sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Dia muito especial.

Ontem nasceu um anjo. Ansiosamente esperada pelos amigos Ota e Lele e por todos que os querem bem. Pela família, amigos e não seria exagero generalizar – pelo mundo inteiro. Como porta-voz da ala dos mais idosos, devo afirmar que ficamos muito contentes e desejamos aos pais os melhores momentos junto à pequena, agora e para sempre.

Afortunada seja a vinda da Isabela!

E além de todas as bênçãos, esperamos que esteja reservada para ela uma boa dose das qualidades e virtudes:

Inteligência
Saúde
Amor
Beleza
Esperança
Lealdade
Abundância

São os sinceros desejos de Odilon, Otávio e Roberto.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Velas: além do arrumando a mesa.

Além do uso decorativo, na arrumação de mesas, que não é o meu forte, existem alguns aspectos que podem ser acrescentados à funcionalidade das velas apresentada pela Chris, no seu post de hoje. Esta fonte de luz não tem uma idade definida, mas é bem velhinha (trocadilho besta). Existem descrições do seu uso, pelos egípcios, em período anterior a 3.000 A.C.
A iluminação sempre foi a sua função primordial.

O princípio de funcionamento das velas é extremamente simples. Transcrevo a explicação apresentada na wikipedia que traduz, muito bem, esta simplicidade – “durante a preparação da vela, previamente à ignição, o rastilho é saturado com o combustível na forma sólida. O calor do fósforo ou outra fonte de fogo irá derreter e vaporizar uma pequena porção de combustível que, no estado gasoso irá combinar-se com o oxigénio da atmosfera para formar a chama. A chama irá então providenciar calor suficiente para manter a vela acesa, numa típica reacção em cadeia auto-sustentável: o calor da chama derrete a superfície do combustível sólido, liquefazendo-o e fazendo-o deslocar-se em direcção ao rastilho e subi-lo, por capilaridade; o líquido passará, com o calor, para o estado gasoso, que irá ser consumido pela chama”.

Nada como a clareza e a descomplicação para aumentar o interesse dos leitores. Por favor não fechem o post! A partir de agora vou utilizar termos e descrições próprias. O que, por si só, pode comprometer mais ainda o interesse. De mais a mais vamos falar agora das utilidades, que não a iluminação, das velas.

No aspecto religioso as velas simbolisam a luz de Deus iluminando o caminho da fé e da verdade. Nas cerimônias fúnebres compõe o ambiente e a sua chama serve de guia para o caminho do céu. Em ocasiões menos formais, as velas criam um clima de luminosidade propícia a volúpia, luxúria e aos maus costumes. Quando perfumadas servem para atrapalhar a degustação de vinhos e interferir nos aromas dos pratos, bem como desodorizar locais catinguentos, segundo versão publicada no outro blog.

Porém a simbologia maior do uso das velas permanece, ainda, relacionada com os eventos natalícios. Nada a ver com Natal e sim com aniversários. Nestas comemorações comete-se a grosseria de dispor uma vela para cada ano de vida do aniversariante. Às vezes em cima de bolinhos mixurucas, o que acentua a disparidade entre intenção e incivilidade. Isto tudo acompanhado de cantorias e pique-pique. Assim não há como não odiar velas. Mesmo as decorativas.

PS: ofereço este post em reverência às poucas velinhas acesas ontem no aniversário, de .... alguns anos, da minha irmãzinha.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

As aventuras de Maria Rosa.

Maria Rosa
Roberto Bezz, 1996

Desde a adolescência era um suplício. Constantemente pensava naquilo e necessitava daquilo. Se fosse homem tinha certeza que passaria despercebido da família, dos amigos e mesmo da comunidade. Que os meninos vivessem praquilo, era até esperado. Chamar-lhes à atenção era um pouco de charme, para manter os bons costumes e a tolerância, mas no fundo aquilo era visto como um símbolo de virilidade.

Com as mulheres era diferente. A simples constatação da existência do desejo já era interpretada como pecado. A socialização do desejo, então, era coisa impura. Finalmente, a busca pela realização do desejo, bem isto só combinava com as perdidas. A castidade, em pensamentos, palavras e obras, era considerada a virtude suprema e todos os esforços deveriam ser dirigidos para a manutenção de uma pureza do corpo e da alma.

Mas para ela tudo era diferente. O som das palavras chulas despertava uma ansiedade que ela não sabia descrever bem, um misto de repulsa e prazer. As imagens eróticas e mesmo as pornográficas lhe causavam arrepios. Desde cedo compreendeu que gostava daquilo e queria muito aquilo. E não via motivo para não manifestar este desejo. Sem agredir a humanidade ou provocar transtornos sociais, queria apenas satisfação. Para os outros não era uma mulher normal, era aquela com desejos constantes e anormalmente fortes - assim o dicionário, e as outras pessoas a definiam.

Além da limitação na aceitação social, ainda havia os problemas decorrentes da interpretação pelos parceiros. Eles, definitivamente, não estavam preparados para algumas atitudes de busca e satisfação. Não partindo das mulheres. Alguns ficavam assustados, outros a repeliam categoricamente e a maioria não passava do primeiro encontro. Apesar de saber que não havia nada de errado com as suas atitudes, sofria com isto.

Não queria conduzir nenhum movimento de liberação feminina. Não estava a fim de modificar hábitos de outras mulheres que se contentavam com as suas circunstâncias. Gostaria de poder ser como era. Ansiava apenas por desejar o desejo. Na sua própria medida, no seu tempo e nas suas condições. As outras encontrariam seu caminho.

