sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A aleitadora.

A Gabriela veio à luz faz exatamente 13 dias, 20 horas e 30 minutos. Pelo menos na hora em que comecei a escrever este texto. É um bebê lindo de riso farto e bochecha redonda. A boca parece pintada de um vermelho que tenho certeza o Criador (o mais superior não o Guilherme) se esmerou tanto que dificilmente conseguirá repetir a dose. E os olhinhos então... parecem dois.... bem vou ter de confessar que não consegui vê-los abertos por tempo suficiente para desenvolver uma licença poética. Ah, sim parecem dois filtros de candura e pureza.

Nesse pouquíssimo tempo já transformou, por completo e para melhor, toda uma série de vidas. Incluindo pais, avós e avôs, demais ascendentes e uma leva de parentes em linha direta e torta fora os amigos e conhecidos. Praticamente o mundo inteiro. Esse já não é mais o mesmo há 13 dias, 20 horas e 45 minutos.

Cumprida a praxe de odes à recém vinda vamos resgatar, um pouco, aquela a quem parece reservado um digníssimo segundo plano. A ocupante da função de mãe. No desempenho das suas nobres funções cria uma cumplicidade com o do terceiro plano – a personagem descrita como pai. Este consegue complementar ou substituir a mãe em quase tudo. Acorda à noite, atende aos choros, mima, acalanta, dá banho, limpa cocô, aguarda arroto... enfim, supre quase todas as necessidades fisiológicas. Menos a função maior – a amamentação. Desta forma a exclusividade materna reduz-se a ... ser uma aleitadora. A encarregada de executar o divino ato de alimentar a prole indefesa e dependente.

E nesta tarefa superior, as preocupações simplórias e mundanas com a inteligência de mercado são substituídas pela dúvida existencial de exaurir completamente a seiva de um seio ou proporcionar a bilateralidade das tetas, a cada mamada. Qual aquele príncipe da Dinamarca, a aleitadora se corrói na dúvida e a busca pelo esclarecimento consome momentos intermináveis. Primeiro o direito, depois o esquerdo. Ou só o direito e na próxima o esquerdo. Deve-se começar de forma invertida na próxima mamada? E como, frente ao cansaço e desgaste da execução da tarefa leiteira, garantir a seqüência desejada? Com o recurso singelo da caneta marcadora de textos? Um broche migratório? Ou desenvolver um algoritmo de previsibilidade que admita, pelo menos, quatro incógnitas?

E assim passam-se os dias.