
Da mesma forma que Joyce, que tendo vivido fora do país natal durante a maior parte da vida adulta, fez das experiências irlandesas o fundamento da sua obra com ambientação e temática essencialmente enraizadas em eventos familiares e amizades precoces. As reminiscências marcam indelevelmente os grandes escritores. É muito difícil fugir das origens na manifestação literária.
A poetisa portuguesa Florbela Espanca desenvolveu uma métrica e linguagem poética que não se enquadram em nenhuma corrente dominante. A construção de uma mitologia lírica muito própria revela sentimentos e desejos particulares que culminam na exposição declarada da sua intimidade. Na vanguarda do seu tempo, a singularidade da obra de Florbela, não passou incólume às influências. Admiradora de Júlio Dantas, Guerra Junqueiro, José Duro e, sobretudo, de Antonio Nobre conseguiu conciliar a renovação com a tradição poética portuguesa. Mais uma vez os reflexos primitivos da formação literária contribuem para sedimentação da obra.
Desta forma, como eu – pobre aprendiz na lida de escrevente – posso negar a grande influência do começo. A personalidade de aproveitador literário ainda está sólida. Não consigo perder a oportunidade, ver um bom texto, que mereça continuidade ou resposta, e me calar. É mais forte que o discernimento de certo ou errado. Algo mesmo visceral, instintivo. A veia repentista toma as rédeas.
Por isso, em algumas oportunidades os leitores ainda terão de conviver com embates. Quando o caminho literário estiver consolidado, talvez, este recurso possa ser abandonado. Saliento o talvez, pois no fundo não tenho gosto que eles desapareçam. Não é uma parte tão ignóbil que necessite ser definitivamente esquecida. E ainda existem os amigos fiéis que sentem saudade.
3 comentários:
Já estou arregaçando as mangas... ou melhor dizendo alongando os dedos...
Então tá bom...é sempre estimulante estes pequenos & grandes embates, ou desafios, ou seja lá que nome se queira dar a estas "escrivinhações"...
Tenho certeza que vai deixar Carlos Drumond,Fernando Pessoa e até Camões com o coração partido pensando:PORQUE QUE NÃO FOI EU QUE ESCREVI ISTO!!
E os amigos dizendo:ESTE É MEU AMIGO!!
Vai enfrente Pablo Odilon Neruda.
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