terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Je suis comme je suis.

Aproveito o post de hoje do Musikal, sobre Juliette Gréco, para me apoderar do nome do primeiro disco desta cantora como título deste texto. Os motivos são dois – primeiro que o evento a ser narrado se desenrolou na terra de Juliette e segundo que demonstram claramente que não há arrependimento sobre o ocorrido. Apenas a consciência de que a travessura não deve ser realizada novamente. Nunca mais. Valeu a experiência.

Depois de aguçar a curiosidade dos leitores, vamos aos fatos. Se bem que antes de iniciar a penosa narrativa devo alertar, aqueles que instigaram ou realizaram cobranças para a divulgação de uma questão de foro tão intimo, que os mesmos serão judicialmente responsabilizados se as conseqüências do relato trouxerem danos ao Odilon.

Sim, apesar do envolvimento no fato, como forma de preservação da sanidade, prefiro me referir ao ocorrido na terceira pessoa. Podem chamar isto de regressão das brabas. Para o meu ser é mais fácil contar a estória do Odilon. Como as crianças fazem ao revelar uma arte.

Pois é amigos, o Odilon já fez algumas coisas muito feias. As mais cabeludas não podem, e nem devem, ser reveladas, mas aquelas levemente peludas podem aparecer, de vez em quando. Esta é uma delas. Quem o conhece sabe que o Odilon, apesar de ser uma pessoa muito brincalhona, tem um senso de responsabilidade muito aguçado. Procura ser politicamente correto. Dificilmente comete alguma infração. No máximo pequenas digressões.

Por isso pode ser até incrível que o fato a ser narrado tenha acontecido com o Odilon. Logo com este rapaz tão consciente das vantagens de ser sempre correto. Bom filho, um irmão exemplar, dedicadíssimo aos amigos e preocupado com o bem-estar social e o meio ambiente. Por isso vamos aceitar este fato como um pequeno deslize. Ele merece a nossa condescendência. Quem nunca pecou que atire a primeira pedra.

Bem, aos fatos. O Odilon gosta de viajar. Em algumas viagens ele tem a companhia do amigo Otávio. Em 1998 eles viajaram para França. Uma viagem muito boa. Conheceram muitos lugares bonitos. Aproveitaram bem o passeio. Acho que estou desviando o assunto. Foco, cara!

Bem, no dia 15 de agosto, festa da Assunção de Nossa Senhora, depois de assistirem a procissão na Ile de la Cité, partindo da Notre Dame e encerrando na Saint Chapelle, com invocação especial à Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira das Américas, resolveram andar a pé pela avenue des Champs Elysee. Assim fizeram até a altura da avenue Geoge V.

Apesar de não estarem cansados resolveram retornar de metro. A estação mais próxima era a própria George V. De posse dos bilhetes, frisem bem este fato, de posse dos bilhetes se dirigiram direto para gare. Neste momento não sei explicar o que aconteceu com o Odilon. Por molecagem, pois não deveria ser por falta de posses já que o passe estava comprado, ele sugeriu ao Otávio a experiência de fazer uma infração. Passar a cancela sem colocar o bilhete.

O João certinho nem quis ouvir a proposta, para não se comprometer. Não, foi a resposta imediata. Neste momento um turbilhão de pensamentos passou pela cabeça do pobre rapaz. O Odilon deveria estar fora de si para propor tal descalabro. Não ele não devia ter escutado direito. Pular a cancela, Odilon? Que barbaridade! Tu sabes que é proibido, leva multa.

E o Odilon ficou sozinho na sua digressão. Tenho certeza que deve ter sido num ímpeto impensado – ele cometeu o ato. Burlou a lei francesa. Transgrediu o código napoleônico. E foi punido. O castigo veio à cavalo. Logo depois da cancela os fiscais do metro interpelaram o meliante. Sem explicação para o fato foi multado. Mas o pior foi a vergonha.

Como demonstração e lembrança para nunca mais cair em tentação o Odilon carrega, na carteira, como amuleto, o cartão da multa aplicada. A prova viva desta remissão plena pode ser apreciada na imagem que ilustra o texto. A data, 15/08/1998, e o valor elevado (200 francos franceses) servem, até hoje, de reforço positivo para se manter afastado de impulsos não recomendáveis, como o ocorrido.

PS – se aqueles dois achavam que eu ia fazer um mea culpa lastimoso ou me expor ao ridículo com esta estória banal, devem estar se arrependendo. Mesmo quando me ponho de joelhos, o faço de cabeça erguida. E com uma almofada de penas de ganso para não desenvolver artrose. Como um rei para receber a coroa, mesmo que seja de espinhos.