Estes pequenos detalhes que para ela pareciam restritos a sua pessoa causavam quase uma comoção social. Percebia que as pessoas não conseguiam ficar indiferentes, todas queriam fazer o seu juízo sobre a situação. Quem era esta mulher com atitudes subversivas contra a ordem estabelecida e que mantinha o equilíbrio do universo. Quem era esta louca?

Nesta hora, lembrava dos versos - seu nome é Maria Rosa, seu sobrenome, Paixão.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Túnel do tempo.

Existem algumas publicações que marcam a memória das pessoas. Sejam de revistas, livros, enciclopédias ou qualquer outra mídia impressa. Várias destas publicações fizeram a minha cabeça, e a de uma geração inteira. Quem não se recorda do Tesouro da Juventude, do Mundo da Criança e da Enciclopédia Barsa. Dos gibis do capitão Marvel, do Mandrake, do Cavaleiro Negro, do Fantasma e de muitos outros.

Independente dos aspectos educacionais e culturais de algumas, outras publicações tinham apenas a função de divertimento. Essa era a característica principal da maioria das revistas infantis. A diversão plena da criançada. Entretanto existia uma muito especial.

A Revista do Sesinho.

Publicada originalmente entre 1947 e 1960, pelo Serviço Social da Indústria (SESI), foi um sucesso editorial sem precedentes. Ela tinha o objetivo social de resgatar a cidadania e fazer com que o público infanto-juvenil se informasse de maneira divertida e saudável. Era rica em diversão e atividades de entretenimento, sempre com belas ilustrações, muito coloridas e com textos curtos e explicativos sobre várias matérias.

As histórias em quadrinho tinham temática educacional, acompanhadas de contos e poesias. A parte de trás da revista tinha um lugar reservado para as biografias de grandes brasileiros. As páginas eram recheadas de palavras cruzadas, charadas e cartas enigmáticas. Tudo no formato almanaque.

Você seria capaz de decifrar o ditado popular descrito na figura abaixo?



Soube que esta publicação foi relançada em 2001, mas confesso que não tive coragem de procurá-la. Prefiro manter a memória intacta.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Provérbios.


Existem alguns provérbios que realmente não fazem mais sentido neste nosso mundo competitivo e politicamente incorreto. Por mais que se queira parecer ajustado socialmente tem circunstâncias em que é impossível dar a outra face ou seguir o Manual Prático da Poliana.

Entretanto, alguns ditados não estão totalmente obsoletos. Dependendo das situações práticas do dia a dia, alguns deles ainda têm uma utilidade ou, com pequenas adaptações, podem ser reaproveitados. Vejamos alguns exemplos:

“Quando você cometer um engano, tome providências imediatas para corrigi-lo” - neste caso a sugestão é apenas para substituição do verbo final, ao invés de corrigir tente esconder ou disfarçar.

“Aquele que não agradece pelas pequenas coisas, não agradece o bastante” - para ser lembrado sempre que você tiver uma crise de que o seu é menor do que o dos outros e não esqueça de procurar uma boa moça que seja adepta desta verdade proverbial.

"Dê mais as pessoas do que elas esperam, e faça-o com alegria" - para os casos de indisposição e dores de cabeça constantes das companheiras. Caso exista uma reincidência opte por uma adaptação deste provérbio “Há três coisas que jamais voltam: a flecha lançada, a palavra dita e a oportunidade perdida" substituindo qualquer dos membros por “companheiro não satisfeito”.

"Espere o melhor, prepare-se para o pior e receba o que vier" - especial para as moças casadoiras, assim mesmo sem adaptação ou para quem está querendo mudar de emprego.

"Nada assenta melhor ao corpo que o crescimento do espírito" - nada mesmo caras leitoras, nem mesmo um Dolce & Gabbana preto com um colarzinho de pérolas.

"A língua resiste porque é mole; os dentes cedem porque são duros"- bem, este acho melhor usar ao pé da letra, ou adapte ao seu gosto ou necessidade. Tô fora.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Comemoração do Musikal.




Hoje o Musikal, do amigo Roberto faz três meses e meio. Exatamente 107 dias ou alguma coisa perto deste tempo. Como não encontrei nenhuma designação para este tempo, em datas comemorativas, resolvi criar uma denominação – Bodas de Vinil.
É isto aí amigos hoje o Roberto e o seu Musikal estão comemorando Bodas de Vinil.

Parabéns, Roberto!

E como homenagem, eu apresento o vídeo da primeira música apresentada no blog com a Nina Hagen.

Divirtam-se!

Para acessar outras versões da mesma música, clique aqui, ou aqui.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Adiós, Comandante!


A notícia internacional do dia foi a renúncia de Fidel Castro à Presidência de Cuba e ao seu cargo de Comandante do Partido Comunista. Na mensagem, publicada no jornal oficial, em que Fidel anuncia que deixará o cargo, existem menções ao “estado grave de saúde” e “estado precário de saúde”. Fatos que apenas o presidente Lula não foi capaz de aceitar ou descrever, na sua visita à Cuba, em janeiro, e já comentada neste blog.

Independente das sensações que este fato cause nos partidários e adversários de Fidel, sobra uma mensagem inquestionável:

Não há bem que sempre dure e nem mal que nunca se acabe.

Tudo passa!

Ou como a garotada refere atualmente – a fila anda.

Já andou, Comandante.

Adiós.

Valentine's meme.

A amiga Adriana, agora no blog Três Marias, enviou um meme do Valentine’s Day. Mesmo tendo passado o tempo e estar fora do prazo de validade, pois as instruções indicavam que “depois de o receber tenho 10 minutos para responder a 2 perguntas e passá-lo a outras dez pessoas, sendo que o meme deverá terminar, amanhã, dia 14 de fevereiro a meia-noite”, resolvi repondê-lo, para quebrar um pouco este ar romântico.

