- Alô?
Ele não tinha reconhecido o toque do celular, por isso a demora em atender. Porque será que estava com essa música estranha? Ele ta de olho é na butique dela, ele ta de olho é na butique dela...
Do outro lado uma voz estranha e esganiçada insistia na chamada.
- Alô? Anselmo? É você, fala aí beinhê.
Anselmo? Fazia muito tempo que ninguém lhe chamava pelo primeiro nome. Anselmo Carlos de Meira Carvalhaes era o que estava escrito na certidão de nascimento. Ele optara por Carlos. E agora, alguém chamava do além o Anselmo. Quem?
- Anselmo, é Gladys.
E este sotaque, ainda por cima. Glêidis, quem seria esta tal de Glêidis.
- A colombina do baile de ontem à noite. Aquela de vermelho e preto. A colombina flamenguista. Tá lembrado, gatão?
Com o peso na cabeça ele mal se lembrava quem era. Como poderia se lembrar de uma colombina. Flamenguista e chamada, como ela mesma pronunciava, Glêidis. De que baile a moça estava falando? Não havia ressaca pior que a de gim. Havia sim, a de gim barato.
- Anselmo, você ainda tá aí? Responde, vai?
Ele nem sabia onde era o ali. Como poderia estar. Não reconhecia o quarto. Se é que era um quarto. A janela deixava entrar apenas uma tênue luminosidade. A cama de casal não era sua. Nenhum objeto conhecido. Definitivamente ele estava num ali que não sabia qual.
- Gatão, lembra que eu mudei o toque do seu celular? Pelo refrão da minha amiga Severina.
Então foi assim. Mais uma vez teria de mudar o número do celular. A vontade dele era atirar o aparelho longe e nunca mais lembrar de nada. Todo o carnaval era a mesma coisa. A promessa de não repetir os erros e a repetição, piorada, de todos eles.
- Você falou que eu podia ligar. Pra gente combinar o almoço. Já são três da tarde.
Almoço? Três horas da tarde? Do que esta mulher está falando, meu Deus. Mesmo acordado não lembrava de nada. Quanto mais de promessa de almoço. Primeiro tinha de descobrir onde estava. Pelo menos sabia quem era. Um trabalho a menos. A posição dos móveis, a luz que entrava pela porta do banheiro e as toalhas penduradas lhe deram a certeza de estar num hotel. O papel em cima do criado mudo confirmou – Hotel Negresco.
- Ah, vai. Me responde, Anselmo. Eu queria tanto te encontrar de novo. Apesar do pouco tempo já tô com saudades. Não me deixa falando sozinha. Por favor, gatão?
A vozinha melosa e entrecortada caiu como um banho de água gelada. Acordou de vez. Nada era pior, para ele que uma mulher chorosa. Imediatamente lembrou da mãe pedindo para ele não viajar. Tanto tempo tinha passado.
- Olá, Gladys. Você me acordou. Por isso estava confuso. Claro que lembro. Quanto ao almoço, que tal às quatro no Fina Flor. Você sabe onde é?
Sem escutar a resposta os seus olhos se encheram de lágrimas. Aquela voz não lhe saia do pensamento – Carlos não vá. Eu sei que nunca mais vou te ver.
Não tinha como fugir do destino. O remorso lhe acompanharia por toda a vida. As ressacas pós-carnaval poderiam abater a dívida, um pouco. Saldar nunca.
Ele não tinha reconhecido o toque do celular, por isso a demora em atender. Porque será que estava com essa música estranha? Ele ta de olho é na butique dela, ele ta de olho é na butique dela...
Do outro lado uma voz estranha e esganiçada insistia na chamada.
- Alô? Anselmo? É você, fala aí beinhê.
Anselmo? Fazia muito tempo que ninguém lhe chamava pelo primeiro nome. Anselmo Carlos de Meira Carvalhaes era o que estava escrito na certidão de nascimento. Ele optara por Carlos. E agora, alguém chamava do além o Anselmo. Quem?
- Anselmo, é Gladys.
E este sotaque, ainda por cima. Glêidis, quem seria esta tal de Glêidis.
- A colombina do baile de ontem à noite. Aquela de vermelho e preto. A colombina flamenguista. Tá lembrado, gatão?
Com o peso na cabeça ele mal se lembrava quem era. Como poderia se lembrar de uma colombina. Flamenguista e chamada, como ela mesma pronunciava, Glêidis. De que baile a moça estava falando? Não havia ressaca pior que a de gim. Havia sim, a de gim barato.
- Anselmo, você ainda tá aí? Responde, vai?
Ele nem sabia onde era o ali. Como poderia estar. Não reconhecia o quarto. Se é que era um quarto. A janela deixava entrar apenas uma tênue luminosidade. A cama de casal não era sua. Nenhum objeto conhecido. Definitivamente ele estava num ali que não sabia qual.
- Gatão, lembra que eu mudei o toque do seu celular? Pelo refrão da minha amiga Severina.
Então foi assim. Mais uma vez teria de mudar o número do celular. A vontade dele era atirar o aparelho longe e nunca mais lembrar de nada. Todo o carnaval era a mesma coisa. A promessa de não repetir os erros e a repetição, piorada, de todos eles.
- Você falou que eu podia ligar. Pra gente combinar o almoço. Já são três da tarde.
Almoço? Três horas da tarde? Do que esta mulher está falando, meu Deus. Mesmo acordado não lembrava de nada. Quanto mais de promessa de almoço. Primeiro tinha de descobrir onde estava. Pelo menos sabia quem era. Um trabalho a menos. A posição dos móveis, a luz que entrava pela porta do banheiro e as toalhas penduradas lhe deram a certeza de estar num hotel. O papel em cima do criado mudo confirmou – Hotel Negresco.
- Ah, vai. Me responde, Anselmo. Eu queria tanto te encontrar de novo. Apesar do pouco tempo já tô com saudades. Não me deixa falando sozinha. Por favor, gatão?
A vozinha melosa e entrecortada caiu como um banho de água gelada. Acordou de vez. Nada era pior, para ele que uma mulher chorosa. Imediatamente lembrou da mãe pedindo para ele não viajar. Tanto tempo tinha passado.
- Olá, Gladys. Você me acordou. Por isso estava confuso. Claro que lembro. Quanto ao almoço, que tal às quatro no Fina Flor. Você sabe onde é?
Sem escutar a resposta os seus olhos se encheram de lágrimas. Aquela voz não lhe saia do pensamento – Carlos não vá. Eu sei que nunca mais vou te ver.
Não tinha como fugir do destino. O remorso lhe acompanharia por toda a vida. As ressacas pós-carnaval poderiam abater a dívida, um pouco. Saldar nunca.
Um comentário:
Achei ótimo...chego a sentir o cheiro de desodorante vencido, cigarro e cerveja...
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