quinta-feira, 31 de julho de 2008

As tias do meu amigo e outros que tais.

Desde o princípio a promessa, de que a internet fosse o caminho para um mundo infinito de novos amigos, parecia tentadora. Leitor ávido de textos técnicos e literários, bulas, cartazes em locais públicos, anúncios fúnebres, rótulos de maionese, embalagens de outros produtos e qualquer objeto letrado, intui que a infinidade de blogs disponíveis seria o prenúncio do paraíso. Gente, quanta oportunidade para criar novos laços.

Devo confessar, no entanto, que não passo de um mísero cosmopolita com alma de caipira. Criado um círculo, me encerro em relações, no máximo, quarternárias (amigo de amigo, de amigo de amigo, com direito a mudança de gênero no meio do caminho ou a princípio) e busco constantemente por sinais de relacionamento nesta esfera limitada. Neste caso a escolha de limites é uma ação deliberada. Sem desmerecimento para todo o vasto mundão disponível na blogosfera.

Pelo menos por enquanto, as viagens restringem-se a outras épocas, lugares e pessoas com as histórias do Chili Verde, ultimamente escassas ou restritas às tias. A diversão e seriedade, disponíveis no espaço da Adriana, me encantam. Além disso, me contento em vibrar com o crescimento da Isabela, da mesma forma que me preocupo com a cirurgia da mãe da Lele. Fico emocionado com a gestação da Chris e, apesar das controvérsias internacionais em relação aos termos, me embalo na maternidade dela e na paternidade do Guilherme. Os textos e o otimismo da Nanda me fazem acreditar nas pessoas. É na alegria ou melancolia das poesias publicadas pela Ana, Andorinha, Maripa e Fátima que eu sonho com a possibilidade de um mundo melhor. Nas mensagens da Pitanga Doce, Miss Slim e Querubina eu busco o equilíbrio interior para continuar dividindo com vocês este espaço, embalado pela trilha sonora do amigão Roberto.

E me realizo neste mundinho. Depois vou buscar os mares nunca dantes navegados, além da Taprobana. Por ora fico em Passargada. Aqui sou amigo do rei.

Olhem só onde eu estou também.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Amor de rendição.

Os que me conhecem de longa data sabem que comecei a carreira literária como comentarista. Sem idéias próprias para escrever, buscava na inspiração alheia um fio condutor para os textos. Sim, amigos, eu já tive os meus momentos bíblicos – o blog era sem forma e vazio e havia trevas sobre a face do abismo... Assim como o Criador tive de construir meus céus e terra. Com o passar do tempo veio o sucesso e a imaginação fértil jamais me abandonou.

Entretanto, o fato de ter uma imaginação mais prodigiosa que o próprio ego não impede que, periodicamente, eu retorne às minhas origens. Com a grande vantagem de que agora são diversas as fontes para o plágio bem construído. Já vai longe a temporada restrita à poeira do Caminho de Santiago.

Inspirado no belo texto da amiga Adriana, que incita ao amor incondicional, eu reflito sobre o fato de amar o inimigo. Sugere a escrevente que o ato esteja associado a um grau mais elevado – aqueles que conseguem superar a inimizade e amar os que lhe causam danos situam-se numa escala espiritual superior.

A inimizade, independentemente das atitudes e conseqüências, é uma forma de relacionamento. Demonstra que os envolvidos se preocupam um com o outro. Existe vínculo entre inimigos. A existência de motivos, conscientes ou inconscientes, para perpetuar uma malquerença implica que eles podem ser trabalhados e ajudarem na reversão da situação. Nestes casos a mudança de sinal do sentimento é plausível porque já existe um sentimento. Basta que algum dos contundentes deseje e saiba conduzir o processo. Desta forma, amar o inimigo não chega a ser uma demonstração de altruísmo e sim uma manifestação de desejo. O que em nada tira o mérito da questão. Apenas demonstra que mesmo o amor incondicional pode ter motivos egoístas, com conseqüências altruístas.

Entretanto, a mensagem de que existe enorme vantagem em amar as pessoas, indistintamente, ao invés de demonstrar indiferença ou detestá-las permanece como uma meta a ser alcançada. A humanidade agradece.

Aguardo a visita de vocês aqui também.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

É pique, é pique, é pique....

A mensagem de hoje é para lembrar o aniversário de um grande amigo.

Como este não tem o hábito de se retrair com comemorações, eu acredito que devam estar planejadas, pelo menos, catorze festas ao redor do mundo, para marcar a data. Um dado curioso é que se eu acertei na quantidade de festas e, se durante todos os anos houve um número semelhante de comemorações teremos perto dos quatro dígitos de solenidades em homenagem ao garotão.