Como o tempo de um amor e uma cabana, já passou há “priscas eras” para mim as respostas são as seguintes (em seqüências à pergunta):

O que gostarias que o teu par te oferecesse amanhã?
Ações da Vale do Rio Doce.
Uma boa quantidade delas.


E o que responderias em agradecimento?
Ainda bem que você é esperta.
Eu realmente sei escolher bem as companhias.


Além de não passar adiante o meme, estou pronto para os comentários.

Premiação.

Recebi ontem, por meio do blog SALA E COZINHA, um prêmio muito agradável. Fiquei muito orgulhoso pela consideração e carinho.

A partir de hoje o Guris, Eu vi! se tornou um blog muito bom, sim senhora! Ou muito bom, sim senhores e senhoras, distinto público, caros leitores.....



Regras de premiação:

1. este prêmio deve ser atribuído aos blogs que considerem serem bons. Entende-se como “bom” os blogs que costuma visitar regularmente e onde deixa comentários;

2. Só se recebeu o “É um blog muito bom, sim senhora”, deve escrever um post incluindo: a pessoa que lhe deu o prêmio com um link para o respectivo blog; a tag do prêmio; as regras e a indicação de outros sete blogs para receberem o prêmio.

Só tem um problema. Espero não estragar a corrente, mas todos os blogs irmãos já foram premiados. Vou interromper o envio desejando sucesso para todos os que foram premiados comigo.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

A intenção do bem e o bem.

Vasculhando o blog de uma das novas amigas, trazidas pela Adriana, me deparei com uma poesia linda e profunda de Álvaro de Campos. Sobre a vontade e a realidade.

Divagando sobre estas questões chego a pergunta crucial: a vontade vale pelo fato?
Existe sentido na intenção, independente do acontecimento?

Sem a capacidade do poeta de transformar a dúvida em versos, me limito a pensar. Quantas vezes não bastariam a alguém um gesto intencional do bem, mesmo sem a concretização do fato. Quantas pessoas não estão à espera de um olhar terno, de uma palavra confiante, de um apoio velado. Sem que o tangível seja transferido, dado ou dividido. Apenas a prenda de uma vontade, como o poeta bem descreveu.

Acaso não é a esta atividade que nos dedicamos, enquanto o amor não se materializa? Distraímo-nos com a vontade de amar. O exercício diário desta intenção nos prepara para ato e permite distinguir o amor verdadeiro da paixão, da necessidade, da fuga da solidão. Da mesma forma que o amor platônico encerra privilégios inexistentes no amor real, também a intenção do bem pode sobrepujar o próprio bem. Primeiro que ela pode ser repetida em diversas oportunidades, segundo que a qualidade da vontade pode ser melhor do que o bem e finalmente manifestar a vontade do bem em diversas oportunidades ainda permite que o fato ocorra, ao seu tempo.

No vazio das relações superficiais apontamos o prático como sinônimo do desejado. Como se todas as felicidades só fossem satisfeitas com o recebimento, efetivamente, de um bem. E nos furtamos de expressar vontades para o bem, que quando praticadas com uma constância maior substituem com vantagens o bem. Elas podem ser até mais amplas e efetivas porque a intenção não tem limites e o seu compromisso é apenas com ela. O ganho do abstrato sobre o concreto.

E terei os lírios
Os melhores lírios
E as melhores rosas
Sem receber nada,
a não ser a prenda
Da tua vontade
De me dares lírios
E rosas também

A vontade é parceira do desejo. Um influencia o outro e a combinação dos dois contribui para a intenção. Quando a eles se junta o entusiasmo completa-se o ciclo. E mesmo sem a ocorrência do fato, a vontade é saboreada de uma maneira peculiar, intensa e verdadeira. Sem atormentar os fatos, que podem ficar em algum canto, a espera. Para aparecerem no momento certo.

Existe o tempo da intenção e o do fato. E eles não devem ser misturados, ou confundidos.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Adágio para amigos tristes.



As tardes de domingo entristecem a humanidade. De forma não científica chego a esta conclusão atroz. Sem números concretos para referir, aponto apenas aqueles amigos que já afirmaram aqui, publicamente, que a melancolia domina o entardecer dominical. E como a minha humanidade é feita daqueles que me são caros, concluo: as tardes de domingo entristecem a humanidade. Os outros que publiquem seus dados e me contradigam. Assim mesmo, ainda invocarei o viés de amostragem.

Como não tenho o poder de modificar as percepções, sentimentos e expectativas desta humanidade, eu me limito a produzir artimanhas com o intento de transformar estes momentos de prostração em, pelo menos, belos momentos de prostração. No futuro serão meras lembranças, resquícios dos períodos de devaneio e meditação que, triste e docemente, preenchiam os entardeceres dos domingos.

Que esta lentidão terna e patética contribua para um bom início de semana. Eu mesmo prefiro algo mais presto.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Ofensas ultrapassadas.

A língua portuguesa é uma jóia. Quer pela beleza da formação de sentenças, quer pela sonoridade própria dos termos. Entretanto, independente da erudição e das tentativas de preservação integral da língua, existem alguns vocábulos que, com o passar do tempo caem em desuso. Permanecem como partes da jóia, mas destinadas a um cofre.

Assim como as palavras de carinho se tornam ultrapassadas, também as formas de ofender podem ser datadas. Algumas palavras, extremamente ofensivas em determinados períodos, podem perder a sua força e deixar de ter a utilidade para um xingamento. Podem até soar hilárias, em outros tempos.

