segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

A intenção do bem e o bem.

Vasculhando o blog de uma das novas amigas, trazidas pela Adriana, me deparei com uma poesia linda e profunda de Álvaro de Campos. Sobre a vontade e a realidade.

Divagando sobre estas questões chego a pergunta crucial: a vontade vale pelo fato?
Existe sentido na intenção, independente do acontecimento?

Sem a capacidade do poeta de transformar a dúvida em versos, me limito a pensar. Quantas vezes não bastariam a alguém um gesto intencional do bem, mesmo sem a concretização do fato. Quantas pessoas não estão à espera de um olhar terno, de uma palavra confiante, de um apoio velado. Sem que o tangível seja transferido, dado ou dividido. Apenas a prenda de uma vontade, como o poeta bem descreveu.

Acaso não é a esta atividade que nos dedicamos, enquanto o amor não se materializa? Distraímo-nos com a vontade de amar. O exercício diário desta intenção nos prepara para ato e permite distinguir o amor verdadeiro da paixão, da necessidade, da fuga da solidão. Da mesma forma que o amor platônico encerra privilégios inexistentes no amor real, também a intenção do bem pode sobrepujar o próprio bem. Primeiro que ela pode ser repetida em diversas oportunidades, segundo que a qualidade da vontade pode ser melhor do que o bem e finalmente manifestar a vontade do bem em diversas oportunidades ainda permite que o fato ocorra, ao seu tempo.

No vazio das relações superficiais apontamos o prático como sinônimo do desejado. Como se todas as felicidades só fossem satisfeitas com o recebimento, efetivamente, de um bem. E nos furtamos de expressar vontades para o bem, que quando praticadas com uma constância maior substituem com vantagens o bem. Elas podem ser até mais amplas e efetivas porque a intenção não tem limites e o seu compromisso é apenas com ela. O ganho do abstrato sobre o concreto.

E terei os lírios
Os melhores lírios
E as melhores rosas
Sem receber nada,
a não ser a prenda
Da tua vontade
De me dares lírios
E rosas também

A vontade é parceira do desejo. Um influencia o outro e a combinação dos dois contribui para a intenção. Quando a eles se junta o entusiasmo completa-se o ciclo. E mesmo sem a ocorrência do fato, a vontade é saboreada de uma maneira peculiar, intensa e verdadeira. Sem atormentar os fatos, que podem ficar em algum canto, a espera. Para aparecerem no momento certo.

Existe o tempo da intenção e o do fato. E eles não devem ser misturados, ou confundidos.

5 comentários:

Adriana disse...

Tem presente para voce no SALA E COZINHA.

Unknown disse...

muito bonito esse texto, gostei!

Anônimo disse...

Ola gostei bastante do que escreveste. Eu acho que o que conta e a intenção com que fazemos. Se todas as pessoas tivessem a intenção de fazer um acto de amor, o mundo seria bem melhor.
Não adianta fazer um acto de carinho se a intenção e ma, ou interesseira...
Jokitas angelicais

Pitanga Doce disse...

É a chamada "boa energia". Querer que tudo dê certo, pra si e para o outro. Nem sempre conseguimos, pois nem sempre estamos de bem com a vida. Como se diz do outro lado do Atlântico: há dias SIM e dias Não.

abraços em dia NIM.

Odilon disse...

Adriana,
obrigado pelo presente.

Islane,
você sabe que a sua opinião é muito importante, para mim.

Anjinha,
isso mesmso, boas intenções são melhores que más intenções ou maus atos.

Pitanga
as boas energias devem ser compartilhadas. Este ato já seria um auxílio primoroso para o mundo.