Mesmo que vocês insistam muito, não vou revelar a idade do aniversariante. Posso, no máximo, dar algumas pistas. O ano do seu nascimento foi excepcional, até hoje é considerada uma das melhores safras do Chateau Margaux. No Vaticano, o trono de São Pedro era ocupado por Pio XII. Automóveis à gasogênio ainda circulavam pelo país. O general Chiang Kai-shek não era presidente da República da China e o Brasil inteiro não havia chorado pelo gol de Gighia. Ou, como se refere um outro amigo em comum, ele nasceu antes da metade do século passado. Pelas dicas vocês podem deduzir que ele não é muito moço. Digamos que o conjunto das velas, acesso em homenagem à data de hoje, poderia caracterizar um incêndio, de pequenas proporções.

Mas mesmo velhinho ele é um cara muito legal. Bom papo, ótimo garfo, cozinheiro razoável e um ser humano incrível. Mas a grande qualidade dele é ser um grande conhecedor de música. Agora vocês já sabem de quem se trata.

Roberto, parabéns por mais esta primavera!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Com que roupa eu vou, ao samba que você me convidou.

Quem dera o problema fosse apenas escolher uma roupa, para ir ao samba. Como na música de Noel Rosa algumas dúvidas se resumem às escolhas para combinar com um evento. Quando as combinações são simples como roupa e samba, só mesmo um autor do naipe de Noel para conseguir imortalizar a dúvida.

Mas, e se a combinação for nome e uma vida inteira? Daí o bicho pega. Ainda mais quando a escolha depende de quem não vai aproveitar nem o nome e muito menos a vida inteira. Fazer escolhas pelos outros é sempre uma tarefa difícil. Por isso a escolha do nome para uma filha, ou filho, é tão complicada para os pais.

Alguns nomes agradam em cheio à mãe. Mas o pai torce o nariz. Nestes casos, os motivos, as suas fontes ou agentes não têm muita importância, a discordância é suficiente para afastar definitivamente uma combinação nome-vida inteira do seu destino. Um novo nome selará um outro destino. E, como diz a piada, agora é tarde Inês é Marta.

Uma solução para este impasse poderia ser a formulada por um grande amigo que sugere a manutenção das crianças sem antropônimo ou com uma marca fantasia, até atingirem a plena capacidade de escolha do seu próprio nome. Talvez um pouco radical, porém salomônica. Nem os pais perpetuam o dilema da escolha acertada e nem as crianças carregam um fardo pela vida inteira.

Um recurso menos radical seria um período de rodízio entre os principais nomes escolhidos, na tentativa de atingir a sensação de acerto. Em cada fase Pedro, Rodrigo, Gabriel, Leonardo, Matheus seriam testados até a escolha definitiva por Pancrácio. Sim, um nome perfeito para aquele que, se não vencer tudo, pelo mesmo conseguirá chegar ao batismo.

Se estes recursos parecem pouco originais pode-se optar pela familiar e simplória solução da sugestão de amigos e parentes. Nem sempre bem aceita pelos pais, mas com uma assertividade fenomenal. Num instante os pais decidem-se por um nome para não escutar mais as aberrações sugeridas.

Acho que vou tentar esta última saída com um casal amigo. Aguardem.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Nasce uma estrela.

Melhor seria surge uma estrela, pois ela ainda não nasceu. Influenciado pela emocionante queda das fichas, do casal do momento, vou me permitir um arroubo poético. Não, na verdade será um roubo poético mesmo.

A vantagem da poesia, diga-se da boa poesia, é que ela serve para muitas situações. Independente das reais motivações, expressas pelo poeta, as palavras assumem um sentido pessoal e, muitas vezes, adaptável às condições ou necessidades do leitor. Usa-se a poesia em proveito próprio. Desta forma apelo a um amigo português e, numa licença literária, adapto sua poesia para a conjuntura do surgimento da estrela, neste que é o primeiro texto totalmente dedicado a ela e não aos pais.

Começo a conhecer-me. Não existo.

Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida ...
Sou isso, enfim ...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato.

Álvaro de Campos

PS: a adaptação, não feita no texto, modifica a palavra quarto por “ventre”. Cai como uma luva. Esta é só para você pequena estrela.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Boas notícias.

Algumas boas notícias demoram, mas aparecem. Uma das boas mesmo, com direito a comemoração e tudo mais, foi a gravidez da amiga Chrises. Ou melhor a gravidez da amiga e do marido Guilherme, pois parece que ele já andou tendo os seus mal-estares gravídicos.