Vocês imaginam alguém ofendendo outrem com a palavra pústula. Retire-se, não suporto a sua presença, você é mesmo um pústula! Nos dias de hoje, por mais carregada que seja a entonação, o timbre de voz ou a veemência proferida junto com o termo, ele não tem mais sentido. Ninguém se ofende por ser pústula. Ninguém nem mesmo se preocupa em saber o que é ser pústula.

Da mesma forma, ofensas morais do quilate de piranha, boa-bisca, biscate, para as mulheres ou maricas, peroba e pederasta, para os homens, perderam o sentido. A não ser em brigas de casas de repouso dificilmente são ouvidas em público. A semelhança de pé-de-chinelo ou a sua variante altamente ofensiva pé-de chulé. Quem, nos dias de hoje ousaria proferir um tamanho insulto com estas palavras. O insultado rolaria no chão de tanto rir.

Outros termos devido à forma rebuscada ou desconhecimento do significado nem mesmo guardam o sentido ofensivo de antigamente. Ninguém ousaria descrever algum dos nobres deputados como pérfidos ou publicar uma manchete de jornal, nestes termos - Os representantes do povo, pérfidos e iníquos merecem o vilipêndio dos brasileiros por abjetos que são.

Será que uma senhora ainda se ofenderia se fosse chamada de coroca ou de um caco? Ou seria considerado um assedio moral referir-se a um funcionário como chocho? O que dizer então das ofensas de honra como biltre, cafajeste ou mesmo crápula. Todas sem utilidade.

Como eu nunca fui um ser desagradável, por natureza, não tenho muito a perder com esta situação. Porém imagino aqueles que ficam indignados com qualquer atitude contra a pessoa deles e apelam para injúrias, lançando mão de um poderio verbal ferino. Como devem sentir-se incomodados quando os ofendidos não dão a mínima bola ou manifestam falta de entendimento para os xingamentos. Devem se sentir caducos.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Soluções a varejo.

A homenagem hoje vai para o casal de amigos Lele e Ota, pela notícia da iminente chegada da Isabela. Embora um pouco mais iminente do que se esperava, certamente repleta de muitas esperanças e felicidade. Vou procurar fazer um texto bem longo e explicadinho para não confundir, novamente, os amigos.

Como eu nunca fiquei grávido não posso dizer que entenda as questões levantadas no post de hoje. Porém imagino o transtorno de um planejamento de atividades para duas semanas serem abruptamente interrompidos pela notícia – é esperada uma redução de 50% no tempo programado. Dá para tirar qualquer um da linha. Muita calma nesta hora! O mais importante é que ela está vindo, e bem. O resto realmente dá-se um jeito.

Já apareceram oferecimentos dos amigos e espero que eles se multipliquem. Pena que nesta hora até a capacidade de delegar tarefas e montar escalas fica comprometida. E também as tarefas que geram maior ansiedade não podem ser delegadas. Por isso vou procurar auxiliar nas dúvidas bizarras, surgidas durante a conversa no carro. Realmente hilárias.

Quanto aos chocolates e lembranças sempre há o caminho da negociação – os que aceitarem ficar sem a lembrancinha podem olhar o dobro do tempo para a bebe. Uma troca muito vantajosa. Pegar no colo só se trouxer lembrancinhas de casa. Idênticas às planejadas. Outra forma seria mobilizar o grupo de fiandeiras de plantão, dispersas pelos blogs da vida e solicitar auxílio. Basta dar as coordenadas dos enfeites e a criatividade vai voar longe. Solucionada a questão A.

Quanto ao CdS - depois do nascimento da Isabela o seu conceito de malabarismos e acrobacias vai passar por uma modificação substancial. Por isso mesmo se não vender ou passar adiante a perda será pela melhor causa do mundo. E você nem vai achar eles os maiores contorcionistas do mundo. Outro ponto solucionado,questão B.

A nota fiscal eletrônica envolve um problema mais técnico, mas que no fim também pode ser mandado às favas. O máximo que pode acontecer é o Ota se tornar o paizão mais alegre.... e mais ferrado do mundo, ao mesmo tempo. Vai valer a pena. E devemos lembrar o velho ditado - o que não tem solução, solucionado está (acho que este eu coloquei no contexto adequado, ufa!!!). Solução para a questão C.

Pronto, apontadas as saída, para todas as questões. Como o nosso estoque de soluções ainda não atingiu o nível crítico aceitam-se novas demandas. Devem ser enviadas aos cuidados de Pregnancy Solutions, rua do Catiriri, 46 ou diretamente neste blog.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Compromisso para felicidade.

Rosedal
Buenos Aires - 2007

Eu já escrevi aqui sobre as belezas escondidas. Hoje vou falar sobre felicidades escondidas. Uma das minhas convicções na vida é de que a missão das pessoas, no mundo, é participar da felicidade. Isto significa que todas as pessoas que passaram, passam ou passarão pelo mundo foram, são ou serão felizes.

Nada a ver com a ganância humana de desejar ou admitir apenas uma condição de felicidade plena, duradoura e constante. Estou falando de momentos felizes. Pequenas alegrias, que mesmo passageiras, contribuem para que o mundo seja visto como um lugar agradável de viver. Admirar o sorriso de uma criança, molhar o rosto na chuva, caminhar à beira da praia, sentir o calor do sol, olhar nos olhos da pessoa amada são acontecimentos que deixam qualquer um feliz.

Sem contar com aquelas ações que trazem felicidade por serem praticadas indistintamente – agradecer, pedir por favor, abençoar, bem-dizer, torcer por, desejar sucesso, amar, respeitar, oferecer, querer bem, ajudar e tantas outras que às vezes ficam escondidas, como se fosse uma bobagem muito grande se orgulhar delas.

