sábado, 9 de fevereiro de 2008

Escolha, pois, a Vida.

Muito estranho o tema da Campanha da Fraternidade 2008. Sem entrar na questão religiosa, que sendo fruto de um ato de fé não oferece um campo promissor à discussão, pode-se considerar no mínimo intrigante este tema para uma campanha da Igreja.

Intrigante porque a proponente não vislumbra ou aceita o oferecimento de duas posições, igualmente satisfatórias, que proporcionariam a possibilidade de escolha. Mesmo na questão específica do aborto, a Igreja deveria reconhecer na interrupção da gestação uma opção aceitável para, depois, falar em escolha. Na ausência de proposições plausíveis para eleição a afirmativa escolhida para a campanha soa como ordem – escolha a Vida!

Examinando a questão de uma forma mais ampla, não restrita ao aborto e eutanásia, como aceitar que exista escolha se não é oferecida uma alternativa? A não escolha da Vida, na sua manifestação primordial, implica o quê? Não viver. Mas o que é o não viver? Dada a complexidade desta condição, as discussões se afastam ou ignoram a sua existência. De uma maneira errônea os aspectos culturais, morais e filosóficas tendem a contrapor sempre a Vida à Morte. O que não é uma verdade na sua essência.

A opção da Morte só existe depois do estabelecimento da Vida, sendo, deste modo, uma conseqüência e não uma contraposição. Assim, o primeiro ato, início da Vida, não é acompanhado de escolha. Reveste-se um determinismo inquestionável, para os mortais. O exercício de escolha ou autonomia não existe, de fato. Pelo menos não para o ser que carregará a Vida. Diversos outros personagens participam do cenário relacionado ao ato de iniciar uma Vida, menos o ator principal. Este só adquire consciência muito tempo depois. E, nesta tomada de consciência não lhe é oferecido nenhum direito de escolha.

Portanto, ao longo de todo o período, passa-se a conviver com uma escolha não feita e que deve ser vivida da melhor forma possível. Se esta for a opção. A partir do momento que o sujeito compreende as questões relacionadas à Vida a escolha deveria passar a ser sua. A afirmativa de que a Vida é uma benção é por demais simplória, pois retira completamente a possibilidade de autonomia das pessoas em não fechar a questão desta forma. Por isso, a escolha que sobra restringe-se a viver bem ou não viver bem. E criar o conceito do bem é uma das questões mais delicadas, na natureza humana.

Um comentário:

Adriana disse...

Suas colocações são sempre apropriadas.O tom me pareceu muito serio,mas acho que o mamento pedia.