

Pai, afasta de mim este cálice.

Existem poucas situações em que o obscurantismo se manifesta em todo o seu apogeu como na consideração de que o destaque pessoal deva ser uma manifestação ampla e irrestrita.

Certo é domingo, vou ser menos hermético e hermenêutico!

Porque raios, nós, tupiniquins semi-aculturados, cismamos que as pessoas, destacadas em uma, devam ser boas em todas as outras atividades humanas? Não nos basta que um cantor tenha o dom de encantar pela correta interpretação de letra e melodia. Exigimos que ele seja o melhor exemplo de relacionamento social, o politicamente correto, o bom pai, o pagador de impostos, o que nos ajuda na escolha do caminho político e interpreta textos bíblicos. E tantos outros aspectos de destaque. Em tudo premiado. Como se o prêmio, a sorte grande, não se encerrasse no cantar, maravilhosamente, bem.

Será que nós, pobres seres humanos, fomos capacitados para sermos os melhores em tudo? E será que, se assim fosse, agüentaríamos o tirão e a responsabilidade? Para mim, um refletivo contumaz sobre o assunto, a resposta é simples – NÃO. Deste modo maiúsculo, capital e definitivo. Não fomos feitos para o destaque indiscriminado. Sem deméritos religiosos ou oposição à auto-ajuda - não fomos feitos para a perfeição completa. E também não existem os naturalmente escolhidos e, portanto, bons em tudo.

Pai, afasta de mim este cálice. A vida não segue este caminho.

Entretanto, o reconhecimento de que não podemos ser bons em tudo não é uma solução. Se os seres humanos não possuem qualidades próprias para o destaque em todos os campos, eles devem fazer escolhas. E elas, não são fáceis. É mais cômodo perseguir uma fictícia factibilidade de atingir o olimpo pessoal, profissional, sexual, material e de tantos outros “al”. E morrer tentando. Sem encontrar aquele destaque autêntico. Aquele em que haverá orgulho de afirmar – sou o bom, o cara. Não importa qual seja, será o seu.

As escolhas pressupõem reflexão sobre as nossas qualidades e habilidades, mas também sobre vontades, aspirações, desejos e vivências. E metas de felicidade. Pode não parecer fácil ou lucrativo. Mas também não é complicado. O primeiro passo é querer descobrir. Os outros virão a seguir. Nascemos para ser feliz. Nem sempre perseguimos este determinismo. A busca dos destaques que conduzem a felicidade já é uma tarefa para toda vida. Eles são os importantes. Se a felicidade não vem ao nascimento, vamos pelo menos construí-la em vida e morrer feliz.

Já terá valido pena.

3 comentários:

roberto bezzerra disse...

Eu sempre me pergunto se essa cobrança pela tal perfeição é nossa, ou dos outros, e o quanto somos rigorosos e tolerantes. Não
acho muito fácil identificar e administrar o motivos que tornam mais ( ou menos ) elásticos o rigor e a tolerância.
Nem para conoco, nem para com os outros.

Otávio disse...

Nós realmente nos esquecemos desta máxima, nascemos para sermos felizes. Nem sempre perseguimos isso, às vezes até justamente o contrário, corremos desesperadamente atrás da infelicidade.

Parabéns, quando você fala sério, o assunto é sério mesmo. Acho que vai cutucar muita ferida por ai. Pelo menos de minha parte já senti uma fisgadazinha.

Adriana disse...

"todo homem sabe o caminho para ser feliz"...Perfeição não existe o que existe é a capacidade para fazer melhor