Imaginem o quanto de felicidade estamos deixando de acumular neste mundo apenas porque ficamos constrangidos ou desaprendemos, no dia a dia, de como é bom uma pequena demonstração de afeto. Com o vizinho, a moça da padaria, o guarda de trânsito, o pedinte, o colega de trabalho, tantos quanto estiverem no nosso caminho.

Muitas pessoas perdem as pequenas alegrias enquanto aguardam a grande felicidade - Pearl S. Buck.

Por isso, pratiquem pequenas alegrias, delas, na verdade, é feita a grande felicidade.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Amigo é coisa pra se guardar.

Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé.

Dedico ao meu amigo Guilherme as duas primeiras estrofes, da segunda parte do Hino Nacional Brasileiro.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Je suis comme je suis.

Aproveito o post de hoje do Musikal, sobre Juliette Gréco, para me apoderar do nome do primeiro disco desta cantora como título deste texto. Os motivos são dois – primeiro que o evento a ser narrado se desenrolou na terra de Juliette e segundo que demonstram claramente que não há arrependimento sobre o ocorrido. Apenas a consciência de que a travessura não deve ser realizada novamente. Nunca mais. Valeu a experiência.

Depois de aguçar a curiosidade dos leitores, vamos aos fatos. Se bem que antes de iniciar a penosa narrativa devo alertar, aqueles que instigaram ou realizaram cobranças para a divulgação de uma questão de foro tão intimo, que os mesmos serão judicialmente responsabilizados se as conseqüências do relato trouxerem danos ao Odilon.

Sim, apesar do envolvimento no fato, como forma de preservação da sanidade, prefiro me referir ao ocorrido na terceira pessoa. Podem chamar isto de regressão das brabas. Para o meu ser é mais fácil contar a estória do Odilon. Como as crianças fazem ao revelar uma arte.

Pois é amigos, o Odilon já fez algumas coisas muito feias. As mais cabeludas não podem, e nem devem, ser reveladas, mas aquelas levemente peludas podem aparecer, de vez em quando. Esta é uma delas. Quem o conhece sabe que o Odilon, apesar de ser uma pessoa muito brincalhona, tem um senso de responsabilidade muito aguçado. Procura ser politicamente correto. Dificilmente comete alguma infração. No máximo pequenas digressões.

Por isso pode ser até incrível que o fato a ser narrado tenha acontecido com o Odilon. Logo com este rapaz tão consciente das vantagens de ser sempre correto. Bom filho, um irmão exemplar, dedicadíssimo aos amigos e preocupado com o bem-estar social e o meio ambiente. Por isso vamos aceitar este fato como um pequeno deslize. Ele merece a nossa condescendência. Quem nunca pecou que atire a primeira pedra.

Bem, aos fatos. O Odilon gosta de viajar. Em algumas viagens ele tem a companhia do amigo Otávio. Em 1998 eles viajaram para França. Uma viagem muito boa. Conheceram muitos lugares bonitos. Aproveitaram bem o passeio. Acho que estou desviando o assunto. Foco, cara!

Bem, no dia 15 de agosto, festa da Assunção de Nossa Senhora, depois de assistirem a procissão na Ile de la Cité, partindo da Notre Dame e encerrando na Saint Chapelle, com invocação especial à Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira das Américas, resolveram andar a pé pela avenue des Champs Elysee. Assim fizeram até a altura da avenue Geoge V.

Apesar de não estarem cansados resolveram retornar de metro. A estação mais próxima era a própria George V. De posse dos bilhetes, frisem bem este fato, de posse dos bilhetes se dirigiram direto para gare. Neste momento não sei explicar o que aconteceu com o Odilon. Por molecagem, pois não deveria ser por falta de posses já que o passe estava comprado, ele sugeriu ao Otávio a experiência de fazer uma infração. Passar a cancela sem colocar o bilhete.

O João certinho nem quis ouvir a proposta, para não se comprometer. Não, foi a resposta imediata. Neste momento um turbilhão de pensamentos passou pela cabeça do pobre rapaz. O Odilon deveria estar fora de si para propor tal descalabro. Não ele não devia ter escutado direito. Pular a cancela, Odilon? Que barbaridade! Tu sabes que é proibido, leva multa.

E o Odilon ficou sozinho na sua digressão. Tenho certeza que deve ter sido num ímpeto impensado – ele cometeu o ato. Burlou a lei francesa. Transgrediu o código napoleônico. E foi punido. O castigo veio à cavalo. Logo depois da cancela os fiscais do metro interpelaram o meliante. Sem explicação para o fato foi multado. Mas o pior foi a vergonha.

Como demonstração e lembrança para nunca mais cair em tentação o Odilon carrega, na carteira, como amuleto, o cartão da multa aplicada. A prova viva desta remissão plena pode ser apreciada na imagem que ilustra o texto. A data, 15/08/1998, e o valor elevado (200 francos franceses) servem, até hoje, de reforço positivo para se manter afastado de impulsos não recomendáveis, como o ocorrido.

PS – se aqueles dois achavam que eu ia fazer um mea culpa lastimoso ou me expor ao ridículo com esta estória banal, devem estar se arrependendo. Mesmo quando me ponho de joelhos, o faço de cabeça erguida. E com uma almofada de penas de ganso para não desenvolver artrose. Como um rei para receber a coroa, mesmo que seja de espinhos.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Meu cafezal em flor.

Vendo o post da madrugada de hoje do Musikal, realmente eu me emocionei. Apesar de não ter nem de perto a idade dos amigos Otávio e Roberto, eu me recordo, bem mais recentemente, das músicas da dupla Cascatinha e Inhana.

