terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Influências literárias.

Quem sai aos seus não degenera, refere o célebre ditado popular. Eu também não nego as minhas raízes. Literariamente sou formado pela escola elementar de comentários. Iniciei sutilmente como observador, enveredei pelo apelo cômodo de escrever em reposta às idéias alheias e, um pouco mais tarde, desenvolvi o gosto pelo embate por meio das letras.

Da mesma forma que Joyce, que tendo vivido fora do país natal durante a maior parte da vida adulta, fez das experiências irlandesas o fundamento da sua obra com ambientação e temática essencialmente enraizadas em eventos familiares e amizades precoces. As reminiscências marcam indelevelmente os grandes escritores. É muito difícil fugir das origens na manifestação literária.

A poetisa portuguesa Florbela Espanca desenvolveu uma métrica e linguagem poética que não se enquadram em nenhuma corrente dominante. A construção de uma mitologia lírica muito própria revela sentimentos e desejos particulares que culminam na exposição declarada da sua intimidade. Na vanguarda do seu tempo, a singularidade da obra de Florbela, não passou incólume às influências. Admiradora de Júlio Dantas, Guerra Junqueiro, José Duro e, sobretudo, de Antonio Nobre conseguiu conciliar a renovação com a tradição poética portuguesa. Mais uma vez os reflexos primitivos da formação literária contribuem para sedimentação da obra.

Desta forma, como eu – pobre aprendiz na lida de escrevente – posso negar a grande influência do começo. A personalidade de aproveitador literário ainda está sólida. Não consigo perder a oportunidade, ver um bom texto, que mereça continuidade ou resposta, e me calar. É mais forte que o discernimento de certo ou errado. Algo mesmo visceral, instintivo. A veia repentista toma as rédeas.

Por isso, em algumas oportunidades os leitores ainda terão de conviver com embates. Quando o caminho literário estiver consolidado, talvez, este recurso possa ser abandonado. Saliento o talvez, pois no fundo não tenho gosto que eles desapareçam. Não é uma parte tão ignóbil que necessite ser definitivamente esquecida. E ainda existem os amigos fiéis que sentem saudade.

3 comentários:

Anônimo disse...

Já estou arregaçando as mangas... ou melhor dizendo alongando os dedos...

roberto bezzerra disse...

Então tá bom...é sempre estimulante estes pequenos & grandes embates, ou desafios, ou seja lá que nome se queira dar a estas "escrivinhações"...

Adriana disse...

Tenho certeza que vai deixar Carlos Drumond,Fernando Pessoa e até Camões com o coração partido pensando:PORQUE QUE NÃO FOI EU QUE ESCREVI ISTO!!
E os amigos dizendo:ESTE É MEU AMIGO!!
Vai enfrente Pablo Odilon Neruda.