Como diz a promessa nupcial – na alegria e na tristeza, na azia, no enjôo e na náusea, também. Vamos aguardar e observar quem aumenta mais de peso e desenvolve barriga. O que nós, os amigos, esperamos é que seja uma temporada muito feliz, propícia a reflexões, animadora e, porque não, um pouco temperamental. OK, mulheres grávidas e homens grávidos têm direito a um pouco de reinação. Um pouco, eu disse.

De momento vou poupar a jovem mãe das minhas observações acerca da gestação e suas conseqüências e desejar apenas muita saúde e felicidade (para os três) e que o rebento seja mesmo um temporal do verbo amar, como diz a belíssima música em homenagem a eles.


sexta-feira, 11 de julho de 2008

Treze badaladas.

Existem relíquias que não tem preço. Quer pelo valor intrínseco do bem, quer pelo valor sentimental que elas criam. Outras têm o seu valor determinado pela raridade. De uma forma geral quanto menor o número de itens de um mesmo produto, disponíveis na natureza, maior o valor alcançado. Desta forma acredito que na casa de minha mãe tenhamos uma verdadeira fortuna na parede.

Trata-se de um relógio. A valorização presumida não se deve à antiguidade do bem em questão e nem ao fato de ter sido construído por um artesão famoso. A raridade da peça repousa nas badaladas emitidas. Todos os relógios que conheço batem as horas de acordo com a seqüência de tempo. Assim é que soam duas badaladas às duas horas, cinco badaladas às cinco horas, dez badaladas às dez horas, numa correspondência singular. Ao meio dia, doze badaladas.

Depois das doze, alguns relógios repetem novamente - uma badalada para a uma da tarde, duas para as duas horas... Outros seguem a seqüência e batem treze vezes para uma da tarde, catorze para as duas e toca o barco. Até hoje não encontrei peça que misture estes dois padrões. Exceto a relíquia da velha senhora. Este relógio segue o padrão de badaladas das horas repetidas – as duas da manhã e as duas da tarde ele bate duas vezes, as seis da manhã e as seis da tarde repete seis badaladas.

Nada de estranho, exceto pelas badaladas das treze horas, correspondente a uma hora da tarde. Neste horário e somente neste horário ele bate treze vezes. Depois bate duas vezes, três vezes e a tarde segue mansamente. A uma da manhã ele bate apenas uma vez. Todos os relojoeiros consultados não souberam informar o porquê. Já foram feitos três workshops internacionais, dois deles na Suíça e não foi encontrada explicação para o fenômeno. Talvez seja um traço de personalidade do relógio. Temperamental, não é mesmo?

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Dietas esquisitas.

Alguns amigos, que sabem da minha atividade profissional, e ainda gostam de me ver praticando a bela arte de Hipócrates solicitam que eu publique, de vez em quando, alguns temas médicos. Provavelmente para inflar o meu ego, referem que a capacidade didática de explicar alguns pormenores médicos é inigualável – ou alguma coisa parecida com isto. Posso ter exagerado um pouco na descrição, mas a mensagem é esta.

Por isso resolvi comentar sobre dietas. Obviamente para perda de peso, já que elas se revestem de uma das questões mais complicadas na endocrinologia. Não esperem dicas mágicas. Não conheço nenhuma. Por mais angustiante que possa parecer, em pleno século XXI, as regras para perder peso ainda dependem, efetivamente, de um balanço energético negativo - calorias ingeridas menor que calorias perdidas. Se o sinal se inverte, corre-se o sério risco de perpetuar o indesejável.

Com isto, continuam valendo as três regras de ouro, para emagrecer: (1) coma menos, (2) reduza a quantidade de comida e (3) retire metade da comida do prato, depois de se servir. E sem fazer escolhas. De nada adianta se livrar de um pretenso excesso de alface ou brócolis. As massas, batatas, pizzas, mandiocas, arroz e assemelhados é que devem abandonar o barco.

Como estas regrinhas nem sempre são palatáveis apela-se para promessas de dietas mágicas e fantasiosas. Algumas não permitem a mistura de sal com açúcar, outras criam um sistema rebuscado de pontos e contrapontos que, se não soluciona o problema, pelo menos transforma o vivente num expert em aritmética. Isto sem falar naquelas regidas por astros ou nas que permitem apenas a ingestão de quantidades ilimitadas de ingredientes insossos.

O rosário de dietas esquisitas não tem fim. Sempre existe um espertalhão para abusar das fragilidades daqueles que realmente necessitam reduzir o peso e lançar a mais nova esperança infundada para milhares de pessoas. Sempre com um preçinho camarada.

PS: não esqueçam de me visitar lá.