Só que a minha preferida não era Meu primeiro amor. Talvez por desconhecimento ou por uma fantasia eu adorava Flor do cafezal. Imaginava algo tão peculiar como a figura do post. Dá uma nostalgia.

PS: aqueles que estão acostumados com as estórias sabem sobre a minha dificuldade nas lembranças de café passado na hora, cheirinho de fazenda e outros. Sempre fui cosmopolita. Não sei se da praticidade materna ou das ações da Nestlé paternas venha a contribuição mais substanciosa para este fato.

Apresentações e nomes.

Lendo hoje uma notícia social que um amigo enviou resolvi apresentar a terceira parte da série de comportamentos sociais. Hoje vamos analisar as questões de apresentações formais. Em seqüência virão as apresentações informais e a forma correta de utilizar os nomes das pessoas conhecidas ou apresentadas.

A modernidade determina que, atualmente, tanto homens como mulheres podem proceder a apresentação entre as pessoas. Houve tempo em que a mulher apenas na condição de anfitriã poderia exercer esta tarefa. Em outras condições este fato era considerado uma descortesia quando não um questionamento da honra, caso o ser apresentado fosse do sexo oposto. As mulheres só conheciam homens por meio de outros homens. A corrente encantada de apresentações de amigos para amigas era uma situação inconcebível. O vice-versa sempre foi bem aceito socialmente, independente das qualidades ou profissão da apresentada.

Numa apresentação formal o nome completo da pessoa é referido logo após o maior título ou posição do apresentado. Não há necessidade do uso dos títulos de quem esta recebendo a apresentação, pois é obrigatório que a pessoa seja íntima para formalização de uma apresentação. Nos caso em que houver necessidade de colocar em contato pessoas desconhecidas vale a regra de apresentação de títulos bilateralmente.

- Beatriz, gostaria de apresentá-la ao comendador João Paulo Cardoso de Paiva e Sintra.
- Alberto, esta é a senhora à qual me referia, a deputada Maria Cristina Macedo.
- apresento a senadora Paola Travoglia ao doutor Amâncio Carlos Marcondes Rodrigues.

Apesar de serem considerados títulos, evite termos como boa-bisca, caça-dotes, escroque, bom-vivant e social-climber. As profissões respeitadas podem ser consideradas títulos. As não respeitáveis também, mas devem ser usadas com parcimônia e em locais adequados. Nunca apresente pessoas pelo grau de parentesco – seu ou de quem quer que seja. A apresentação, entre cavalheiros, de primas ou primos é sempre acompanhada de sorrisos marotos. Você não precisa passar por isso.

É inaceitável que o título seja suprimido em apresentações formais. Nunca referir apenas os nomes completos das pessoas. Imperdoável mesmo é o uso apenas do primeiro nome. Desta forma quando a pessoa não tiver um título você deve optar por não apresentá-la ou inventar um. Caso opte pela invenção procure recordar o título em uma próxima apresentação, para evitar gafes das pessoas não compreenderem que conhecem as mesmas pessoas. Caso seja imprescindível o encontro entre duas pessoas, destituladas, evite apresentações. Procure informalmente colocá-las em contato na saída do clube ou de um shopping, tipo anúncio de desodorantes.

A marchand Noemia Spolidoro pode não ser a mesma pessoa que a geneticista Noemia Spolidoro. Em sociedade o que vale é o título. Ainda mais num mundo de economia de nomes e sobrenomes, como nos dias de hoje. Recordo-me de ter sido, erroneamente apresentado, a duas Ana Silva em uma festa de subúrbio. Sem os títulos não tive como recordar num próximo encontro. Muito desagradável.

Finalmente gostaria de lembrar aos cientistas de plantão que as regras sociais ainda não incorporaram a facilitação científica na apresentação de autores. Portanto não é possível suprimir nomes das pessoas ou a utilização do termo latino et.al depois do terceiro sobrenome. Assim, o barão de Sartório Novo deverá ser apresentado como Carlos Eugênio Gabriel Rafael Alberto Paulo Rodrigo de Mello Franco Barbosa de Paiva Queiros Macedo de Medeiros Vasconcelos Mota. Nem tente referir-se a ele como Carlos Eugênio et.al.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Escolha, pois, a Vida.

Muito estranho o tema da Campanha da Fraternidade 2008. Sem entrar na questão religiosa, que sendo fruto de um ato de fé não oferece um campo promissor à discussão, pode-se considerar no mínimo intrigante este tema para uma campanha da Igreja.

Intrigante porque a proponente não vislumbra ou aceita o oferecimento de duas posições, igualmente satisfatórias, que proporcionariam a possibilidade de escolha. Mesmo na questão específica do aborto, a Igreja deveria reconhecer na interrupção da gestação uma opção aceitável para, depois, falar em escolha. Na ausência de proposições plausíveis para eleição a afirmativa escolhida para a campanha soa como ordem – escolha a Vida!

Examinando a questão de uma forma mais ampla, não restrita ao aborto e eutanásia, como aceitar que exista escolha se não é oferecida uma alternativa? A não escolha da Vida, na sua manifestação primordial, implica o quê? Não viver. Mas o que é o não viver? Dada a complexidade desta condição, as discussões se afastam ou ignoram a sua existência. De uma maneira errônea os aspectos culturais, morais e filosóficas tendem a contrapor sempre a Vida à Morte. O que não é uma verdade na sua essência.