12 comentários:

Otávio disse...

Visto assim, digamos tão poeticamente contada, a estória fica até com sabor de aventura. Mas não foi nada disso, o reizinho ai das penas de ganso levou o maior pito da fiscalização do metro francês. O mais divertido, no entanto, ou o mais terrível para mim, é que como tudo acontecia em outra língua, eu não conseguia entender nada do que estava ocorrendo e quando levaram o amigo para uma sala para lhe aplicar a multa, eu achei que ele estava sendo preso e eu não sabia o que fazer. Quase tive um enfarto.

Anônimo disse...

Eu não consigo nem pensar em responder os comentários feitos à minha pessoa antes de me estrebuchar de rir com a modéstia: "Bom filho, um irmão exemplar, dedicadíssimo aos amigos e preocupado com o bem-estar social e o meio ambiente.". Sobrou até para o meio ambiente dessa vez! Haja!!!!

Odilon disse...

Caro Odilon,

que bela confissão meu. Quem dera todos os não arrependidos agissem assim. Tu és mesmo O CARA.

Agora que a outra se estrebucha mesmo! O meio-ambiente foi uma homenagem ao guru montessoriano.

Odilon disse...

amigo Otavio,

o intento não era prejudicá-lo ou causar danos. Agora imagino o certinho de plantão preocupado com as manchetes do dia seguinte no Le Monde - Meliante brasileiro deportado por contravenção. Ou então tendo de se dirigir a Embaixada do Brasil para livrar a cara do fascínora.

Anônimo disse...

E o guru montessoriano acha que o Odilon é MEU amigo imaginário - ele é SEU próprio amigo imaginário!!!! O divertido vai ser a hora que eles começarem a se pegar entre si - Odilon e Odilon!

Otávio disse...

Que estória é essa de guru montessoriano? Alguém vai ter de contar para gente esta estória direitinho.

Vou ter de começar tudo de novo?

E por falar nisso, que coisa que merece adeusinho de desapego? To boiando.

Anônimo disse...

KKKKKK Otavio, eu nem vou tentar te responder porque eu mal entendi a teoria - peça a um dos Odilons.

Só vou te adiantar que a sua escolha da última frase foi a mais infeliz possível - você vai entender quando um deles se pronunciar!

Anunciatta disse...

Quer dizer que o amiguinho é bandidinho internacional. Se fosse comigo, além do pito, levava uma bela de umas palmadinhas.

Odilon disse...

Que estória é essa de Odilons, com s no final. Um mero textozinho dissociativo e já imputam o diagnóstico de dupla personalidade?
Ainda mais vindo de alguém que sabidamente carrega nos s, como muito bem postou hoje.

Agora, Otávio... se ela não contar eu terei um prazer imenso de narrar a história. Só preciso da autorização de um outro personagem.

Ah, o doce sabor da vingança... veio mais rápido que eu desejava.
Desapego, amiga Chris.

Eu não to boiando! KKKKKKKK

roberto bezzerra disse...

Bem que eu sabia, que não era à toa
que eu uso de vez em quando a expressão ESCROQUE INTERNACIONAL...

Adriana disse...

Discordo de tudo:aguardo a publicação do seu livro.Dá para fazer um belo filme.Só ,que o ator nos vamos trocar ,não dá para "pular nem cercas".

Lóri disse...

Dançou, Odilon, vc não foi o único a tentar e se ferrar!!! :)) Só com uma variação, explico. Eu tinha 25 anos a menos, tava com uma colega de um curso de especialização p profs de francês, numa estação q eu já nao lembro o nome, perto da Maison du Brésil. Daquelas que são numa plataforma e não subterrâneas. COrria o ano de 85 e a minha companheira resolve que vai poupar o bilhete, eu fico apreensiva, mas digo tá bem, passamos as duas juntas na cancela com apenas um bilhete. Logo depois da dita, uma escada, começamos a subir e os agents de la paix ou coisa que o valha começam a chamar, a esperta, claro, se manda e sobe correndo, a cúmplice medrosa, eu, fica e resolve explicar. A honestidade vence, os agents perguntam apenas se eu tenho bilhete, eu digo que sim, eles me pedem p mostrar, eu mostro, eles me acompanham até a roleta e me fazem passar de novo por ela, desta vez sozinha e colocando o bilhete na respectiva frestinha. Sorriem gentilmente e "explicam", com toda a calma do mundo, que "le billet doit toujours être bien composté" Respirei aliviada, pois ia ficar mt P.... se tivesse de pagar 200 francos por causa da idéia brilhante da outra! Acho que eu tou mais pra Otavio que pra Odilon.