A opção da Morte só existe depois do estabelecimento da Vida, sendo, deste modo, uma conseqüência e não uma contraposição. Assim, o primeiro ato, início da Vida, não é acompanhado de escolha. Reveste-se um determinismo inquestionável, para os mortais. O exercício de escolha ou autonomia não existe, de fato. Pelo menos não para o ser que carregará a Vida. Diversos outros personagens participam do cenário relacionado ao ato de iniciar uma Vida, menos o ator principal. Este só adquire consciência muito tempo depois. E, nesta tomada de consciência não lhe é oferecido nenhum direito de escolha.

Portanto, ao longo de todo o período, passa-se a conviver com uma escolha não feita e que deve ser vivida da melhor forma possível. Se esta for a opção. A partir do momento que o sujeito compreende as questões relacionadas à Vida a escolha deveria passar a ser sua. A afirmativa de que a Vida é uma benção é por demais simplória, pois retira completamente a possibilidade de autonomia das pessoas em não fechar a questão desta forma. Por isso, a escolha que sobra restringe-se a viver bem ou não viver bem. E criar o conceito do bem é uma das questões mais delicadas, na natureza humana.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Partir.


Queria um dia poder chegar.

Para sentir o calor do abraço, e
deitar à sombra do já vivido.

Para contar de lugares desconhecidos, e
lembrar de dias ainda por vir.

Para tirar o peso do quase tudo, e
aproveitar os tempos de quase nada.

Para tecer a teia da consciência, e
saber das estórias sem fim.

Para encontrar aquele que fui, e
brincar com os sonhos que não sonhei.

Para fazer de conta que já parti, e
ficar para sempre.

Queria um dia poder chegar.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Ressaca de carnaval.

- Alô?

Ele não tinha reconhecido o toque do celular, por isso a demora em atender. Porque será que estava com essa música estranha? Ele ta de olho é na butique dela, ele ta de olho é na butique dela...

Do outro lado uma voz estranha e esganiçada insistia na chamada.

- Alô? Anselmo? É você, fala aí beinhê.

Anselmo? Fazia muito tempo que ninguém lhe chamava pelo primeiro nome. Anselmo Carlos de Meira Carvalhaes era o que estava escrito na certidão de nascimento. Ele optara por Carlos. E agora, alguém chamava do além o Anselmo. Quem?

- Anselmo, é Gladys.

E este sotaque, ainda por cima. Glêidis, quem seria esta tal de Glêidis.

- A colombina do baile de ontem à noite. Aquela de vermelho e preto. A colombina flamenguista. Tá lembrado, gatão?

Com o peso na cabeça ele mal se lembrava quem era. Como poderia se lembrar de uma colombina. Flamenguista e chamada, como ela mesma pronunciava, Glêidis. De que baile a moça estava falando? Não havia ressaca pior que a de gim. Havia sim, a de gim barato.

- Anselmo, você ainda tá aí? Responde, vai?

Ele nem sabia onde era o ali. Como poderia estar. Não reconhecia o quarto. Se é que era um quarto. A janela deixava entrar apenas uma tênue luminosidade. A cama de casal não era sua. Nenhum objeto conhecido. Definitivamente ele estava num ali que não sabia qual.

- Gatão, lembra que eu mudei o toque do seu celular? Pelo refrão da minha amiga Severina.

Então foi assim. Mais uma vez teria de mudar o número do celular. A vontade dele era atirar o aparelho longe e nunca mais lembrar de nada. Todo o carnaval era a mesma coisa. A promessa de não repetir os erros e a repetição, piorada, de todos eles.

- Você falou que eu podia ligar. Pra gente combinar o almoço. Já são três da tarde.

Almoço? Três horas da tarde? Do que esta mulher está falando, meu Deus. Mesmo acordado não lembrava de nada. Quanto mais de promessa de almoço. Primeiro tinha de descobrir onde estava. Pelo menos sabia quem era. Um trabalho a menos. A posição dos móveis, a luz que entrava pela porta do banheiro e as toalhas penduradas lhe deram a certeza de estar num hotel. O papel em cima do criado mudo confirmou – Hotel Negresco.

- Ah, vai. Me responde, Anselmo. Eu queria tanto te encontrar de novo. Apesar do pouco tempo já tô com saudades. Não me deixa falando sozinha. Por favor, gatão?

A vozinha melosa e entrecortada caiu como um banho de água gelada. Acordou de vez. Nada era pior, para ele que uma mulher chorosa. Imediatamente lembrou da mãe pedindo para ele não viajar. Tanto tempo tinha passado.

- Olá, Gladys. Você me acordou. Por isso estava confuso. Claro que lembro. Quanto ao almoço, que tal às quatro no Fina Flor. Você sabe onde é?

Sem escutar a resposta os seus olhos se encheram de lágrimas. Aquela voz não lhe saia do pensamento – Carlos não vá. Eu sei que nunca mais vou te ver.

Não tinha como fugir do destino. O remorso lhe acompanharia por toda a vida. As ressacas pós-carnaval poderiam abater a dívida, um pouco. Saldar nunca.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Influências literárias.

Quem sai aos seus não degenera, refere o célebre ditado popular. Eu também não nego as minhas raízes. Literariamente sou formado pela escola elementar de comentários. Iniciei sutilmente como observador, enveredei pelo apelo cômodo de escrever em reposta às idéias alheias e, um pouco mais tarde, desenvolvi o gosto pelo embate por meio das letras.

Da mesma forma que Joyce, que tendo vivido fora do país natal durante a maior parte da vida adulta, fez das experiências irlandesas o fundamento da sua obra com ambientação e temática essencialmente enraizadas em eventos familiares e amizades precoces. As reminiscências marcam indelevelmente os grandes escritores. É muito difícil fugir das origens na manifestação literária.

A poetisa portuguesa Florbela Espanca desenvolveu uma métrica e linguagem poética que não se enquadram em nenhuma corrente dominante. A construção de uma mitologia lírica muito própria revela sentimentos e desejos particulares que culminam na exposição declarada da sua intimidade. Na vanguarda do seu tempo, a singularidade da obra de Florbela, não passou incólume às influências. Admiradora de Júlio Dantas, Guerra Junqueiro, José Duro e, sobretudo, de Antonio Nobre conseguiu conciliar a renovação com a tradição poética portuguesa. Mais uma vez os reflexos primitivos da formação literária contribuem para sedimentação da obra.

Desta forma, como eu – pobre aprendiz na lida de escrevente – posso negar a grande influência do começo. A personalidade de aproveitador literário ainda está sólida. Não consigo perder a oportunidade, ver um bom texto, que mereça continuidade ou resposta, e me calar. É mais forte que o discernimento de certo ou errado. Algo mesmo visceral, instintivo. A veia repentista toma as rédeas.

Por isso, em algumas oportunidades os leitores ainda terão de conviver com embates. Quando o caminho literário estiver consolidado, talvez, este recurso possa ser abandonado. Saliento o talvez, pois no fundo não tenho gosto que eles desapareçam. Não é uma parte tão ignóbil que necessite ser definitivamente esquecida. E ainda existem os amigos fiéis que sentem saudade.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Breakfast at Tiffany’s.

Na semana passada, durante um almoço, um dos convivas elogiou o calçado de uma jovem senhora, comentando que ele lembrava os sapatos usados pela atriz Audrey Hepburn. Realmente, apesar de nem todos concordarem, uma das qualidades da referida pessoa é a forma correta de combinar trajes.

Para prestar uma homenagem me ofereci para dedicar um post a esta questão, até como forma de afronta a um desafeto que cisma em qualificá-la de “tão deselegante como uma médica”.

Só que, depois de saber do dia e programa de meninas, acho que me arrependo da proposta. Sem elogio e sem post.

Bonequinha de Luxo?

Ora vejam só!

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Preocupação.

Ao visitar o blog de um amigo, ontem e hoje pela manhã, notei uma modificação estranha. No dia anterior ele havia postado um texto sobre patos do casamento coreano, a importância e o significado destes objetos nas cerimônias nupciais. Ontem o texto desapareceu juntamente com outros três, cujo tema versava sobre a história de um paranóide. Permanecem apenas os dois comentários. No início não me preocupei com o fato, pois imaginei tratar-se de alguma modificação de design ou correção ortográfica nos textos.

A permanência destas condições, ainda hoje, causou-me estranheza. Lendo com cuidado as duas mensagens pode-se notar alguns fatos preocupantes, nas entrelinhas. O comentário de Mister M sugere que a lentidão da publicação da história do paranóide causa um efeito devastador. Ao ponto de “matar de curiosidade”. Qual o real significado desta afirmação?

Pode-se obter uma indicação nos escritos do filósofo vietnamita Ken Shou. A sua obra Mais sei de mim do que de ti ele faz uma alusão ao pecado da curiosidade e as suas formas de punição. Para este autor o estímulo da curiosidade seria a porta de entrada para os grandes pecados da humanidade. O homem, ao nascer, recebe as energias nem e vem no seu estado natural.

O nem é uma energia pura que mantém a mente humana afastada da curiosidade. Pelo uso continuado de mantras associados a nem – nem quero saber, nem me conta, nem sei o que aconteceu – o fluxo energético contínuo impede a estimulação do núcleo hipotalâmico do pecado.

O vem é uma energia corrompida, com fluxo inconstante, que impulsiona as pessoas para a curiosidade. Abundante na área pré-temporal, a sua estimulação induz comportamentos adulterados, com rituais comandados por palavras de ordem – vem cá que eu tenho uma nova para te contar, vem saber as últimas, vem me contar um segredo - culminando na liberação dos pecados.

A manutenção do equilíbrio interior depende do balanço entre nem e vem, alcançado pelo programa tântrico nem vem, que não tem. Apesar de não descrever claramente ameaças para os estimuladores do vem, Ken Shou descreve que os antigos sábios ensinavam que - aquele que estimula o vem chegará ao seu destino mais rápido.

Já o segundo comentarista, explicitamente, se apodera da produção do amigo e refere que “vai faturar publicando um livro com capítulos tão bons assim”. Como interpretar esta afirmativa sem levar em consideração que o autor conhece algum fato relacionado com o desaparecimento dos textos?

Por isso, estou muito preocupado. Acho que devemos criar uma equipe de contra-espionagem para proteção do amigo. Quem tiver notícias, por favor, me avise. Temo que ele esteja em perigo. Que ele tenha se tornado um troféu para as máfias coreana e chinesa.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Confissão.

Já tendo me dedicado, em outro post a cobiça, devo revelar mais esta faceta pecaminosa. Sim eu quase tenho inveja. Não como um sentimento pejorativo tão grande que renegue as virtudes alheias e somente destaque os defeitos. Apenas um pequeno desejo pelas habilidades de outras pessoas.

No caso em questão o objeto da diminuta inveja foi o vídeo do Otávio. Mas como ele próprio procura por pontos positivos, até em situações desabonadoras, vou me levar por este exercício e declarar que este deslize permitiu a construção de uma pequena obra de arte. O meu próprio vídeo.

Pronto, já estou com dois pequenos pecados confessados. Ou devo incluir a soberba, como o terceiro?

Direção de arte: Odilon
Imagens: Madri (2005)
Trilha sonora: Serenade (Haynd) André Rieu (2001)
Cortesia Roberto (Musikal)